Cotidiano

Internados nos corredores, pacientes do HGR e da Maternidade pedem melhorias

Enquanto grávidas têm contrações em cadeiras de plástico na maternidade, pacientes dormem em macas enferrujadas no HGR

Todas as pessoas que precisam ir aos hospitais públicos do Estado estão acostumadas a encontrar pacientes alojados nos corredores devido à falta de espaço nas unidades. Situação confirmada pelos secretários de Saúde e até pela governadora Suely Campos (PP) desde que assumiram a gestão. A reportagem da Folha esteve no Hospital Geral de Roraima (HGR) e no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) e constatou mais uma vez o caos da saúde pública roraimense.

Em contato com pacientes, funcionários e visitantes, a equipe se deparou com muitas histórias. Em todas, os relatos apontam uma completa falta de estrutura, de medicamentos, além de um atendimento deficiente e superlotação.

No HMINSN, muitas mulheres ficam nos corredores enquanto sentem as contrações antes do parto. Uma delas, que não quis se identificar por ainda estar internada, disse que passou cerca de cinco horas na recepção da maternidade aguardando ter dilatação necessária para poder entrar.

“Eles fizeram o toque e disseram que eu ainda não estava pronta. Como a sala estava lotada, eles me disseram para retornar quando aumentasse. Mas eu sabia que não tinha condições de ir para casa e voltar depois, por isso fiquei e esperei sentada numa cadeira de plástico, com dor”, lembrou. Uma funcionária da Maternidade relatou a dificuldade enfrentada diariamente no local. “Quando há necessidade de vagas na sala de parto, pela manhã, as que estão só esperando a alta do bebê são postas para esperar nas poltronas no corredor. O volume de parto é muito grande e o centro obstétrico só tem uns 20 leitos. Às vezes, tem tanto parto que acho que vai acabar nascendo alguém nas cadeiras ou no chão. Precisamos de ampliação urgente! A cada ano piora mais. E os piores meses são de outubro para frente”, revelou.

Ela destacou a tristeza de ver tantas mães sem a devida assistência e disse aguardar ansiosamente pelo novo prédio do Centro de Referência à Mulher. “A superlotação é constante, mas nós fazemos o impossível para ajudar. O Centro de Referência está para sair daqui há muito tempo. Após a liberação daquele espaço, ganharemos mais leitos, mas tem demorado muito”, frisou.

Situação não muito diferente ocorre no HGR. Filha de um dos pacientes, Lidiane Souza disse estar com o pai internado na unidade há um mês. Questionada sobre a situação do prédio, ela desabafou. “Esse hospital está um caos! Gente por todos os lados, corredores do Pronto Socorro estão sempre cheios”, relatou à Folha.

Conforme Lidiane, as macas espalhadas pela unidade “são um perigo para os pacientes”. “Em cima dessas macas cheias de ferrugem ficam pacientes com pernas quebradas, feridas abertas, todos vulneráveis a infecções”, denunciou.

À reportagem ela disse ainda que a família tem tirado do próprio bolso o dinheiro para pagar a medicação do pai. “Faltam medicamentos sempre. Temos que comprar remédio para a pressão, fitas para aferir glicose, entre outros. Além disso, falta material para as cirurgias”, afirmou.

Os casos são muitos. A equipe encontrou pelos corredores outra paciente internada há três meses aguardando cirurgia para pôr um marca-passo. Há também pessoas com pernas e mandíbulas quebradas sem poder ter alta, pois não há pinos para cirurgia.

Pelos corredores, a equipe encontrou ainda um paciente aguardando para fazer cirurgia de ponte de safena. Em seu relato, o paciente afirmou que, além do desconforto, também falta privacidade e humanidade. “É difícil ir ao banheiro, é difícil comer, dormir com as pessoas passando o tempo todo. Nem acredito que pago tanto imposto e não tenho retorno nem quando mais preciso, que é quando estou doente. A gente se sente jogado e roubado, contando só com a misericórdia de Deus mesmo”, lamentou. (J.L)

Governo diz que superlotação nas unidades de saúde será solucionada neste ano

Em resposta à Folha, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) reconheceu o problema de superlotação nas suas unidades de saúde e justificou-se dizendo que “foi causado porque o Estado cresceu, a demanda aumentou, e durante anos os governos anteriores nada fizeram para resolver este problema, que se arrasta há anos”.

Em nota, a Sesau afirmou que a situação de macas nos corredores do Hospital Geral de Roraima (HGR) será mudada neste ano com a inauguração do Hospital das Clínicas. “A obra vinha se arrastando desde 2011 e as gestões passadas tentaram até mesmo repassar a obra para a Universidade Federal de Roraima”, disse.

Ainda no texto, a Sesau disse que a unidade servirá como retaguarda para o serviço de urgência e emergência. “Estes pacientes que hoje ficam internados nos corredores do HGR serão direcionados para o HC, onde terão um atendimento mais humanizado. Com isso, não haverá mais macas nos corredores do HGR”, enfatizou o secretário de Saúde, César Penna.

“Ao assumir a gestão, o Governo do Estado chamou a responsabilidade para si e desde 2015 empenhou-se para concluir a obra, inclusive corrigindo falhas no processo iniciado nas gestões passadas. Também foram abertos os processos para a compra de equipamento e mobiliário da unidade com recursos de emenda parlamentar do deputado federal Jhonathan de Jesus (PRB). A obra está na reta final e a expectativa é que a seja concluída no mês de junho”, ressaltou a nota.

De acordo com a Sesau, enquanto a obra do HC está em andamento, a gestão tem adotado medidas paliativas que têm dado resultado. “Em fevereiro do ano passado, a lotação era de 260%, e hoje gira em torno de 150%, pois a média de permanência no Pronto Atendimento diminuiu de oito para cinco dias”, lembrou.

A Sesau afirmou ainda que nos próximos dias será entregue a reforma da UTI 1, e, com isso, além de outras adaptações internas, o Pronto Atendimento ganhará 14 leitos, além de outros quatro na Área Verde, onde ficam paciente estáveis que aguardam internação nos blocos. “Ressaltamos que o problema será resolvido em definitivo com a entrega do Hospital das Clínicas.

Em relação à paciente que aguarda na unidade para a implantação de marca-passo, o Governo afirmou “que todo paciente tem que ser internado antes do implante. “Os procedimentos são realizados conforme a demanda, e em situações de emergência, ocorrem inclusive aos finais de semana. No entanto, existe um caso especificamente em que a paciente necessita de uma prótese diferenciada, a qual deve chegar nos próximos dias.

Enquanto isso, ela é mantida sob monitoramento constante. Na semana passada, ela passou por exame de cateterismo e está estável. A previsão é que o material seja recebido para a realização do procedimento ainda neste mês”, disse.

Com a inauguração da Casa da Gestante, no próximo mês, e com a mudança do Centro de Referência de Saúde da Mulher, o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth ganhará 37 novos leitos.

A unidade que, vai receber investimentos na casa dos R$ 6 milhões, ainda este ano para aquisição de equipamentos e reforma de seus setores. A Casa da Gestante, cuja obra estava atrasada quando esta gestão assumiu, está sendo concluída e terá 20 leitos para atender a demandas como o caso de pacientes do Interior, e que precisam ficar mais tempo internadas.

Além disso, o Centro de Referência de Saúde da Mulher será transferido para a antiga Residência Médica, prédio que estava abandonado e que está passando por reforma para abrigar a unidade, que terá seus serviços ampliados.