Cotidiano

Lixo se acumula na invasão Pedra Pintada

Por ainda estar dependendo de regularização do Iteraima, Prefeitura afirma que não pode fazer coleta de lixo na região

Surgida de uma invasão, a área chamada de bairro Pedra Pintada, na região do Bom Intento, zona rural de Boa Vista, está tomada pelo lixo. Como não há coleta pública, os moradores lançam o lixo em qualquer lugar: na frente das casas, à margem das estradas de acesso e até mesmo nas áreas de preservação.

Garrafas pet, sacos plásticos, latas de cerveja e embalagens de salgadinho são alguns dos itens que podem ser encontrados nas margens do igarapé do Carrapato, que fica na região. A situação piorou após o surgimento do Pedra Pintada, antigo Sítio Santa Luzia. “É muito comum vermos pessoas daquela área banhando por lá. No entanto, muitos estão deixando o lixo por lá e isso acaba degradando o igarapé”, relatou um morador da região.

A Folha esteve no local e constatou uma série de irregularidades. O igarapé, que ainda não foi afetado pela estiagem desse ano, está aos poucos sendo tomado pelo lixo. Questionada sobre a situação da localidade, a Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima (Femarh) afirmou, em nota, que por se tratar de uma região que fica dentro do Município de Boa Vista, a competência para penalizar e instituir possíveis projetos no local é da Secretaria Municipal de Gestão Ambiental e Assuntos Indígenas (Smga).

A Folha entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista para saber quais seriam as medidas a serem tomadas para amenizar a situação naquela área de proteção, mas não obteve resposta.

Impasse na regularização continua

Enquanto aguardam uma decisão sobre a regularização do local, ocupantes do Pedra Pintada sofrem com os constantes problemas de infraestrutura. De acordo com a presidente do Conselho Fiscal da Associação de Moradores, Débora Fonseca, a questão está parada no Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima), órgão responsável pelas autorizações de titulação da terra.

Segundo ela, o Iteraima ainda não enviou para a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emurh) o parcelamento do solo e o desmembramento de área rural para urbano. “O processo está com mais de um ano sem resposta. Ou seja, a real situação é que o Instituto está segurando esses documentos e essa situação prejudica os mais de 1 mil moradores que residem por lá”, afirmou.

Sem legalização, os problemas em relação à limpeza urbana só aumentam. Nas margens da estrada que dá acesso ao local, o lixo acumulado se espalha de forma assustadora, gerando riscos para o surgimento de doenças, além de agravar os danos ao meio ambiente.

Segundo a dona de casa Jucilene Araújo, mesmo não estando definitivamente regularizada, a área receberia os serviços de limpeza, como o recolhimento do lixo domiciliar. No entanto, funcionários da empresa responsável pela ação teriam sido proibidos de realizar a coleta por se tratar de uma área não regularizada.

“Eu acredito que as pessoas continuam colocando o lixo na esperança de que seja recolhido. Porém, isso não está acontecendo e o problema vem piorando. A presidente da associação mandou documento pedindo para que a coleta de lixo fosse realizada, já que eles fazem isso no prédio do Centro Socioeducativo, mas alguém teria proibido. É uma situação que prejudica todos os moradores”, ressaltou a moradora.

GOVERNO – Sobre a questão da regularização da área, o Governo de Roraima informou que ainda não há uma previsão para que o bairro Pedra Pintada seja legalizado. A questão estaria dependendo apenas de um documento da Emhur.

“Em relação à região do Pedra Pintada, o Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) solicitou à Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) a descaracterização daquela área de rural para urbana, o que, juntamente com a aprovação da Lei de Regularização Urbana, que se encontra na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) aguardando avaliação e aprovação dos parlamentares, são condições necessárias para que o Instituto possa adotar as medidas necessárias para a regularização daquela área”, destacou a nota.

PREFEITURA – Sobre a denúncia de não recolhimento do lixo domiciliar, a Prefeitura de Boa Vista disse, em nota, que por conta de a área ser oriunda de invasão, a administração municipal é proibida pelo Ministério Público de prestar qualquer tipo de serviço na localidade, até que esteja devidamente regularizada, podendo ser penalizada por improbidade. (M.L)