ANA GABRIELA GOMES
Editoria de Cidade
Nos últimos quatro anos, Roraima teve 2.233 casos de HIV/Aids confirmados pelo Núcleo de Controle de DST/Aids e Hepatites Virais do Estado. O ano mais expressivo foi 2018, com 660 confirmações. Entre o público atingido, nenhuma novidade. Jovens de 20 a 29 anos continuam a liderar os casos, sendo a maioria do gênero masculino. Em 2018, mais de 70% das confirmações ocorreram em homens.
Estamos em fevereiro. Mais um Carnaval se aproxima e, com ele, a divulgação de campanhas alusivas à prevenção na hora das relações sexuais. O trabalho, no entanto, é desenvolvido durante todo o ano com o intuito principal de prevenir. Mas, antes de entrar neste assunto, vamos esclarecer um detalhe importante: HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) não são a mesma coisa.
Apesar de ser o vírus que causa a Aids, o HIV está relacionado ao diagnóstico. A Aids, por sua vez, ocorre quando há uma infecção/doença oportunista, como a tuberculose, ou algum dos critérios que fechem o caso, como o linfócito CD4 ou uma carga viral. “Uma pessoa que recebe o diagnóstico de HIV vai passar a vida com o vírus, mas isso não quer dizer que ela tenha Aids”, explicou a gerente do Núcleo de Controle, Sumaia Dias.
De acordo com o Ministério da Saúde, dos 900 mil brasileiros que carregam o vírus HIV atualmente, cerca de 135 mil (15%) não sabem que possuem o vírus. É daí que vem a pressa em relação ao diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento para quebrar a cadeia de transmissão. Conforme Sumaia, assim que o portador entra na rede, ele inicia os procedimentos de tratamento, acompanhamento e monitoramento.
Conforme exigido por protocolo, o tratamento inicia com a terapia antirretroviral para zerar a carga viral do portador. Com a carga zerada, é iniciado o monitoramento e, três meses depois, o portador já é uma pessoa que não transmite o HIV, apesar de ainda o ter. Portanto, o monitoramento permanece, uma vez que o portador está propício a adquirir outras doenças em razão da imunidade comprometida.
Na capital, todas as unidades básicas de saúde (UBS) têm testagem disponível. “Outro objetivo nosso é garantir que esse portador de HIV nunca desenvolva Aids. Por isso, nosso trabalho diário é facilitar o acesso às unidades para que, de fato, o atendimento seja rápido e que haja acolhimento por parte dos servidores”, disse.
Sumaia também reforçou o trabalho contínuo de descentralização de tratamento, visto que, antigamente, o serviço era centralizado no Hospital Coronel Mota. Atualmente, 12 unidades estão capacitadas para o atendimento. “Se a pessoa mora no Raiar do Sol e teve o HIV positivo, mas nenhuma coinfecção, ela passa pela equipe e lá mesmo pega o medicamento, sem precisar se deslocar”, relatou.
Camisinha não é o único método de proteção
Tanto o preservativo quanto a testagem rápida são adquiridos em unidades de saúde (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
A camisinha não é o único método de prevenção de doenças e/ou infecções. Se o assunto é evitar o HIV/Aids, uma das melhores saídas é a prevenção combinada. Segundo a gerente do Núcleo de Controle de DST/Aids e Hepatites Virais, Sumaia Dias, o método consiste no uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição Sexual (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição Sexual (PEP). A PrEP consiste na tomada diária de um comprimido que impede que o HIV infecte o organismo, antes de a pessoa ter contato com o vírus. A PEP, por sua vez, é indicada para quem teve exposição de risco, sexual ou não. Durante as 72h seguintes à exposição, basta se dirigir a uma unidade de saúde e dar início a uma medicação de 28 dias que também vai prevenir o HIV. Vale lembrar que todo o tratamento é gratuito. A gerente ressaltou a importância do diálogo no início das relações. “É nesse momento que é possível negociar o uso do preservativo e perceber as possibilidades de prevenção, seja para sexo anal, vaginal ou oral. Não só para o HIV, como para outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s)”, explicou.
“O foco é a proteção, seja no Carnaval ou não”
Apesar do trabalho de prevenção ser contínuo durante o ano, as ações costumam ser intensificadas durante o Carnaval, principalmente em relação aos insumos, como preservativos e testagens. “O trabalho é focado na relação sexual e na proteção, seja no Carnaval ou não. Nas nossas campanhas, procuram enfatizar que se há uma relação sexual, independente das práticas, o preservativo deve estar inserido”, contou a gerente do Núcleo de Controle, Sumaia Dias.
Para a gerente, além das entradas de todas as UBS’s da capital, os preservativos deveriam ser encontrados em todos os espaços. Durante o período do Carnaval, uma das ações intensificadas são as externas. No último domingo, 2, uma equipe do Núcleo esteve no Parque Anauá. “Todo momento é uma oportunidade de testar. Sempre que vamos em ações, nunca voltamos sem um diagnóstico, seja de sífilis, HIV ou hepatite. É oportunidade de conversar com o público sobre as práticas sexuais e a prevenção”, finalizou.