Cotidiano

Invasores cobram decisão do governo

Área ocupada por mais de mil famílias continua indefinida, mesmo com a promessa de que elas serão assentadas na área

As famílias que invadiram uma área denominada por eles como “bairro Pedra Pintada”, localizado na região do Bom Intento, zona rural de Boa Vista, na saída para Venezuela, afirmam que estão aguardando o processo de regularização do loteamento pelo Governo do Estado. São mais de mil famílias que aguardam um posicionamento e começaram a passar por sérias necessidades, uma vez que eles estão acampados no local, sem qualquer estrutura.
Há cerca de 140 dias de ocupação, os invasores pedem uma solução rápida para o problema. “Queríamos que o órgão competente passasse de maneira clara, para população, o real procedimento sobre o que será feito a partir de agora com a gente”, afirmou o representante do grupo que se autodenomina como “Os pioneiros”, Hércules Silva.
Ele destacou que, no local, dois grupos foram montados. Conforme Silva, os primeiros, aproximadamente 300 pessoas, seriam os que realmente precisam e dependem do governo para regularizar a situação junto com uma associação. O restante dos invasores, ainda conforme Silva, teriam até alugado tratores para limpar a área invadida e começaram construir suas casas.
“Eles tomaram uma atitude isolada, sem consentimento de um órgão competente. Levaram máquina por conta própria para limpar, criar ruas e já estão construindo casas. Sendo que, por recomendação do Iteraima [Instituto de Terras e Colonização de Roraima], nada sólido poderia ser feito por lá. Como o nosso lado é o que realmente precisa, estamos aguardando a posição do governo, porque temos medo de perdermos a terra”, disse Hércules Silva.
Segundo ele, a área, que compreende o espaço entre o Centro Sócioeducativo  e a usina de arroz, pertence ao Governo do Estado e estaria destinada para habitação social.  “Fomos para lá porque não tínhamos mais condições de pagar aluguel ou não havia lugar para morar. Só depois os outros chegaram. Pedimos encarecidamente, pois precisamos da nova topografia e da confirmação de quem fica e quem sai, para só assim fazermos um esforço e começarmos a construir”, disse.   GOVERNO – Em relação à ocupação do Bom Intento, o Iteraima informa que está adotando as medidas cabíveis para regularização da ocupação, já que as autorizações emitidas pela gestão anterior não têm qualquer respaldo legal, pois foram emitidas sem triagem de beneficiários.
Além disso, as referidas autorizações não adotaram o devido processo legal dentro do Iteraima, tais como abertura de processo individual para cada ocupante, apresentação de documentos pessoais, vistoria, parecer técnico e jurídico. “A gestão passada também não apresentou e não obteve aprovação do projeto de loteamento, logo trata-se de um parcelamento de solo irregular”, frisou.
O Iteraima afirmou que está em fase de levantamento e identificação da área, inclusive adotando todas as medidas legais para o saneamento das irregularidades, além da identificação dos ocupantes para regularizar a situação de cada lote a fim de destiná-los a pessoas que comprovadamente necessitem.
DOAÇÕES – O grupo de invasores “Os Pioneiros” está pedindo ajuda para alimentação. Conforme Hércules Silva, muitas pessoas carentes que não têm emprego e não podem sair do local com medo de perder as terras estão passando necessidades.
“Estamos pedindo uma força da população, principalmente dos empresários. Nós temos crianças muito carentes, que usam cadeira de rodas e precisam de uma atenção especial dos pais. Lá também temos  idosos, grávidas, mães solteiras que têm medo deixar seus filhos e perder aquele pedaço de terra que tanto sonhamos”, frisou.
Segundo ele, qualquer ajuda será bem-vinda. “Aceitamos alimentos e, para aqueles que realmente podem, pedimos todos os tipos de material escolar. Com a proximidade das aulas de nossas crianças, mediante nossa situação complicada no local, os pais não têm como comprar caderno e lápis que as crianças precisam”, revelou.
“Gostaríamos de pedir que olhem pela gente, que mandem uma assistente social para essas crianças, que nos ajudem a matriculá-las nas escolas perto, pois a maioria não tem transporte”, disse Silva ao sugerir que uma linha de transporte escolar seja instalada no local. “Nosso bairro não tem infraestrutura nenhuma”, frisou.