A falta de atendimento emergencial no plantão do Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA) fez com que uma mãe desistisse de buscar ajuda médica para cuidar por conta própria da filha, que estava quase convulsionando com 40 graus de febre. A mãe, que preferiu não ser identificada, contou à Folha que durante quase uma hora de espera nenhum dos dois médicos plantonistas realizou atendimentos.
Ela contou que chegou à unidade por volta das 2h da quinta-feira com a filha se debatendo de frio e enfrentou uma fila para ser encaminhada à triagem e, só então, receber o atendimento. Após realizar todo o procedimento, foi classificada como prioridade e sentou para esperar. Na emergência, havia mais de 30 mães. Algumas, segundo ela, estavam no local desde a manhã do dia anterior.
Pouco tempo depois, ela ouviu as atendentes do balcão conversarem entre si a respeito de um novo modelo de atendimento adotado pelos médicos. “Os médicos que chamam os pacientes. Cada médico tem um computador na sua sala, de modo que um fica controlando o atendimento do outro para não atender mais pacientes. Uma delas chegou a dizer que isso só beneficia a eles mesmos, e não a população”, explicou.
Para quem fica na sala de espera, é disponibilizada uma televisão com o nome dos médicos plantonistas. No entanto, ao chegar ao hospital, ela contou que o nome dos médicos que apareciam na tela era referente ao plantão do dia, que havia acabado às 19h. Em relação aos da madrugada, não constava a informação de nenhum dos dois. Passados cerca de 30 minutos, ela decidiu questionar a demora.
“Nessa hora uma mãe que estava ao lado me disse que, conforme ela tinha sido informada, os médicos só iam começar a atender a partir das 4h, e ainda era 3h10. Eu resolvi então voltar pra casa e cuidar da minha filha por conta, dei banho e mediquei. Não dava pra esperar a boa vontade dos médicos, apesar de ser um hospital emergencial que funciona 24h por dia. No fim, ela melhorou graças a Deus”, relatou.
A mãe informou que já havia passado por outros problemas no hospital em relação a atendimentos de retorno, mas que nunca por falta de atendimento. Para ela, a impressão deixada é a de que não havia médicos na unidade. “Quando a gente fica doente já é ruim, quando é criança a gente se sente impotente. Várias pessoas disseram que eu tinha que ir à direção, mas o tempo que eu ia perder… Preferi medicar por conta própria”, finalizou.
OUTRO LADO – A Prefeitura de Boa Vista esclareceu que os atendimentos no Hospital da Criança estão sendo feitos normalmente no setor de urgência e emergência e que não há falta de médicos em nenhum dos horários. O hospital trabalha com cinco médicos pela manhã, quatro à tarde e quatro à noite. Informou ainda que a unidade passa por reformas e que o espaço está limitado para os atendimentos. Além disso, em razão do período sazonal, tem recebido uma demanda grande de crianças estrangeiras. “Ainda que a direção tenha se planejado, o fluxo neste período é grande”, comentou.
A gestão destacou que tem trabalhado diversas estratégias para amenizar as dificuldades, colocando mais profissionais e adequando os espaços existentes. Por fim, pediu compreensão da população diante da situação. Sobre os computadores dos médicos, informou que os mesmos são utilizados pelos profissionais para o acesso ao prontuário eletrônico, sem autonomia para monitoramento do trabalho do outro, de modo que quem monitora o atendimento médico é a administração do HCSA. (A.G.G)