A chuva que caía em Pacaraima na sexta-feira, 16, criou mais dificuldades àqueles que formavam a enorme fila de venezuelanos no posto da Polícia Federal (PF) em Pacaraima. Os estrangeiros se aglomeravam em busca de permissão para entrar no Brasil. Muitos não escaparam do mau tempo e ficaram estirados nas calçadas dos comércios.
Desde 2014, Pacaraima recebe um fluxo migratório nunca visto entre Brasil e Venezuela. Os habitantes do país vizinho cruzam a fronteira não apenas para fazer compras, mas para permanecer na cidade.
Um levantamento feito pela Polícia Federal apontou que Roraima recebeu, apenas no ano passado, 70.757 estrangeiros vindos da Venezuela. Destes, mais de 60%, ou 45.221 continuam residindo no estado. São mais de 5,8 mil imigrantes, em média, entrando mensalmente pela fronteira de Pacaraima.
A realidade no município é a mesma observada em Boa Vista. Sem ter onde ficar e sem dinheiro, boa parte se refugia no abrigo localizado no bairro Operário (Obrero), que conta com 163 venezuelanos. Enquanto esteve na cidade, a Folha constatou, no entanto, que vários imigrantes preferem ficar nas ruas e dormir nas calçadas das dezenas de lojas do Centro.
Os comerciantes de Pacaraima estão com grande estoque de mercadorias parado nos estabelecimentos. Um dos motivos é a desvalorização da moeda venezuelana, que há poucos meses estava na faixa dos 350 bolívares por R$ 1,00. Agora, o câmbio é de B$ 900 para cada R$ 1,00. Para não saírem no prejuízo, os alimentos são vendidos aos venezuelanos abaixo do preço de mercado.
Além da insegurança, um dos reflexos da crise migratória pôde ser sentido na área da saúde. Pacaraima tem enfrentado dificuldade por falta de recursos humanos, da insuficiência de equipes para procedimentos de média e alta complexidade e de recursos para os atendimentos no Hospital Délio Tupinambá e no posto de saúde do município.
Em todo o ano passado, conforme a direção do Hospital, foram 5.011 atendimentos a venezuelanos e brasileiros na unidade, o que dá, em média 167 acolhimentos por dia. Do total, 212 pacientes precisaram ser internados. (L.G.C)
Santa Elena enfrenta escassez de combustível
A crise econômica e humanitária enfrentada na maioria das cidades venezuelanas, onde faltam alimentos, remédios e itens básicos de higiene, não parece ter atingido o município de Santa Elena de Uairén, na fronteira com Pacaraima.
A reportagem foi até a cidade de pouco mais de 29 mil habitantes e presenciou ruas movimentadas e o comércio aquecido, distante da realidade vivida pela maioria dos venezuelanos. Na barreira da Guarda Nacional Bolivariana, dezenas de carretas carregadas com gêneros alimentícios produzidos no Brasil esperavam por liberação para abastecer as grandes cidades.
Antes, milhares de turistas brasileiros costumavam ir à Santa Elena atraídos pelo clima, cachoeiras e preços baixos. Agora, os garimpeiros que trabalham em minas de diamante, ouro ou cristal e que compõem boa parte da população santelenense é que têm mantido aquecido o movimento no comércio.
Apesar de não sofrerem tanto com a falta de alimentos, venezuelanos que moram em Santa Elena enfrentam situação atípica. Mesmo morando no país que é o quarto maior produtor de petróleo do mundo, o combustível nos dois únicos postos do município está sendo racionado, ocasionando longas filas. Cada veículo tem direito a abastecer apenas 20 litros por dia, seja gasolina ou diesel.
O posto de combustível internacional, que fica entre Pacaraima e Santa Elena do Uairén, e único local que permitia o abastecimento de veículos brasileiros, segue fechado por indígenas venezuelanos desde o final do mês passado. Os índios alegam que a empresa não estava pagando, como firmado em contrato, os dividendos pelo uso de suas terras. (L.G.C)