Cotidiano

Mãe diz que quase perde um dos filhos por negligência na Maternidade

A mulher deu à luz a gêmeos e afirma que a falta de atenção e preocupação da equipe quase resultou na morte, por hipotermia, de um dos recém-nascidos. Ela também denuncia o baixo número de servidores e as falhas nos aparelhos de monitoramento da UTI.

Uma mãe, de 30 anos, que há 10 dias deu à luz a um casal de gêmeos, procurou a Folha, nesta sexta-feira, 17, para denunciar que o quantitativo de servidores que atua no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) é insuficiente para atender a demanda e cuidar dos recém-nascidos, além disso, afirma que os aparelhos que ficam ligados aos bebês param de funcionar repentinamente e que falta atenção dos funcionários no trato com as crianças, motivo pelo qual, um dos filhos quase morreu na última quarta-feira, dia 15.

“Quero denunciar porque não tem gente suficiente para cuidar dos bebês, os aparelhos não funcionam, está um caos e meu bebê quase morreu por negligência da equipe. Ele estava bem e estável, agora está na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] intubado, precisamos fazer essa denúncia para que não ocorra novamente”, disse.

A denunciante detalhou o caso que ela chama de negligência. “Eu cheguei 6h da manhã, dei de mamar, cuidei dele direitinho e coloquei de volta na incubadora, no bercinho, que a funcionária me disse que estava super aquecido e teve que desligar. Só que quando eu saí para tomar café, avisei que estava desligado. Quando voltei, às 9h, dei banho nos bebês, troquei a frauda deles e dei o leite. Percebi que meu filho estava ficando roxinho, com frio. Eu avisei para a equipe que ele estava com frio. Quando eu sentei, olhei para o lado e a máquina estava desligada, sem aquecimento. Meu filho ficou das 6h às 9h dentro da incubadora desligada. Falei que ele estava roxo, com frio, pedi para alguém olhar e eles olhavam, mas diziam que era normal porque estava aquecendo. Saí para ir ao banheiro e quando retornei para trocar a frauda, o bebê estava tendo uma parada respiratória por causa da hipotermia [queda significativa na temperatura corporal]. Se eu tivesse demorado mais um pouco, ele tinha morrido”, relatou.

Quanto aos aparelhos de monitoramento da frequência cardiorrespiratória, a mãe dos gêmeos constatou que estavam desligados na quinta-feira, 16, mas que antes disso, já havia notado que alguns apagavam a tela, inclusive, nesta sexta-feira, a denunciante contou que alguns aparelhos ainda apresentavam defeito no funcionamento. “O aparelho que está parando é o que monitora os batimentos cardíacos do bebê e a saturação”, ressaltou.


Os aparelhos que não apresentam erro na tela, estão apagados e sem qualquer informação. (Foto: Divulgação) 

Sobre o número de servidores, a denunciante salientou que, geralmente, os técnicos em enfermagem são muitos e que tanto enfermeiros, quanto fonoaudiólogos e fisioterapeutas fazem ronda constante entre os bebês, mas que na quinta-feira, os postos de trabalho pareciam estar abandonados a ponto de não restar funcionários para alimentar as crianças no setor da UTI.

“A equipe começou a fazer uma cirurgia e acho que todos ficaram empenhados nisso e esqueceram de dar o leite dos bebês internados. Aí uma moça que estava amamentando chamou a gente para alimentar os nossos filhos. Eu fiquei até às 3h para ficar de olho. A gente não pode nem cochilar, nem descansar, porque não sabe como estão as coisas na maternidade. Combinei com outras mães para a gente ficar fazendo turno, para não deixar os bebês sozinhos. A gente fica por lá para saber o que está acontecendo e se tem gente o suficiente trabalhando”, compartilhou.

Em vídeo, a responsável pela denúncia mostra a UTI e afirma que somente duas profissionais se desdobravam para atender aos 19 leitos de bebês.

Veja vídeo:

A mãe das crianças reconheceu que há empenho de algumas equipes, mas que alguns profissionais são desatentos e despreocupados no exercício de suas funções. “A gente não quer dizer que as equipes são ruins. O que queremos é resolver essa situação. A saúde no estado está péssima e se ninguém agir, vai continuar morrendo bebê. É falta de atenção mesmo. A maternidade não pode ser um lugar como esse aqui. O prédio tem que ficar pronto logo e precisamos de pessoas capacitadas para cuidar dos nossos bebês”, desabafou.

Um dos gêmeos está internado na UTI e a outra criança na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). A mulher afirmou que fez o registro da denúncia como negligência na Ouvidoria do Hospital Materno.


Na denúncia, a mãe cobra profissionais capacitados para atuar nos setores de UTI e UCI. (Foto: Divulgação)

Em nota, a direção geral do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth informou que a unidade dispõe de todo o aparato tecnológico para a segurança dos recém-nascidos, além de equipe de enfermagem e médicos neonatais, que dão total assistência para as pacientes.

Ainda de acordo com a direção, as informações relacionadas a quadro clínico de recém-nascidos ou pacientes internadas na unidade são repassadas somente para os familiares, conforme normas técnicas que regulam o acesso aos dados de pacientes.

Qualquer reclamação relacionada aos serviços prestados aos pacientes precisa ser registrada na direção geral ou na Ouvidoria da unidade.

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