O forte mau cheiro proveniente do gás produzido pelo tratamento de resíduos hospitalares de uma empresa especializada no serviço de coleta de lixo das principais unidades de saúde de Boa Vista resultou em uma denúncia feita pelos moradores do conjunto Cruviana. De acordo com relatos, cinco vezes ao dia eles sofrem com forte odor que vem provocando diversos sintomas físicos que comprometem a qualidade de vida de quem reside próximo à região.
A reportagem esteve no local durante a liberação do gás e constatou que o cheiro é facilmente espalhado com o vento em direção às residências. A população reclama das dificuldades em conviver com a situação.
“Na última noite não aguentei de tanta dor de cabeça. Tenho certeza que é devido a esse cheiro, porque os sintomas como vômito, irritação e enxaqueca só se manifestam quando sentimos o odor, semelhante a um veneno. Nossa maior preocupação é com as crianças. Já pensamos em ir até a porta da empresa reclamar porque não aguentamos mais ser afetados”, disse uma das moradoras, que preferiu não se identificar.
Outro morador explicou que a maior preocupação é ter uma empresa que faz a coleta de lixo hospitalar instalada próximo a sua casa e cobrou a fiscalização dos órgãos responsáveis para tomar medidas que possam diminuir o impacto do gás jogado no ambiente.
“Sabemos que lixo de hospital inclui seringas, materiais com sangue e até pedaços humanos. Quando o material é coletado, é colocado em uma estufa que faz a liberação de um gás no meio ambiente. Há substâncias tóxicas e nocivas ao ser humano e o odor é comparado ao enxofre. Há escolas na região e minha filha diversas vezes chegou com dor de cabeça porque sentiu o cheiro. O desconforto é muito grande e nunca vimos nenhuma fiscalização no local”, disse a moradora.
Os denunciantes ainda dizem que não buscam o fechamento da empresa, já que ela presta serviços à comunidade e renda aos envolvidos, mas pedem que o trabalho realizado esteja condizente com as normas ambientais e de segurança à população.
“Em nossas contas a empresa foi instalada há cerca de dois anos, mas em seis meses o cheiro piorou e não sabemos se é defeito mecânico na estufa. Pela estrutura do prédio todos notam que não foi calculada a velocidade e direção do vento e teriam que adequar para que esse gás fosse lançado o mais longe possível”, explicou um morador.
O que diz a empresa – A reportagem procurou a empresa para posicionamento sobre as reclamações apresentadas pelos moradores do bairro Cruviana e, por meio de nota, a empresa explicou que não é feita a queima de nenhum resíduo, sendo o método utilizado para o tratamento de resíduos hospitalares o de autoclave, via pressão térmica. A empresa também disse que possui todas as licenças ambientais para operar e suas atividades não oferecem quaisquer riscos à população.
A vigilância Sanitária Municipal de Boa Vista também se manifestou após questionamentos sobre a fiscalização da empresa que faz o trabalho de coleta de lixo hospitalar na capital e, por meio de nota, disse que enviará uma equipe da fiscalização ambiental até o local para averiguar e tomar as providências cabíveis.
Médico explica as consequências do lixo hospitalar na saúde
Especialista em doenças do ouvido, nariz e garganta, Mauro Schmitz fala sobre o impacto ambiental do lixo (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
O médico especializado em doenças do ouvido, nariz e garganta Mauro Schmitz disse que a estrutura para a realização de serviços pela empresa responsável na eliminação do lixo hospitalar deve ser avaliada para real verificação de impacto ambiental e na saúde da população.
“É necessário seguir normas de uma legislação cobradas por um órgão fiscalizador. A chaminé, por exemplo, deve ser elevada e um estudo de condições meteorológicas também precisaria ser feito, além de filtros nas estufas. O material também deve soltar o mínimo possível em micropartículas para não prejudicar a saúde”, explicou.
Mauro Schmitz também ressalta que o melhor método para eliminar resíduos hospitalares é o método de incineração, mas para que isso ocorra são necessários filtros e chaminés longas. “A secretaria Municipal de vigilância sanitária deve verificar o alvará de funcionamento da empresa e somente eles poderão julgar se os serviços estão sendo executados conforme as exigências da lei”, disse o médico.