Cotidiano

Maioria dos venezuelanos quer ir embora de Roraima

Cerca de 500 venezuelanos estão cadastrados para transferência, mas processo está travado por falta de articulação entre órgãos coordenadores

A interiorização de imigrantes venezuelanos para outros estados brasileiros está travada. Somente na manhã de ontem, 27, quase duas semanas após a assinatura do Decreto Federal nº 9.286, o Comitê Federal de Assistência Emergencial publicou a resolução indicando o general de Brigada Eduardo Pazuello para coordenação operacional que atuará em decorrência do fluxo migratória em Roraima provado pela crise humanitária na Venezuela.

O processo de interiorização envolve imigrantes venezuelanos que estão vivendo em abrigos ou acampamentos nos espaços públicos de Boa Vista. Apesar de não haver nada definido sobre quando serão levados e como será a logística, mais de 500 venezuelanos que vivem no abrigo do ginásio Tancredo Neves já foram cadastrados pela Defesa Civil do Estado. Segundo o órgão, 90% deles querem deixar Roraima.

“Fizemos levantamento no abrigo e praticamente todos estão interessados em sair do Estado e ir para outras regiões, pois teriam oportunidade de emprego. Uma minoria gostaria de ficar porque conseguiram emprego aqui e, indo embora, ficaria distante da família”, disse o comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima, coronel Doriedson Ribeiro.

Antes de deixarem o Estado, no entanto, os estrangeiros estão sendo imunizados pelo Ministério da Saúde contra doenças como sarampo e malária. Inicialmente 350 imigrantes venezuelanos serão encaminhados para São Paulo e outros 180 refugiados seguirão para Manaus, onde devem receber assistência e oportunidades de emprego. “A ida não é obrigatória, todos são consultados e caso queiram ir para outros Estados será feito a providência e irão assinar termo de anuência concordando com a transferência”, explicou.

Conforme o coronel, todos os estrangeiros que desejarem ir para outros Estados devem se submeter à imunização e estar com a solicitação de refúgio emitida na Polícia Federal (PF). “Temos um cadastro de pessoas que querem ir, mas têm questões que devem ser avaliadas, como a imunização que está sendo verificada pelo Ministério da Saúde, assim como a documentação, que é responsabilidade da Polícia Federal”, destacou.

Doriedson afirmou que os venezuelanos entenderam que Roraima não tem mais condições e mercado de trabalho para atendê-los. “Deve vim para cá um gestor federal para gerenciar essa questão. Ainda não tem nada muito certo, porque não tem nada oficial e os órgãos estão se articulando para aguardar orientações referentes à interiorização. Não podemos assumir essa articulação sozinhos, tem que ter a participação do Governo Federal para coordenar”, frisou. (L.G.C)

Direito das crianças e adolescentes venezuelanos é tema de audiência pública

O direito das crianças e adolescentes migrantes da Venezuela foi tema de debate em audiência pública realizada na tarde de ontem, 27. A discussão visa a elaboração de medidas que possam auxiliar os jovens em situação de abandono e vulnerabilidade.

O evento foi organizado pela Comissão Especial da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados Brasileiros – Seccional Roraima (OAB-RR) no auditório do Centro Universitário Estácio da Amazônia e contou com a presença de representantes do poder público, entidades não governamentais e acadêmicos da instituição.

Ao final da reunião foi elaborada uma ata da audiência pública, que foi assinada pelos membros presentes e será encaminhada para a OAB Nacional, para os representantes públicos na esfera municipal, estadual e federal. A ideia é que a Comissão da OAB Roraima atue no cumprimento dos pontos elaborados e na fiscalização.

PAPEL DA OAB – A presidente de comissão, Denise Cavalcanti Calil, ressaltou que a sociedade precisa discutir a situação de vulnerabilidade dos jovens, que chegam ao Estado por conta do grande fluxo migratório. “A quantidade de crianças e adolescentes que estão nas ruas é imensa. Por isso, a gente resolveu realizar essa audiência pública. A nossa pauta primordial é definir o que fazer para amenizar o sofrimento das crianças e adolescentes em situação de abandono e vulnerabilidade”, explicou.

O vice-presidente da OAB, Ednaldo Vidal, defendeu que é papel da instituição e da própria Constituição é defender a dignidade da pessoa humana, sem divergência da sua nacionalidade, sem discriminação e discrepância entre estrangeiros e brasileiros. “Nós queremos unir as forças e buscar a participação das entidades, do Exército Brasileiro, o reforço da vigilância sanitária na barreira”, salientou. (P.C)

Educação básica é a principal dificuldade enfrentada pelas crianças, afirma Diocese

A Irmã Telma Lage, da Diocese Roraima, atua na causa da migração venezuelana em Roraima desde o seu início e tem um conhecimento profundo das barreiras enfrentadas pelos estrangeiros. Presente na audiência pública, Telma defendeu que o acesso das crianças e adolescentes à educação é a principal dificuldade enfrentada pelos migrantes.

“Algumas crianças que chegaram no final do ano passado foram matriculadas no 1º ano do Ensino Fundamental. São crianças de dez, 12 anos que não querem ir para uma turma com crianças de seis anos”, relatou.

Ela afirma que é preciso fazer uma prova de nivelamento, para saber em que série a criança se enquadra. Telma acredita inclusive que o fato pode facilitar a inserção do jovem na escola e no aprendizado da língua portuguesa. “Até mesmo por que a linguagem vai ser aprendida muito mais no convívio”, pontuou. “O fato é que se colocar pré-adolescentes junto com as crianças de seis anos não é uma boa ação para nenhum dos dois grupos. Por isso é tão importante realizarmos essas audiências públicas. Nós precisamos conversar e acertar esses caminhos”, acrescentou. (P.C)