Em 2020, o Instagram completou 10 anos de sua criação, ocupando a sexta posição entre as redes sociais com maior número de contas ativas. E de acordo com a sociedade brasileira de cirurgias plásticas, nos últimos 10 anos, houve um aumento de, 141%, de procedimentos estéticos feitos em jovens, de 13 a 18 anos.
A imagem compartilhada nas redes sociais demonstra certo padrão de beleza, um padrão de corpo ideal, vendendo a imagem de que só corpos esculturais e pele sem manchas são aceitáveis. Com isso, abala a autoestima de uma pessoa que não se encaixa nesse padrão, fazendo com que muitos dos jovens tenham baixa autoestima. A fuga disso seria recorrer para procedimentos estéticos.
Uma pesquisa realizada pela academia americana de cirurgiões plásticos faciais e reconstrutoras, em 2018, aponta que 55% das pessoas disseram que a rinoplastia foi feita no intuito de se saírem bem na selfie.
Ademais, o que explica esse comportamento de fazerem certos tipos de procedimentos tão jovens é a síndrome normal da adolescência, onde na busca de sua identidade, o adolescente recorre a situações que se apresentam as mais favoráveis no momento.
Segundo a assistente de conteúdo Giulia Coronato, a nova geração chamada de “sociedade dos filtros” faz com que pessoas queiram sair na rua de acordo com os filtros disponíveis no Instagram. Essa busca incessante pela perfeição foi relatada por uma estudante, que preferiu não se identificar.
A mesma conta que aos 12 anos começou a notar que se sentia incomodada com tamanho de seu nariz e pensou na possibilidade de fazer uma rinoplastia. A jovem menciona também que claramente as redes sociais influenciaram muito nesta decisão.
“A gente se vê muito em foto, em selfies, e eu não gostava de tirar foto, principalmente de lado, não gostava de me ver. Quando eu completei 18 anos falei: é isso que eu quero, só falta isso pra me sentir mais bonita, minha autoestima vai melhorar. Após a cirurgia, notei que não tinha ficado do jeito que eu sonhava, fiquei procurando defeitos no meu nariz, pesquisando quando poderia fazer outra cirurgia e percebi que o problema não está no meu nariz, está em mim que não consigo me aceitar do jeito que eu sou”, afirmou.
Publicações de adolescentes podem significar ‘pedidos de socorro’, diz psicóloga
A psicóloga e especialista em psicopedagogia Elina Marciano, explica que, a adolescência é uma fase de transformações rápidas, que marca a transição entre a infância e a idade adulta.
“Ao longo da infância, nossa personalidade e temperamento se consolidam à medida que adotamos um modo de pensar, agir e sentir mais consistente”, afirma.
A solidificação da personalidade, segundo a profissional, volta a ser reforçada novamente no fim da adolescência até a chegada da idade adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos relacionados às expectativas culturais da sociedade em que vive.
“As redes sociais impõem padrões de beleza, que a própria sociedade exige. Muitas publicações não são exatamente uma realidade, muitas postagens feitas por esses adolescentes são devido a traumas, complexos, falta de atenção dos pais ou daquela quem os criou, onde fixam na mente pensamentos de que precisam “ser aceitos”, gerando uma necessidade de disputa introspectiva”, disse a psicóloga.
A especialista afirma que por detrás de algumas publicações existe uma vontade de “gritar” por socorro desses adolescentes, onde muitas vezes não são ouvidos. “É uma luta interna que causa necessidade de suprir padrões para serem aceitos”, finalizou.
Com colaboração de Maria Cecília Veloso