A atual situação de crise financeira vivenciada no País tem atingido o setor varejista da Capital. De acordo com empresários ouvidos pela Folha, a procura de clientes por produtos eletrônicos, móveis e eletrodomésticos registraram queda no primeiro trimestre de 2016. As vendas nesses três segmentos caíram cerca de 20%.
“Como toda empresa em nível de Brasil, as nossas lojas também vêm enfrentando dificuldades em relação a essa crise. Realmente, nós tivemos uma queda bem significativa no nosso faturamento”, comentou a supervisora geral de uma rede de lojas, Maria Trindade Linhares.
Os dados apontados pelos comerciantes locais coincidem com os divulgados por instituições importantes. Em fevereiro deste ano, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que o ano iniciou com queda histórica de 10,5% em relação ao mesmo período do ano passado. O dado foi baseado na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o CNC, dentre os dez ramos avaliados, sobressaíram as quedas no volume de vendas de móveis e eletrodomésticos (-24,3%) e de equipamentos e matérias de escritório, informática e comunicação (-24,0%). Mais dependentes das condições de crédito, as vendas nesses segmentos têm sido significativamente afetadas pelo aumento das taxas de juros ao consumidor que, no intervalo avaliado, subiram de 52,0% para 66,1% ao ano.
Para minimizar os efeitos da crise, as empresas têm buscado cada vez mais realizar ações que façam o consumidor sentir confiança e manter o mercado aquecido. “Esse ano, a gente já reavaliou toda a nossa parte de custos, aplicamos algumas contenções de gastos, refizemos todo o planejamento de compras, dando uma diminuída em alguns setores, justamente para equilibrar o orçamento da empresa e para passar por esse momento turbulento, continuando firme no mercado”, destacou Maria Trindade.
A supervisora ressaltou que, nos últimos meses, o consumidor tem mudado suas atitudes dentro da cadeia de consumo, procurando economizar ao máximo nos gastos. “No nosso caso, por ser uma empresa muito grande, a gente tem lojas tanto na área central quanto na periferia da cidade. Nós observamos, nesses três últimos meses, que houve uma queda no movimento das unidades do Centro e aumento de demanda nas lojas da periferia. Isso foi inclusive comentado em reportagens de que os consumidores estariam optando pelas lojas mais afastadas, justamente pela necessidade de encontrar preços mais vantajosos. Nós acreditamos que isso seja um reflexo real da crise”, frisou.
Outra observação feito por Maria Trindade diz respeito às prioridades dos clientes. Segundo ela, produtos de decoração tiveram menor procura do que itens considerados bens essenciais, como geladeiras, televisores, ar-condicionados, fogões, entre outros.
“A gente percebe que o consumidor está se voltando muito para o que realmente é mais básico e o que ele realmente necessita. Por exemplo, hoje em dia, você não consegue mais ficar sem uma geladeira, uma máquina de lavar ou um televisor. Então, nesse aspecto, nós sentimos que teve uma queda, mas não foi tão acentuada. Agora, quando você vai para produtos como decoração, aí observa-se que a queda foi maior. Ou seja, as pessoas estão optando mais pelo usual e o que não é tão essencial eles acabam deixando para depois”, salientou.
EXPECTATIVAS – Por conta da conturbada situação de crise que o País enfrenta, lojistas acreditam que os prognósticos de crescimento é de baixa para este ano. Muito provavelmente, a situação deverá melhorar após as definições em relação à possível troca de comando da Presidência de República, fato que tem estagnado todos setores da economia.
“De fato, é um momento delicado. Ninguém sabe o que realmente irá acontecer. A única certeza é que, enquanto essa situação política e financeira não se definir, o mercado empresarial continuará sem chão firme para caminhar”, frisou Maria Trindade. (M.L)
Com exceção dos supermercados, demais comércios registram queda
Em entrevista à Folha, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Roraima (Acir), Joaquim Santiago Filho, avalia com preocupação a atual situação de crise enfrentada pelos empresários roraimenses, sobretudo os da Capital. Conforme ele, com exceção do setor de supermercados, os demais apresentaram queda no número de clientes. O fator contenção de despesas tem sido a principal explicação para essa evasão.
“Em todos os segmentos, de modo em geral, a movimentação de clientes tem sido fraca. Provavelmente, o único setor que ainda detêm certa melhora é o de supermercados, que tem se mantido em alta em relação à demanda de consumidores, mas os demais alegam dificuldades este ano”, informou.
Só para ter uma noção do reflexo de como a crise tem afetado a criação de novas empresas, em 2014 foram constituídas 954 empresas no Estado, enquanto em 2105 foram 888. Já o número de empresas extintas, que são aquelas que formalizaram o fim de suas ações, somou 541 no ano passado. Os dados são da Junta Comercial de Roraima (Jucerr).
Ainda segundo o presidente da Acirr, a média de empresas que alegam dificuldades para fechar negócio está para superar a casa dos 25%. Para ficarem ainda mais endividados, muitos empresários estariam fechando temporariamente suas empresas na esperança de fugir da crise.
“As dificuldades realmente existem, e eu posso falar por experiência própria por também ser empresário. Só para se ter uma ideia, de janeiro para cá, as vendas caíram expressivamente. A associação calcula uma média de 25% de queda a mais que no ano passado. Muitos empresários têm até fechado suas empresas de forma temporária, tanto que nem formalizam junto aos órgãos competentes, possivelmente na esperança de retomar as atividades quando a crise passar”, frisou. (M.L)