Cotidiano

Invasores são retirados e ateiam fogo no lavrado para provocar a polícia

Chamas se espalharam rapidamente, mas isso não atrapalhou o trabalho da Justiça para cumprir reintegração de posse

A Justiça concedeu ontem a reintegração de posse à empresa Pérola Agropecuária Ltda. Mas os invasores, antes de saírem, tocaram fogo no lavrado. No mês passado, centenas de invasores ocuparam uma área da Pérola na saída de Boa Vista, à margem do trecho sul da BR-174, entre o igarapé Grande e a lixeira pública, no bairro Airton Rocha, zona Oeste. 

Policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) acompanharam a desocupação. Assim que foram notificados pelo oficial de Justiça, os invasores começaram a desmontar os barracos. Alguns ainda tentaram argumentar, mas receberam ordens da PM para acatarem a determinação da justiça e saírem sem a necessidade do uso da força. Não foi registrada nenhuma ocorrência.

Na área invadida, havia, ontem pela manhã, mais de 30 famílias, todas já instaladas em barracos de madeira. “Não temos para onde ir. Não temos casa. E a gente pagou para uma advogada R$ 200,00 pela taxa de ocupação e pelo serviço de topografia. Quero meu dinheiro de volta”, cobrou uma das invasoras que preferiu não se identificar.

Antes de a invasão ocorrer, representantes da empresa procuraram a Folha para alertar sobre o possível golpe de estelionato. O caso foi parar na delegacia e foi aberto um inquérito. O caso continua em investigação. A dona do imóvel apresentou o título da terra, que já possui há mais de 50 anos.

Segundo representantes da Pérola, a advogada mentiu para as pessoas, afirmando que a terra teria sido cedida pelo Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) a um empresário local de forma fraudulenta e que por isso o título não valeria. A advogada, ainda segundo os empresários, teria agido de má-fé e cometido o crime de estelionato. Eles adiantaram que iriam denunciar a advogada junto à Comissão de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A advogada já foi denunciada outras vezes, conforme os representantes da empresa, por cadastrar pessoas em outras invasões. Somente nesta última, ela teria ganhado cerca de R$ 100 mil, após ter feito 500 cadastros ilegais, cobrando R$ 200,00 por cada pessoa.

A mesma área, que mede 1.200 hectares, já foi invadida três vezes – em 2009, 2011 e 2013 -, mas a Pérola entrou na Justiça e conseguiu as reintegrações de posse. Para comprovar que é dona da terra, os advogados da empresa lembraram que a Pérola vendeu 200 hectares para o governo federal construir o conjunto Pérolas do Rio Branco, que foi inaugurado no ano passado pela presidente Dilma Roussef (PT).

A advogada acusada por estelionato pela Pérola não foi localizada ontem pela Folha. A polícia informou que o inquérito prossegue, mas que não poderia dar maiores detalhes para não atrapalhar as investigações. (AJ)