Cotidiano

Início das aulas é marcado por problemas

Em algumas escolas, estudantes foram liberados por falta de professores e merenda escolar; em outras, sequer houve aula

Vários problemas foram registrados no início do ano letivo na rede estadual de ensino, nesta segunda-feira, 23, deixando pais, alunos e até mesmo funcionários de escolas, na Capital e no interior, preocupados. As aulas, que começariam no dia 26 de janeiro, já haviam sido adiadas com a justificativa de que seria melhorada a estrutura das escolas e organizada a lotação de professores para atender à demanda dos mais de 74 mil alunos em todo o Estado.
Porém, no primeiro dia de aula de 2015, o processo de aquisição de gêneros para alimentação ainda está em fase de tramitação e parte das escolas está recebendo reparos elétricos e hidráulicos, além de pinturas. A desorganização irritou muitos pais de estudantes, que tiveram que pegar os filhos na porta das escolas duas horas depois de deixá-los nas instituições.
Na Escola Estadual Ayrton Senna da Silva, no Centro, os alunos foram dispensados cerca de uma hora após o início das atividades porque não havia merenda e nem professores em quantidade suficiente. “As aulas começaram sem coordenador. O diretor sequer foi empossado ainda. Não temos merenda nem professores suficientes, estamos com apenas duas assistentes de alunos pela parte da manhã. Acho que começou porque tinha mesmo que começar, mas foi uma confusão total”, afirmou uma funcionária da escola, que preferiu não se identificar.
Um estudante do 2° ano do Ensino Médio, que também não quis ser identificado, disse que se sentiu frustrado com a volta às aulas. “Tivemos só aula de português e matemática. Não tinha professor de Filosofia, Sociologia, nem de Geografia. É ruim começar assim, nem sequer tivemos intervalo, isso porque não tinha merenda”, disse.
Única entre todas as escolas da rede estadual que não começaram as aulas, a situação na Escola Severino Cavalcante, no bairro Pintolândia, zona Oeste, é ainda pior, pois a Secretaria Estadual de Educação e Desportos (Seed) informou que um novo calendário deve ser elaborado especificamente para aquela unidade, sem previsão para o início das aulas.
A Folha foi até a escola na manhã de ontem, por volta das 11 horas, mas não encontrou ninguém trabalhando na reforma do prédio. Ao redor, um matagal tomava conta do espaço. Além disso, várias carteiras escolares estavam empilhadas no pátio, assim como tijolos e cimentos, o que demonstra que a reforma ainda está longe de acabar. “No ano passado, ficamos mais de três meses sem aula por conta dessa reforma. Chegamos a ter aula de forma improvisada, na quadra, mas a instalação não aguentou e ficamos novamente sem aula”, afirmou a aluna Karina Santos.
Ela comentou que se sente prejudicada com a situação de abandono na unidade e tenta se transferir para outra instituição de ensino. “Estamos mais uma vez sendo prejudicados. O ano letivo de 2014 ainda nem foi finalizado aqui e, por esse motivo, ninguém consegue ser transferido”, reclamou.
No interior do Estado, escolas também registraram dificuldades
No interior do Estado, a situação em algumas escolas da rede estadual também foi semelhante. No Município do Cantá, Centro-Leste do Estado, as aulas na Escola José Aureliano da Costa foram adiadas por motivo de limpeza e reparos. O pai de dois alunos que estudam na unidade relatou que, ao chegarem lá, o local estava tomado por lixo e sujeira. “A gente vê que precisa de reparos. Tem sala em que o forro está caindo, os ventiladores não funcionam e algumas centrais estão jogadas do lado externo do prédio”, disse Rogério Brito.
O mesmo caso ocorreu na Escola Francisco Ricardo Macedo, no Município de São João da Baliza, Sul do Estado. Além da falta de professores, a unidade não recebeu merenda nem transporte escolar para fazer o deslocamento dos alunos. “Não tinha secretária nem diretor para atender a gente. Nossas crianças estão sem aula. O calendário já começou, mas não tem funcionário suficiente para atender à demanda. É um descaso com a educação por parte do governo aqui em Baliza”, lamentou a auxiliar administrativa Luciene Barbosa, mãe de aluno.
Em Alto Alegre, município localizado no Centro-Oeste do Estado, a situação foi inusitada. A mãe de dois alunos que estudam na Escola Sadoc Pereira denunciou que os filhos e outros estudantes entre 13 e 16 anos foram remanejados para o turno da noite, o que indignou os pais. “Vi que menores não podem estudar à noite, mas agora querem fazer isso. Os funcionários da escola alegam que não têm vagas suficientes, mas é impossível”, disse.
Governo explica situação das escolas
A Secretaria de Comunicação do Governo do Estado informou que a Escola Estadual Ayrton Senna será incluída no processo emergencial para pequenos reparos. “Quanto ao quadro de professores, a Seed [Secretaria Estadual de Educação e Desportos] finalizou a lotação desses servidores na Capital. A necessidade restante será suprida com a contratação de profissionais do quadro efetivo na modalidade hora-aula”, diz a nota enviada à Folha.
Sobre a Escola Estadual Severino Cavalcante, o governo esclareceu que a atual gestão está adotando providências para solucionar o problema da reforma. “Adiantamos ainda, que a unidade contará com calendário escolar diferenciado, com reposição de aula, a fim de atender aos 200 dias letivos, sem causar prejuízo ao aluno. O novo calendário será divulgado em breve à comunidade escolar”, afirmou.
Sobre a Escola Estadual Desembargador Sadoc Pereira, no Município de Alto Alegre, a Seed disse que vai apurar a informação sobre a matrícula naquela unidade e, se constatada alguma anormalidade, será imediatamente corrigida.
Quanto à Escola Estadual Francisco Ricardo Macedo, a Seed informou que está ajustando o quadro de professores e, se constatada a necessidade, será atendida pelo processo seletivo que contratará professores temporários para as escolas do interior. “A unidade terá calendário escolar diferenciado, que será apresentado à comunidade”, frisou.
Em relação à Escola José Aureliano da Costa, a secretaria disse que precisou entrar no processo emergencial de obras de recuperação “em razão das péssimas condições deixadas pela gestão passada, não tendo tempo hábil para a realização dos reparos necessários pelo governo”. “Os alunos da escola terão um calendário escolar diferenciado, que está sendo elaborado com os devidos cuidados para que nenhum estudante tenha prejuízo intelectual”, frisou. (L.G.C)