TRAGÉDIA NO RIO GRANDE DO SUL

Isolada e sem energia e água, roraimense no RS chora: 'Colegas perderam familiares'

Karol Alencar precisou deixar trabalho às pressas, ficou em abrigo e relatou início de desabastecimento em cidade do interior gaúcho

Roraimense Karol Alencar registra da sacada de apartamento a situação de sua rua em Canoas (RS) (Foto: Arquivo pessoal)
Roraimense Karol Alencar registra da sacada de apartamento a situação de sua rua em Canoas (RS) (Foto: Arquivo pessoal)

A roraimense Karol Alencar, 35, que em novembro passado se mudou para o Rio Grande do Sul para buscar melhores oportunidades, relatou como tem sobrevivido em meio à maior enchente da história do Estado gaúcho. Ela vive em Canoas (RS), uma das cidades mais atingidas pelas fortes chuvas.

Segundo a imprensa local, o Município 20 quilômetros distante da capital Porto Alegre já registrou duas mortes e pode levar até 60 dias para que as águas do rio Guaíba, o principal do Estado, baixem completamente. “Não temos uma perspectiva de que isso vai melhorar”, diz, aos prantos, à Folha. “Tive colegas de trabalho que perderam familiares, pessoas que ainda estão desaparecidas, crianças que foram resgatadas, mas que os pais não foram… são muitas histórias ruins e chocantes”.

Karol é atendente de telemarketing de uma empresa do ramo de energia situada ao lado do rio Guaíba. Ela lembrou que deixou o local às pressas após a água invadir o empreendimento. Desde então, está sem trabalhar.

Karol Alencar registrou alagamento próximo de seu local de trabalho, onde teve que sair às pressas (Foto: Arquivo pessoal)

A roraimense mora em uma kitnet do segundo andar de um prédio do bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos da cidade. Foi nessa região que, na sexta-feira (3), um dique rompeu e provocou uma rápida subida das águas sobre as casas. “A Defesa Civil achou melhor nós sairmos de casa, apesar de a água não ter invadido os quartos, a kitnet e tudo. Mas a água já estava na escadaria. Isso porque ainda estava chovendo muito. De madrugada a água poderia invadir o local e saímos pra não correr o risco de sair às pressas ou até mesmo nos afogar”, relatou.

“É muito caos. Os helicópteros estão sobrevoando, resgatando pessoas. Aqui na rua, por exemplo, há resgate pra tentar pegar os animais no telhado. Os corpos das pessoas, agora que o rio está baixando, começam a aparecer”, relata, sob choro. “Dormir de verdade a gente não consegue. E pra piorar, agora tem pessoas saqueando as casas, até isso a gente tem que vigiar. Pessoas estão orientando pra evitar andar nas ruas, porque estão assaltando”.

Após deixar o apartamento, a atendente de telemarketing foi a um abrigo, onde dormiu por duas noites. “Nós vimos muitas doações de água, alimentos não paravam de chegar, roupas, agasalhos. Isso ajuda muito principalmente para as pessoas que perderam tudo. Tinha pessoas ali que saíram sem nada, só mesmo com a roupa do corpo”, relatou. “Tivemos homens incansáveis praticamente 24 horas trabalhando, resgatando pessoas. São heróis que Deus tem abençoado pra estar ajudando as pessoas”.

Ela já retornou ao prédio após as águas diminuírem e disse que ele e moradias vizinhas estão há quatro dias sem fornecimento de energia e água. Comércios próximos estão cobertos pelas águas. Com isso, Karol precisa comprar mantimentos em bairros distantes, com a ajuda de um vizinho. “O dono da kitnet vai lá com ele, compra o que precisamos no prédio e é assim que estamos sobrevivendo”, pontuou. As coisas estão muito caras e estão começando a faltar”, lamentou ela, que se prepara para se refugiar no litoral gaúcho, onde as enchentes ainda estão menos intensas.