Cotidiano

Índios Yanomami estão morrendo por falta de assistência na saúde

Nos três primeiros meses do ano, dois indígenas morreram ao serem picados por cobra e oito crianças, devido a diarreias e desidratação

Índios Yanomami da região de Surucucu, no Município de Alto Alegre, a Centro-Oeste de Roraima, denunciaram à Folha a negligência que vêm sofrendo em relação aos serviços de saúde. Eles relatam que somente nestes três primeiros meses do ano, dois indígenas morreram após serem picados por cobra e oito crianças, devido a diarreias e desidratação. Eles afirmam que a falta de transporte, material e profissionais contribuem para o agravo da situação.
O índio Júnior Hekurari relatou que, nos mês de janeiro, um homem foi picado por uma cobra e necessitou de materiais que não estavam disponíveis nas unidades de saúde indígenas. A única maneira de resolver a situação era trazer o paciente até Boa Vista, onde seria devidamente tratado, porém, devido à falta de helicópteros na localidade, ele morreu horas depois. “Ele não teve nem a chance de tomar uma medicação, pois nem isso tem nas unidades de saúde indígenas. O descaso já começa aí”, disse. 
Outro problema relatado por Hekurari é a falta de profissionais da saúde. “As equipes não são bem distribuídas. Quando necessitamos destes profissionais em situações de emergência, temos que ir buscá-los na comunidade mais próxima ou levar o paciente até eles”, disse. 
Devido à falta de materiais, profissionais e de logística, a situação se repetiu no mês seguinte. Hekurari relatou que novamente um indígena faleceu devido à falta de socorro. “Não podemos continuar nesta situação. Queremos um pouco mais de atenção para os nossos povos, afinal de contas, também somos humanos e temos as mesmas necessidades”, disse. 
O indígena relatou que a situação também afeta as crianças. Relatou que somente nos três primeiros meses do ano, cerca de oito crianças morreram devido às intensas diarreias e vômitos. “Não temos como tratá-las sem nenhum medicamento e sem o acompanhamento de um profissional. Por isso, o inevitável acaba acontecendo”, comentou. 
OUTRO LADO – A Folha entrou em contato com o Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (DSEI-Y) para pedir esclarecimentos em relação à situação relatada pelos indígenas, porém, não houve retorno até o fechamento da matéria. (I.S)