Com o fechamento do posto de gasolina na Venezuela, alvo de protesto de indígenas daquele país, a venda clandestina de combustível venezuelano se intensificou em comunidades indígenas de Pacaraima, município a 220 quilômetros da Capital pela BR-174, na fronteira do Brasil com a Venezuela, Norte do Estado. A Folha foi no fim de semana à região e constatou a prática ilegal.
Como na cidade de Pacaraima não há posto de gasolina, os turistas brasileiros não têm outra alternativa senão recorrer a pontos clandestinos de venda de combustíveis, tanto do lado venezuelano quanto do lado brasileiro. Um desses pontos fica na região de Surumu, a 200 quilômetros da Capital pela BR-174. O povoado, com pouco mais de 900 habitantes, pertencente ao Município de Pacaraima, fica localizado à margem esquerda do rio Surumu, porta de entrada para a terra indígena Raposa Serra do Sol.
Na vila, o quintal de uma casa de madeira funciona como posto de combustível. Os veículos estacionam a lado da casa, onde os índios vendem a gasolina venezuelana em garrafas pet ou corotes de 10 e 20 litros. O abastecimento é rápido. Eles colocam a mangueira, levantam e a gasolina escorre para o tanque. Sem fiscalização, a venda ilegal ocorre a qualquer hora do dia.
A Folha flagrou o abastecimento clandestino na manhã do domingo passado, dia 30. O índio abastece um carro sem se preocupar com a polícia.
Um indígena da região deu detalhes de como vem ocorrendo a venda de gasolina venezuelana. Revelou que os atravessadores, também conhecidos como “pampeiros”, continuam chegando às comunidades pelas estradas “cabriteiras” no meio do lavrado. Poucos se arriscam a contrabandear o combustível pela BR-174.
Como o posto de combustível para os brasileiros na Venezuela está fechado, a gasolina do país vizinho ficou mais cara nas comunidades indígenas. O índio disse que antes comprava o litro a R$ 2,20 e o revendia a R$ 3,00. Mas desde que o posto fechou, a gasolina ficou escassa e o litro subiu para R$ 2,80 e agora é revendida a R$ 3,50 nas comunidades indígenas, preço muito próximo do que é comercializado na Capital. “A gente tem que ganhar em cima, claro. Por isso aumentamos o preço, mas quando o posto na Venezuela voltar a abrir para os brasileiros, o preço voltará ao normal, R$ 3,00 o litro aqui na comunidade”, frisou o indígena.
A venda ilegal de combustível venezuelano também ocorre na comunidade indígena de Sorocaima, a 15 quilômetros da sede de Pacaraima, à beira da BR-174. A Folha foi à região e conversou com um índio, que indicou dois pontos de venda de combustível. Nos locais indicados, os indígenas informaram que naquele momento não tinham gasolina, mas aguardavam a chegada dos atravessadores a qualquer momento.
O descaminho não ocorre apenas nas comunidades indígenas. Boa parte do combustível consumido em Boa Vista também vem da Venezuela. O preço do litro na Capital roraimense varia de R$ 3,80 a R$ 3,95. No país vizinho, em Santa Elena do Uairén, o litro sai a centavos de real.
O lucro alto pode justificar o risco que corre quem dirige os “carros bomba”, apelido dado às caminhonetes com dois tanques grandes adaptados que atravessam a fronteira para “puxar” combustível e revendê-lo na periferia de Boa Vista.
A Folha já fez várias matérias denunciando a ação dos contrabandistas. A Polícia Federal fez operação, prendeu vários motoristas e apreendeu carros. Mas a prática criminosa não para na fronteira Norte do Estado. (AJ)
Contrabandistas mudam de rota para despistar a polícia
Para driblar a polícia, atravessadores de combustível venezuelano mudaram de rota e agora utilizam várias estradas no lavrado, por trás do posto de fiscalização na BR-174, na fronteira dos dois países. Os “pampeiros” agora passam por comunidades indígenas, onde a fiscalização quase não acontece. A Folha flagrou, na manhã de domingo, dia 30, “carros bomba” subindo e descendo as serras ao Norte do Estado.
Um dos caminhos, talvez hoje o mais movimentado, é conhecido como “estrada do Miang”. Ela passa próximo ao lixão de Pacaraima e vai até a comunidade indígena de San Antonio del Morichal, em Santa Elena de Uairén. No domingo pela manhã, a Folha percorreu a estrada e confirmou que se trata de rota de contrabando. Um dos “pampeiros” ainda acenou para a equipe de reportagem.
Já do lado do Brasil, a estrada do Miang também atravessa comunidades indígenas e se perde no lavrado. A polícia de Pacaraima já investiga a ação desses contrabandistas que, além da gasolina, também carregam produtos alimentícios, materiais de higiene, equipamentos eletrônicos, drogas e até armas, segundo fontes policiais. (AJ)