O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, voltou a denunciar para a reportagem da Folha, a possibilidade iminente de conflito entre garimpeiros e Yanomamis, na região do Homoxi, Terra Indígena Yanomami.
Ele disse que esta semana um jovem Yanomami foi ferido na mão e no rosto por garimpeiros, durante uma discussão dentro das comunidades Yanomami.
“É um retrato claro do que sofremos dentro de nossas casas, no meio da nossa família, estamos cansados de sermos feridos pelos invasores , cansados de sermos machucados e mortos”
Após a confusão, o jovem indígena estaria internado no posto de saúde do Surucucu.
“Os garimpeiros atiraram contra o rapaz, na mão e na orelha e ele está bastante machucado. Estou muito chateado. Tanto que pedimos para retirada dos garimpeiros e eles ferindo nós, dentro da nossas comunidades, das nossas casas e colocando o povo Yanomami de joelho” disse o líder indígena.
O povo Yanomami tem resistido a violentos e constantes ataques em suas terras e temem a possibilidade de um conflito direto com invasores. No local, mais de 20 mil garimpeiros se instalaram nos últimos anos. O território é homologado desde 1992, o que dá aos indígenas o direito à proteção do território, localizado entre os estados de Roraima e Amazonas. O que se vê, no entanto, é o abandono da fiscalização e o consequente aumento das invasões.
“Nós vivemos com medo de ser morto, de ser extinto família inteiro pelos garimpeiros. Até agora o governo federal não mandou nenhuma força tarefa e eles estão lá nos ferindo e colocando em risco o povo Yanomami. Até quando seremos feridos pelos garimpeiros? É muito triste e revoltando isso. Eles estão armados com munições e pedimos segurança. Nossa terra é homologada e demarcada e temos queremos ser protegidos”
Histórico
No último dia 2 de outubro, a Hutukara Associação Yanomami denunciou o assassinato de uma liderança. O indígena identificado como Cleomar foi morto a tiros. Em nota, a associação contou que os disparos foram feitos por garimpeiros que pertencem a facções.
O motivo ainda não foi esclarecido, mas os indígenas dizem que uma das suspeitas é de que Cleomar estaria sendo acusado de furto pelos garimpeiros. No mesmo ataque, um adolescente indígena também foi baleado, mas sobreviveu. A bala atingiu seu rosto e passou por sua nuca.
Em um relatório realizado em parceria com o Instituto Socioambiental e lançado em abril deste ano, somente em 2021, os Yanomamis contabilizaram 15 ataques à Comunidade Indígena Palimiu e registraram, pela primeira vez, a presença de narcotraficantes ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) atuando na região.
Segundo investigação da Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) do sistema prisional de Roraima, os criminosos são contratados como seguranças e vigias de garimpos e acabam entrando em conflito entre si, por acusações de roubos. Com a presença deles, o uso de drogas também aumentou no território.
De acordo com dados do Amazônia Minada, projeto do InfoAmazonia que monitora os requerimentos para exploração de minérios registrados na Agência Nacional de Mineração (ANM), a TI Yanomami é a 3ª no ranking de pedidos de mineração.
Já foram solicitados 3.676.125 hectares. São 501 pedidos desde 1974 e estão válidos. Entre 2018 e 2022 foram 13 solicitações. Em 2017 apenas duas e em 2016 apenas uma.
Procuradora alerta para risco de confronto
A subprocuradora-geral da República, Eliana Torelly, alertou o Ministério da Defesa sobre um “risco iminente de confronto de grandes proporções” entre garimpeiros e indígenas Yanomami em Roraima.
Torelly pediu às Forças Armadas que cedam helicópteros para uma operação de urgência na região do Rio Uraricoera, no Noroeste do estado.
Conflitos anteriores
Em maio do ano passado, já houve conflitos com mortes entre garimpeiros e indígenas no local. As disputas são antigas.
Permanentemente, garimpeiros tentam invadir áreas de proteção indígena em Roraima.
Com área equivalente a 10 mil campos de futebol, a terra ianomâmi abriga 26 mil indígenas em mais de 30 aldeias e quase 30 mil garimpeiros.