Cotidiano

Indígenas ameaçam bloquear BR se acordo não for cumprido

Pais e alunos pedem merenda e transporte escolar para as unidades de ensino indígena da região do Alto São Marcos

Cerca de 30 indígenas da região do alto São Marcos, em Pacaraima, sendo dez lideranças, estiveram em negociação junto à Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) para que haja uma solução definitiva quanto à falta de transporte e merenda nas escolas da região.

Eles contam que o Governo do Estado pediu um prazo de cinco dias para acertar as contas e, após nova visita das lideranças na quarta-feira, 24, será definido se haverá ou não o fechamento da BR-174 norte.

No início deste mês, os indígenas bloquearam a rodovia no KM 693, na altura da comunidade Boca da Mata. Apesar de não haver números oficiais, a estimativa é de que quase 200 pais e alunos participaram do ato, que se encerrou dias depois, após o Governo do Estado prometer que abasteceria a escola com combustível e alimentos.

Entretanto, o professor de uma das escolas da região, Francisco Souza, contou que as promessas não se concretizaram. “A merenda que nos deram durou uma semana. Nos disseram que haveria mais insumos após o encerramento do bloqueio, mas não foi o que aconteceu. Mesma coisa com o transporte. A gasolina funcionou por um pouco mais de uma semana. Depois disso, prometeram que um novo carregamento seria cedido na terça, o que não aconteceu também. Estamos passando por necessidades desde o início do ano, mas isso já chegou em um ponto de total descaso”, comentou.

A coordenadora estadual da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR), Edite da Silva Andrade, contou que os apelos de indígenas por transporte escolar e merenda já vêm de muitos anos, com o estopim sendo representado pelo bloqueio da BR-174 no início do mês.

“Nós lutamos por uma educação digna para nossos estudantes há anos. Possuímos ações ajuizadas no Ministério Público Federal e Estadual desde 2015. Passamos a atual gestão inteira tentando trazer o mínimo necessário para aprendizado de alunos em comunidades indígenas. Acreditamos no poder público, e vemos que mesmo com tanta frustração ele ainda pode se sensibilizar. Vemos que pelo menos existe a vontade de se fazer concurso público na educação voltada para indígenas, mas o resto ainda é precário”, comentou.

Edite destacou que as dificuldades que alunos enfrentam em trajetos para as escolas prejudicam a capacidade cognitiva de aprendizado, o que diminui rentabilidade e pode prejudicar gravemente questões como aproveitamento de ano letivo e capacitação para o ensino médio.

“Alunos estão caminhando dois quilômetros por dia para irem até as escolas todo santo dia. Você acha que um aluno que é submetido a isso tem condições de desenvolver sua capacidade de aprendizado? Isso sem falar na falta de merenda, ainda por cima, que sempre chegou pela metade, incompleta, mas nos últimos meses, antes do bloqueio, ela simplesmente não vinha mais. Isso nos faz ficar preocupados com o encerramento deste ano letivo, pois não sabemos se os alunos possuem condições de terminar ele”, concluiu.

OUTRO LADO – A reportagem da Folha entrou em contato com o Governo do Estado, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. (P.B)