A Polícia Militar promoveu, na manhã de ontem, no auditório da Academia de Polícia Integrada Coronel Santiago (Apics), no bairro Canarinho, zona Leste, a abertura das atividades do projeto de capacitação pedagógica do Estágio de Procedimentos da Polícia Comunitária em Comunidades Indígenas.
Voltadas para membros de comunidades indígenas que atuam na parte de segurança pública, as ações do projeto terão duração de 20 horas/aula, tendo previsão de encerramento às 18h, desta quarta-feira, 25. Cerca de 200 indígenas das comunidades Canauanin, Pium, Cachoeirinha do Sapo, Manauá, Cumaru, Novo Paraíso, Moscou, Alto Arraia, Vista Alegre, Milho e Jabuti participam das atividades.
“Desde o dia em que a Polícia Militar começou a implantar a filosofia da Polícia Comunitária, houve uma solicitação das comunidades indígenas no sentido de sentar e discutir formas de como aplicar essa iniciativa nas comunidades indígenas. E nada mais justo do que ouvir os anseios dessa população, já que eles também são cidadãos roraimenses e, como tal, carecem de políticas de segurança pública de qualidade”, destacou o comandante da PM, coronel Dagoberto Gonçalves. A ação terá como foco mostrar um pouco da filosofia da Polícia Comunitária.
Conforme o comandante, a realização das atividades de capacitação é necessária, visto o delicado momento em que muitas comunidades indígenas vêm sofrendo por conta do aumento da criminalidade. “Aqui, nós elaboramos esse projeto em forma de estágio, no qual realizaremos alguns minicursos sobre a filosofia de Polícia Comunitária. A ideia é discutir maneiras de como esse instrumento pode ser aplicado, respeitando a peculiaridade de cada localidade, seja ela uma comunidade indígena, uma pequena localidade, áreas fronteiriça, entre outros aspectos. A nossa intenção é que essas discussões sirvam de preparação para a montagem de um conselho comunitário de segurança ou algo bem mais abrangente, como um grande conselho entre os órgãos de segurança e as comunidades indígenas, na questão da segurança pública”, frisou.
Especialista em psicopedagogia clínica institucional e membro do Grupo de Apoio e Proteção Indígena (GAPI), uma entidade sem fins lucrativos que atua na promoção da segurança pública dos povos indígenas, Kátia Macuxi é conhecedora dessa realidade. Para ela, a capacitação é mais uma arma para conter o avanço de mazelas enfrentadas pela população indígena no Estado.
“Hoje, existem problemas muito graves dentro das comunidades. Nós temos, por exemplo, a questão do alcoolismo, da entrada de drogas ilícitas, a prostituição e outras mazelas que assustam cada vez mais as comunidades indígenas. Nós acreditamos que somente com a prevenção é que poderemos minimizar esses problemas. E nós estaremos nos empenhando neste curso”, ressaltou.
Tuxaua da comunidade Vista Alegre, localizada na região do Passarão, na zona rural de Boa Vista, Alfredo de Souza, também acredita que a iniciativa pode representar mais segurança para sua comunidade. “Nós já temos a nossa guarda de vigilância montada e esse treinamento vem complementar o conhecimento dos nossos agentes, inserindo toda uma filosofia que é respaldada pela lei. Nós temos várias autoridades competentes nessa ação e o nosso pessoal precisa estar mais capacitado, visto que a violência dentro das comunidades indígenas tem crescido. É preciso combater esses fatores de frente. Então, acredito que essa ação é um passo positivo para a nossa comunidade”, comentou.
FILOSOFIA – Implantado de forma definitiva, em 19 de dezembro do ano passado, a Polícia Comunitária segue uma filosofia voltada para a diminuição da criminalidade, com participação da comunidade nas decisões da segurança pública. A ideia de implantação no Estado surgiu em 2005, época da gestão do então governador Ottomar Pinto, no entanto, os trâmites de sua implantação foram interrompidos com a morte dele, em 2007.
Reativado pela governadora Suely Campos (PP), a ferramenta foi implantada na Capital, no bairro Senador Hélio Campos, na zona Oeste. Segundo o comandante da PM, Dagoberto Gonçalves, a localidade foi escolhida após a realização de um estudo, sendo apontada como uma das mais caóticas, no que diz respeito à aplicação de medidas de combate à criminalidade.
De lá para cá, a iniciativa tem conseguido êxito, fazendo com que o programa ganhasse adesão em outros municípios do Estado. “Essa iniciativa tem tido tanto sucesso, que ela já se expandiu para o interior. Já temos em várias sedes dos municípios, onde a base de atuação está sendo nas escolas. Aqui, na Capital, lançamos bases em dois bairros e já aparecem resultados. Apesar disso, sabemos que ainda precisamos melhorar muito e acredito que essa união já demonstra isso. Só para se ter uma ideia, o Canadá, que é um país pioneiro na implantação da Polícia Comunitária, demorou mais de 20 anos para poder chegar ao modelo atual. Nós almejamos obter bons resultados com esse mecanismo”, frisou Gonçalves. (M.L)