A Polícia Federal, em Roraima, já deportou 223 indígenas à Venezuela, mas muitos deles voltaram, entre eles 12 índias idosas da etnia Warao, que vieram atrás de comida. Elas já conseguiram se estabelecer na Capital e alugaram uma casa no bairro São Vicente, zona Sul. O grupo sobrevive de doações e da venda de peças artesanais.
Ontem pela manhã, as índias pediam dinheiro e vendiam cestas e bolsas de palha no semáforo das avenidas Terêncio Lima com Glaycon de Paiva, no Centro. Após inúmeras tentativas, elas decidiram falar com a Folha. Admitiram que já foram deportadas este ano pela Polícia Federal, mas decidiram voltar ao Brasil porque, segundo elas, não há o que comer onde moram.
A maioria dos índios Warao vive no Parque Nacional Mariusa, no Delta do Rio Orinoco, Nordeste da Venezuela. A região é de área alagada e as casas são de palafitas. Os índios alegam que a crise no país governado pelo presidente Nicolás Maduro provocou uma escassez de comida jamais vista antes.
“Por isso viemos para cá. Viemos atrás de comida. Nossos maridos, que são mais fortes, ficaram para cuidar da comunidade, de nossos filhos e netos. Nós não temos data para voltar. Só voltaremos quando tiver comida para o nosso povo, que hoje passa fome”, lamentou Rosalina Sanchez, de 58 anos.
A última deportação dos índios venezuelanos ocorreu em dezembro do ano passado. A Polícia Federal encontrou 166 índios em Boa Vista e Pacaraima, município roraimense na fronteira Norte do Brasil com a Venezuela. Eles viviam em casa abandonadas, nas ruas e praças públicas.
A PF justificou as deportações, alegando que os estrangeiros estavam sem documento regular, exercendo atividade remunerada, pedindo esmolas ou vendendo artesanatos nas ruas e semáforos da Capital, o que é incompatível com a condição de turista. (AJ)