Um relatório apresentado pelo Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente de Roraima (Fórum DCA/RR) apontou que 167 crianças e adolescentes da comunidade indígena Warao estariam em situação de extrema vulnerabilidade no acampamento Yakera Ine, localizada no bairro Pintolândia. O documento, protocolado nessa quarta-feira (25) em resposta ao Ministério Público de Roraima (MP-RR) após denúncia de desnutrição infantil, revelou dificuldades no acesso à educação, saúde e condições dignas de moradia.
Os dados, aos quais a Folha teve acesso, mostram que 71 crianças e adolescentes estão fora da escola, enquanto apenas 60 frequentam aulas regularmente. A saúde é outro ponto: 76,8% dos jovens da comunidade não receberam atendimento médico nos últimos seis meses. Conforme o relatório, a ausência de tradutores nos postos e hospitais, associada à xenofobia relatada pelas famílias, foi identificada como uma barreira frequente.
As condições de moradia são descritas como insalubres e inadequadas para o desenvolvimento das crianças. As famílias estariam vivendo em habitações improvisadas, expostas a doenças como tuberculose e diarreia grave, com relatos de sujeira, presença de ratos e fezes de pombos.
Mortes e abandono institucional
Além disso, o relatório apontou que, entre 2022 e 2024, sete crianças e adolescentes morreram no acampamento Yakera Ine. As mortes foram causadas por doenças como insuficiência renal, sepse e pneumonia.
Nessa quarta, segundo as informações, mais uma criança morreu, vítima de tuberculose. Euligio Jonas Warao, liderança indígena, relatou que o menino seu sobrinho e denunciou o descaso das autoridades.
“Mais um morreu. Esse é meu sobrinho. Totalmente doloroso, muito forte. Por abandono total. Ninguém vem aqui, ninguém vem nos ver. Todo o governo está assim, praticamente contra nós. Estamos aqui há 8 anos, desde que chegamos. Nem a prefeitura, nem o Estado, nem a União estão nos levando em conta”, afirmou o indígena.
No documento, o coordenador executivo, Paulo Thadeu Franco das Neves, também considerou um abandono institucional e a ausência de políticas públicas efetivas. “Reafirmamos a defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e o pedido da Comunidade Indígena Migrante Warao ‘por um pedaço de terra para poder plantar e manter a sua cultura'”, menciona.
O acampamento dos Warao no bairro Pintolândia surgiu como abrigo aos indígenas venezuelanos migrantes e gerido pela Operação Acolhida (Opa) até 2022. Depois da saída da Opa do cotidiano de gestão, o relatório detalha que “relatam as lideranças Warao que diversos órgãos humanitários também deixaram, coincidentemente, de prestar assistência aos indígenas alojados naquele equipamento de gestão migratória”.
Relatório
O relatório “Etno-Histórico e Situacional sobre a Comunidade Indígena Warao ‘Yakeráine'” é resultado de levantamento de dados e tabulação, feito entre os dias 18 e 23 de dezembro. O documento contou com a colaboração de organizações como a Texoli Associação Ninam de Roraima (TANER), a Associação dos Estudantes de Roraima (ASSOER) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Roraima (SINJOPER) e os pesquisadores Raniere de Oliveira Carvalho e Raoni Borges Barbosa.