No dia 14 deste mês, um grupo de jovens se divertia em uma casa no bairro Pintolândia, zona Oeste da Capital, mas o final da festa foi trágico. Uma adolescente de 17 anos morreu após cheirar uma grande quantidade de cocaína. Antes da overdose, a garota ainda foi levada ao hospital, mas já era tarde.
A Folha entrevistou, ontem à tarde, a mãe da adolescente. Muito abatida, a servidora pública J. O., de 39 anos, deu detalhes do ocorrido e lembrou a última conversa que teve com a filha. “Disse para ela que já havia marcado uma consulta no Cras [Centro de Atendimento Psicossocial], mas ela não quis saber”, lembrou.
Dias depois, um homem de carro apareceu na frente da casa da adolescente e levou-a para a “curtição”, segundo a mãe, mas o que a menina não sabia era que aquela seria a sua última festa. “Ela sumia de vez em quando. Passava até três dias sem aparecer em casa. Eu mandava o meu filho mais velho ir atrás. Ela andava com má amizade”, lamentou.
Mãe solteira de sete filhos, apenas um maior de idade, a servidora pública disse que não tinha muito tempo para a filha porque passa o dia todo no trabalho. “Ou ganhava dinheiro ou cuidava da casa. Meu outro filho também me ajudava, mas ela começou a fugir de casa e eu logo desconfiei que ela estava usando droga”.
Antes de sair com o “amigo”, na noite fatal, a adolescente mais uma vez não escutou a mãe. Eram as últimas palavras de quem realmente a amava. “Então, só depois fiquei sabendo que ela havia sido levada para o hospital, e quando cheguei lá, minha filha já estava morta”, relembrou a mãe, com lágrimas nos olhos.
A maior revolta da servidora pública é que o traficante, quem tinha a cocaína, ainda teria ironizado, publicando em sua página na rede social: “Morreu dando um ‘tiro’ na minha cama” – ou seja, a jovem morreu cheirando pó em cima da cama do suposto traficante.
“Ele tem que pagar por isso, pois era quem vendia a droga para os jovens. Espero que ele seja preso e pague pelo que fez. Sei que minha filha não era nenhuma criança, mas ela ainda era menor de idade e começou a usar droga incentivada pelos adultos. Quero justiça!”, cobrou.
Polícia já tem nome de suspeito de ter fornecido droga à garota
A delegada Mirian Di Manso, titular da Delegacia-Geral de Homicídios (DGH), abriu inquérito policial e já tem o nome de um suspeito, um traficante que deu cocaína a uma adolescente que teve uma overdose no dia 14 deste mês. A polícia já escutou duas outras adolescentes, que também estariam com a vítima na noite do fato, mas falta escutar mais uma jovem, de 18 anos.
A delegada lembrou que chegou a intimar o suposto traficante para prestar depoimento, mas os agentes da DGH chegaram ao endereço e constataram que na casa funcionava um “desmanche” de carros roubados. No local, os policiais ainda encontraram droga. O acusado não foi encontrado.
Mirian preferiu não dar mais detalhes para não atrapalhar as investigações, mas garantiu que o caso já está praticamente elucidado. Se realmente ficar comprovado, o acusado responderá por vários crimes, entre eles homicídio, tráfico de droga, associação para tráfico, exploração e crimes sexuais.
O CASO – Na madrugada do dia 14 deste mês, uma adolescente de 16 anos deu entrada no Pronto Atendimento Cosme e Silva, no bairro Pintolândia, zona Oeste da Capital, mas morreu horas depois, vítima de uma possível overdose de cocaína, o que teria provocado uma parada cardiorrespiratória. Desde então, a polícia investiga. (AJ)
Maioria de pacientes atendidos por Núcleo é viciada em cocaína e crack
A maioria dos pacientes tratados pelo Núcleo de Apoio Psicossocial (Nata), entidade de utilidade pública sediada no bairro São Francisco, zona Norte, tem idade entre 20 e 40 anos. Mais de 80% são usuários de crack ou pasta base de cocaína. Os outros 15% são viciados em cocaína, maconha e álcool. Muitos não têm acesso ao tratamento devido ao valor alto para quem é de baixa renda.
O presidente do Nata, o terapeuta Alípio Freire Lima Neto, disse que a dependência química não tem cura, mas há tratamento laboratorial e internação. Na maioria dos casos, segundo ele, a família do doente, entre 35 e 45 anos, é quem procura a entidade. O paciente passa, então, por psicólogo, psiquiatra e terapeuta, que fazem uma avaliação para verificar o grau da doença do paciente. Depois, os profissionais elaboram o tratamento de acordo com a avaliação.
Se o caso não for tão grave, o paciente recebe atendimento ambulatorial com medicação e consultas com psicólogo, terapeutas e psiquiatra, se for o caso. Mas se o estado de saúde do doente já for grave, ele é internado em uma clínica em São Paulo e seu tratamento dura, no mínimo, seis meses. “Como disse, a dependência química não tem cura, mas tem controle. Se não tratada a tempo, em dois anos a doença pode até enlouquecer o viciado, no caso do uso abusivo da droga”, alertou.
O Nata atua há 11 anos em Roraima, mas o atendimento é caro e a internação em São Paulo pode passar dos R$ 18 mil durante seis meses. Contudo, Alípio Neto lembrou que na capital paulista o tratamento no mesmo período e na mesma clínica sai por mais de R$ 40 mil. “É que a nossa realidade é outra, por isso a clínica fez esta parceria, este convênio conosco”, explicou o presidente.
O Nata também atende pacientes na área ambulatorial com uma equipe completa. A mensalidade é de R$ 850,00. O alto custo do tratamento implica no atendimento aos viciados. Alípio Neto lamentou que, das 25 vagas, apenas três pacientes estão sendo atendidos hoje em Boa Vista. “Mas o Núcleo passou este mês a ser considerado de utilidade pública. E isso nos abre mais possibilidades de tratamento”, observou.
O presidente lamentou as falhas que existem nas políticas públicas de combate às drogas. Segundo ele, falta mais investimento, mais trabalho de prevenção nas escolas e junto às famílias. “O melhor remédio contra as drogas é evitar o primeiro contato”, frisou. (AJ)