Cotidiano

Mais de 70% dos mutilados no trânsito de RR são motociclistas

Núcleo de Reabilitação atende a mais de 6.700 pacientes ao mês, a maioria, vítima da violência no trânsito roraimense

Quem vai ao Núcleo de Reabilitação Física, no bairro Nova Canaã, zona Oeste, pensa que a unidade de saúde é um hospital de guerra. O Núcleo atende as vítimas de acidentes de trânsito. O número de pessoas mutiladas é assustador. E pior: aumenta a cada ano em Roraima. Por mês, são atendidos mais de 6.700 pacientes, a maioria com sequelas gravíssimas: sem pernas, braços ou paralíticos. Mais de 70% desses mutilados são motociclistas.

A diretora-geral do Núcleo de Reabilitação, Camilla Gavioli, disse ontem à Folha que a unidade atende pacientes de todo o Estado, encaminhados por unidades de saúde do governo ou de prefeituras. O número de atendimento é crescente. Cada fisioterapeuta, por exemplo, atende uma média de 300 pacientes por semana.

Para atender a demanda, a unidade conta com 21 profissionais, entre médicos fisiatras, fonoaudiólogos, ortopedistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas e enfermeiros. As consultas e sessões acontecem de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. O tempo de tratamento do paciente varia de dois a três meses, mas isso depende do trauma de cada um. “Quanto mais grave a situação do paciente, maior o tempo de tratamento.

Mas é o médico quem avalia a condição do paciente, que recebe alta quando reabilitado”, explicou a diretora.

Basta passar alguns minutos em frente ao Núcleo para perceber que o trânsito roraimense é uma guerrilha. As vítimas mutiladas chegam a toda hora de cadeira de roda, em maca ou de muleta. Quase todos com traumas e sequelas muitas vezes irreversíveis. Ali, alguns reaprendem a andar, mas muitos não têm a mesma sorte.

É o caso de um autônomo paralítico que não quis se identificar, morador do bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste. “Só lembro que acelerei e passei dos 100 quilômetros por hora. Foi quando bati em um carro que atravessou a rua. Acordei três dias depois no hospital. Não sentia mais as minhas pernas. Meu braço direito também estava dilacerado. Hoje estou inválido nesta cadeira de roda”, lamentou o paciente. (AJ)

‘Com fé em Deus voltarei a andar, afirma manicure

A manicure Juliana Viana, de 28 anos, moradora do bairro Tancredo Neves, zona Oeste, foi mais uma vítima da guerrilha urbana no trânsito roraimense. Ontem pela manhã, em entrevista à Folha, ela lembrou os momentos difíceis que passou na noite do dia 6 de março do ano passado, quando andava de bicicleta pela movimentada avenida Ataíde Teive, no bairro onde mora.

“Pedalava com meus dois filhos na garupa quando um motociclista me atropelou. Fui atingida em cheio. Garças a Deus meus filhos não se feriram tanto, mas eu quebrei o fêmur e sofri lesões graves nos nervos. Já faz dez meses que estou nesta cadeira de rodas, fazendo fisioterapia aqui no Núcleo. Mas, com fé em Deus, voltarei a andar normalmente”, disse Juliana, confiante em sua plena recuperação.

A manicure lembrou que, após sofrer o acidente, os médicos chegaram a desenganá-la. “Falaram que eu não voltaria a andar, mas Deus é grande e estou recuperando os movimentos de minhas pernas e tenho certeza que daqui mais um tempinho sairei desta cadeira”, disse.

O dois filhos de Juliana, de 10 e 6 anos, também acreditam na recuperação da mãe. “O amor que sinto por eles me dá forças para eu superar este trauma. Aliás, eu já o superei. Agora é só terminar meu tratamento, minha fisioterapia e voltar a andar”, frisou a paciente, ontem pela manhã, à porta de entrada do Núcleo. (AJ)

Avenidas Ataíde Teive, Princesa Isabel e Ville Roy registram a maioria dos acidentes

O Departamento Estadual de Trânsito (Detran) registrou, no primeiro semestre do ano passado, 2.342 acidentes em Roraima, contra 1.966 ocorridos no mesmo período de 2014. A estatística aponta 85 mortes até a metade de 2015. Houve um aumento significativo de 25%, comparados com o mesmo período dos anos 2014 e 2015.

Os locais com maior incidência de acidentes em Boa Vista foram as avenidas Ataíde Teive, com 218 registros; Princesa Isabel, com 104; e Ville Roy, também com 104. A maioria das batidas ocorreu no Centro e nos bairros Asa Branca e Mecejana, zona Oeste.

A maioria das batidas ocorreu principalmente aos fins de semana. Os números do Detran também apontam que os condutores envolvidos, em grande parte, estavam alcoolizados e dirigindo em alta velocidade. O total de mortos e de acidentes em 2015 ainda não foi contabilizado.

Até o encerramento da matéria, às 18h30 de ontem, o Governo do Estado não havia informado o número mensal de vítimas de acidente de trânsito atendidas no Pronto Socorro Francisco Elesbão. (AJ)