Cotidiano

Indígenas contestam dados da Sesai e propõem criação de subdistrito

O representante dos Yanomami do Amazonas, relatou que pelo menos 22 comunidades do Rio Marauiá, localizadas no município de Santa Isabel do Rio Negro, tem vivenciado abusos, negligência e abandono à assistência de saúde

Indígenas representantes das comunidades do Território Yanomami dos estados de Roraima e Amazonas discutem estratégias e políticas do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI), durante a 31ª Reunião Ordinária do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (CONDISI/YY). O encontro que acontece no Centro de Convenções Elim, no bairro Paraviana, encerra nesta segunda-feira (29).

Representante dos Yanomami do Amazonas – região do Médio Rio Negro, o professor Otávio Ironasteri Yanomami, relatou que pelo menos 22 comunidades do Rio Marauiá, localizadas no município de Santa Isabel do Rio Negro (AM), tem vivenciado abusos, negligência e abandono à assistência de saúde.

“Estamos abandonados com falta de medicamentos, de médicos. Tem comunidade que desde antes da Covid espera por um dentista. Nossas crianças estão morrendo sem ter direito a assistência”, afirmou.

Ele é coordenador geral da Associação Yanomami Kurikama, que aprovou em Assembleia realizada no mês de setembro, a formação de um grupo de estudos entre indígenas e organizações, para articular novas estratégias de atendimento em saúde no Amazonas. Uma delas seria a criação de um subdistrito de saúde no Estado, vinculado à base, que é em Roraima.

“Hoje há um custo altíssimo para manejar servidores, remédios e equipamentos, via aérea, para o atendimento dos Yanomami no Amazonas e cujo serviço não consegue atendê-los a contento por conta da má gestão logística e administrativa, principalmente. A distância e a dependência da autorização de voo em Boa Vista para remoção de pacientes em estado grave tem comprometido a sobrevivência de muitos indígenas, uma vez que trata-se de um território de dimensões gigantescas”, relatou o indigenista Sílvio Cavuscens, coordenador geral da Associação Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), que atua há quase 30 anos na região do Médio Rio Negro no Amazonas.

Ele entregou aos conselheiros e ao CONDISI YY um documento descrevendo os problemas relacionados ao atendimento de saúde feito pelo Governo Federal na região.

Os indígenas aproveitaram também para rebatar as informações a respeito do número de óbitos ocorridos na região do Marauiá. Os dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) apresentaram inexistência de casos de covid-19 dentro do território entre maio e agosto 2021. No entanto, um levantando feito em campo pela Secoya, identificou diversos casos não notificados em Xapono e Calhas de Rios Distintos.

O primeiro Yanomami vítima da Covid-19 foi um jovem de 15 anos, falecido em abril de 2020, em Boa Vista. Oito meses depois, em novembro de 2020, o relatório “Xawara: rastros da Covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado”, elaborado pela Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana e pelo Fórum de Lideranças da TIY, apresentou o total de pessoas contaminadas pela doença no território Yanomami. Segundo o relatório, entre agosto e outubro, o número de casos de covid saltou de 335 para 1.202, sendo que até aquele momento haviam ocorrido 23 óbitos pela doença.

Eles afirmam, que os casos de Covid-19 podem ser muito maiores, visto que a Sesai, até o momento em que o citado relatório foi elaborado, havia testado apenas 1.270 Yamomami de uma população de mais de 28 mil.

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