AYAN ARIEL
Editoria de Cidades
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), chegou em Boa Vista para averiguar a situação do fluxo migratório na capital e o clima conflituoso que vem ocorrendo em Pacaraima desde sexta-feira (7).
Porém, ao que parece, Mourão não deve ver imigrantes em situação de vulnerabilidade social nas várias ruas da capital. A Folha foi até alguns pontos da cidade onde é comum ver imigrantes pedindo ajuda ou vendendo produtos e também em locais onde eles ficam acampados ou sentados e constatou que os venezuelanos sumiram desses locais.
Um desses principais pontos de concentração é em frente à Rodoviária Internacional de Boa Vista, localizada no bairro 13 de setembro, zona norte de Boa Vista, onde há dois abrigos temporários instalados nas proximidades. Ali é comum ver várias pessoas acampando e dormindo na área frontal do terminal. Porém, na manhã desta quarta-feira (12), quase ninguém estava nas ruas ou nas proximidades.
Uma das venezuelanas com quem a reportagem da Folha conversou, Dilian Acosta, de 45 anos, que está há cinco meses vivendo nas ruas de Boa Vista com a filha de três anos, por falta de vaga, contou que espera uma vaga nos abrigos: “Eles me falavam que não tem vaga, que está muito lotado e por isso venho buscando ficar até nas pracinhas”, disse a mulher, que veio de Tigres, estado venezuelano de Anzoátegui.
Vinda de Anaco, também em Anzoátegui, Carmem Martinez, de 28 anos, também se encontra em vulnerabilidade social nas vias da capital. Ela até chegou a conseguir entrar em um dos abrigos da capital, porém acabou saindo e agora vive na rua.
“O pessoal do Exército pediu para sairmos de onde estávamos, mas não nos deram orientações e não sabemos para onde vamos. Agora vamos tentar vaga em outro abrigo”, declarou.
OUTROS PONTOS – A reportagem também foi a alguns semáforos onde é comumente visto muitos refugiados venezuelanos, mas não encontramos ninguém nem pedindo esmola nem vendendo produtos
OUTRO LADO – Por meio de nota, a Força-Tarefa Logística Humanitária informa que não realizou qualquer ação extraordinária de movimentação de migrantes fora dos padrões habituais, ou seja, ligados aos fluxos regulares de interiorização e abrigamento.
A nota ressalta que a Operação Acolhida não tem competência legal nem jurisdição para retirar pessoas desassistidas das ruas e restringe suas ações cotidianas à orientação para que, voluntariamente, pessoas necessitadas possam ser acolhidas pelo Posto de Recepção e Apoio da Rodoviária de Boa Vista, onde podem pernoitar, alimentar-se e higienizar-se.
Comerciantes falam sobre situação dos venezuelanos
Alguns empresários que têm negócios nas proximidades da rodoviária de Boa Vista falaram com a reportagem da Folha sobre essa suposta retirada de venezuelanos daquela área e a rotina vivida ali.
Dono de uma distribuidora, Hugo Carvalho, de 52 anos, relatou que o movimento do estabelecimento caiu por conta de uma onda de crimes que supostamente estaria ocorrendo naquela região.
“Eu queria que o vice-presidente passasse aqui amanhã sem ser uma visita formal para ver o que vem ocorrendo aqui. Já tive muitos prejuízos aqui, por conta disso, e até me roubaram”, contou o empresário.
Um funcionário de uma loja de roupas que funciona na frente da rodoviária, que não quis se identificar, afirmou que antigamente havia muitos venezuelanos que dormiam em frente da loja. Segundo ele, a situação foi diminuída quando a polícia começou a orientá-los a ir para outros lugares.
“Como eles dormiam aqui, tinha muito lixo na manhã seguinte, às vezes até comida… era muita sujeira. Essa situação ocorria durante o ano passado todo e a gente tinha que lavar todo dia”, declarou.
Prefeito de Pacaraima confirma retirada de venezuelanos
Uma visita ao município de Pacaraima, no norte de Roraima, também está prevista na agenda do vice-presidente Hamilton Mourão. Sobre isso, o prefeito da cidade, Juliano Torquato, afirmou que os refugiados venezuelanos estão sendo retirados das ruas daquela localidade e até uma limpeza com água e sabão está sendo feita.
O prefeito também pontuou que, por hora, as manifestações dos moradores de Pacaraima foram paralisadas e diz não saber de novos movimentos. Ele também apontou que a insatisfação da população tem sido muito grande.
“A gente sabe que já tratamos dessas situações que vêm ocorrendo aqui, e infelizmente nada foi feito. Há uma insatisfação com o resultado da reunião que teve nesta terça-feira (11), com as autoridades do estado, mas acredito que, se as autoridades trabalharem, será tudo solucionado de forma muito simples”, concluiu Torquato.