Cotidiano

Maioria dos fumantes não conhecem alternativas para cigarro

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

Sara Oliveira começou a fumar aos 16 anos. O cigarro era uma opção para controlar o estresse causado pela rotina de trabalho e estudos. Acordava cedo, dormia tarde e precisava de algo para se sentir mais calma, mas ela confessa que também foi influenciada a iniciar a fumar por causa de algumas amizades.

Após quase dois anos fazendo uso do cigarro, ela sentiu que estava dependente do produto, havia se tornado um vício. Perto do aniversário de 18 anos optou por descontinuar o uso, o que não foi uma tarefa fácil. A rotina continuava estressante e as pessoas ainda fumavam perto dela.

“Eu comecei a me focar em outras coisas. Quando sentia vontade de fumar eu procurava dar uma volta, tomar uma água ou café e fazer outras atividades. Podia ser qualquer coisa que tirasse o meu foco do cigarro. As pessoas fumando perto de mim me davam muita vontade, então eu saía de perto”, declarou Sara.

Existem alternativas de fumo menos nocivas à saúde, como é o caso do cigarro eletrônico, mas que têm a comercialização proibida no País. Assim como existem outras opções de tabaco aquecido que também são restritas no Brasil.

Uma pesquisa revelou que 87% dos entrevistados não sabiam ou nunca tinham ouvido falar em nenhuma alternativa ao fumo. Ainda de acordo com o estudo, 82% dos fumantes optariam por um produto menos nocivo à saúde, assim como 78% das pessoas que convivem com fumantes indicariam tais alternativas.

67% concordam que os fumantes brasileiros deveriam ter o direito de comprar produtos de menor risco à saúde; 72% não sabem que a venda do cigarro eletrônico e de produtos de tabaco aquecido é proibida no Brasil; 73% são a favor de as empresas de tabaco terem autorização para vender estes produtos; 80% dos entrevistados concordam que os fumantes deveriam ter acesso a produtos de risco reduzido; e 79% dos brasileiros são favoráveis a que o governo permita o acesso aos produtos de menor risco.

A pesquisa foi encomendada pela Philip Morris do Brasil e realizada pelo Datafolha em 2018. Foram ouvidas 1.982 pessoas com 18 anos ou mais, em 129 municípios de todas as regiões do País. Os entrevistados foram escolhidos com base na representatividade de gênero, renda e escolaridade da população brasileira segundo a PNAD 2016.

ENQUETE – A Folha foi às ruas conversar com as pessoas para saber se conheciam alguma alternativa de fumo que não seja o cigarro, se tinham noção que havia opções menos nocivas à saúde e se concordam que as empresas deveriam poder comercializar produtos de tabaco aquecido.

“Eu não conhecia essas versões menos nocivas à saúde. Na verdade, eu não sou favorável a nenhuma opção porque tanto faz. É tudo prejudicial do mesmo jeito, eu não gosto de quem fuma, odeio sentir o cheiro de cigarro. Mas acho que uma opção menos nociva poderia ajudar as pessoas a largar aos poucos o fumo”, opinou Luciane Magalhães, 22 anos, auxiliar de limpeza.

Já para a operadora de caixa Valéria Pereira Nogueira, 26 anos, qualquer opção de fumo é prejudicial à saúde.

“Não conheço nenhuma, mas acredito que todas as opções prejudicam a saúde, mesmo o cigarro eletrônico. Eu acho que o tabaco aquecido não deveria ser legalizado para comércio porque prejudicaria ainda mais. Acredito que o dano à saúde é o mesmo e incentiva a pessoa a continuar o vício e o certo é incentivar a deixá-lo, ter uma opção de tratamento”, afirmou.

O estudante de História Cassiano Ricardo, 24 anos, aposta que políticas públicas são a solução para ajudar a quem quer parar de fumar.

“Eu não conheço nenhuma opção. Se ele é proibido no Brasil é porque deve ter alguma coisa que faça mal ao consumidor. Então, não deve ser comercializado. Acho que deveria ter mais opções de tratamento para fumantes e também ter mais políticas públicas para quem tem interesse em parar de fumar. O governo deveria olhar de forma mais especial para isso”, avaliou.

Prefeitura não responde sobre tratamentos ofertados

Questionamos a Prefeitura de Boa Vista sobre quais atendimentos são oferecidos a quem deseja parar de fumar, bem como onde eram ofertados, mas não houve resposta.

O governo informou que o Estado atua somente na capacitação, quando solicitado, das equipes que atuam na Rede de Atenção Básica de Saúde, ligada aos municípios e que, tanto o tratamento, quanto a prevenção, são atribuições municipais. (F.A)