Cotidiano

Mães e bebês são acomodados no corredor

Mulheres que acabaram de dar à luz são obrigadas a ficarem em cadeiras, poltronas e macas que servem como leitos improvisados

O Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), localizado no bairro São Francisco, zona Norte, voltou a ser alvo de críticas de usuários do sistema público de saúde. Na quinta-feira, a acompanhante de uma paciente divulgou um vídeo que mostra mães com seus bebês recém-nascidos acomodados no corredor, sentadas em cadeiras e poltronas.

O áudio do vídeo de mais de dois minutos afirma que as imagens foram gravadas por volta das 2h30 de quarta-feira. A autora das imagens descreve a situação das mulheres que acabaram de ter bebês, conversa com uma das acompanhantes e afirma que estava na maternidade acompanhando uma amiga, a única que está numa maca no corredor, servindo de leito improvisado.

Conforme denúncia enviada à Folha na manhã de ontem, parturientes precisam aguardar por horas para a liberação de leitos. Marido de uma paciente internada, o auxiliar operacional Leonardo Martins, 28 anos, relatou que a esposa, a dona de casa Íris Martins, 31 anos, teve de esperar mais de 24 horas para ser acomodada em um dos leitos da Ala das Margaridas.

“Nós entramos à zero hora de domingo e a minha esposa só veio ter a nossa filha às 22h30 do dia seguinte. O parto foi feito sem problema nenhum, mas a questão é que ela teve que aguardar até 11 horas dessa terça-feira, porque, segundo o pessoal da maternidade, não tinha leitos vagos. Só que, nessa ocasião, eu fiz uma verificação nas alas e contei que havia 16 leitos disponíveis. Então, creio eu que eles não queriam fazer a mudança”, afirmou.

Segundo ele, fatos como o que ocorreu com sua esposa já não são novidade naquela unidade. Em outra ocasião, uma amiga do casal teve que esperar mais de 30 horas para ser transferida para um leito. “Muitas vezes, não é nem a falta de espaço, mas os profissionais de lá não querem fazer a transferência. O caso da Íris foi semelhante à de uma amiga nossa. Ela fez a cirurgia às 16 horas de uma terça-feira e só foi transferida para um leito 36 horas depois. Imagina alguém ter que esperar tudo isso para ser acomodada com conforto. Só tomaram providências no caso dela porque nós flagramos o caso de um médico, cuja esposa teve o bebê e ela foi transferida de imediato. Nesse caso, reclamamos da situação para a direção da unidade e eles tomaram as providências de liberar os leitos, beneficiando a minha amiga e mais nove pacientes que também estavam aguardando”, relatou.

Além da demora na liberação de leitos, o auxiliar operacional reclamou que problemas com de itens de rouparia e lençóis, além do número de profissionais da unidade. “Estou deixando bem claro que não estou falando mal dos profissionais, apenas acho que é pouco profissional para atender a demanda de lá. A médica que fez a cesárea da Íris estava desde as 16 horas fazendo procedimentos sem parar, terminando o turno às 02h30. Então, a gente vê que é um trabalho pesado para apenas uma ou duas especialistas. Fora o fato de os profissionais serem responsáveis por outros serviços. Ou seja, fica muito sobrecarregado. Além da falta de lençóis para as pacientes, muitas vão ensanguentadas e há muita demora na troca desse item”, frisou

Para ele, a construção de outra unidade seria o suficiente para amenizar os problemas existentes na unidade.  “A gente vê muito paciente no corredor, principalmente no turno da noite. Durante o dia, ainda se consegue dar alta da paciente, mas à noite, do horário das 18 horas em diante, às vezes não dão alta para ninguém. Então, é o horário onde o fluxo é maior de entrada de grávidas, chegando a entrar 45 mulheres e não tem onde acomodar toda essa gente”, acrescentou.

Diretor afirma que providência está sendo tomada para ampliar vagas

Em entrevista à Folha, na tarde de ontem, o diretor de Enfermagem do Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), Vilson Pereira, afirmou que o governo tem tomado providências em relação à superlotação existente na unidade. Conforme ele, dois projetos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) já estão em andamento.

O primeiro deles diz respeito à construção da Casa da Gestante, uma unidade que funcionará anexo àquela unidade. A obra está com 95% do processo concluído e deverá em breve ajudar a desafogar parte dos 254 leitos existentes na maternidade.

“Assim que essa casa for inaugurada, haverá uma melhora nessa questão da superlotação existente atualmente na maternidade. De antemão, serão 20 leitos liberados, e isso vai possibilitar uma rotatividade melhor para a unidade”.

Outro projeto citado por ele diz respeito à construção do novo prédio do Centro de Referência de Saúde da Mulher (CRSM), que também funciona anexo à maternidade. Segundo ele, com a finalização das obras e, consequentemente, a transferência das atividades do Centro, novos leitos estarão disponíveis para as pacientes da unidade.

“Quando houver a transferência do CRSM, haverá a liberação de mais 30 leitos. Ou seja, nós teremos uma capacidade de mais 50 leitos para o hospital atender às gestantes, já que essa parte passará a funcionar como alojamento conjunto”, destacou.

Em relação à sobrecarga de profissionais, o diretor explicou que a contratação de pessoal tem sido feita com base no planejamento da Sesau, que tem realizado a convocação dos aprovados no último concurso público realizado em 2013.

“Nós não temos no nosso quadro vagas para auxiliares de enfermagem, porque esses passaram a ser técnicos e alguns se tornaram enfermeiros. De maneira que há um déficit de pessoal. E a gente está tentando com esse concurso suprir as vagas. É claro que a gente tem que seguir um cronograma de admissão desses funcionários, até pelo fato de haver outras unidades no Estado. Temos, sim, pessoas para serem chamadas, mas isso será feito com tempo”, frisou.

Sobre a questão de materiais de rouparia, ele afirmou que o governo ainda tem um número muito grande desse tipo de material. “O que pode ter acontecido é que a rotatividade de troca desse material demore um pouco por parte da lavanderia, mas a unidade tem trabalhado para sanar esses problemas da parte operacional”, disse. (M.L)