O que era para ser uma manifestação pacífica acabou se transformando em ato de violência e vandalismo. Assim foi o protesto na manhã segunda-feira, 4, na BR-174, promovido por pessoas contrárias à retirada de garimpeiros da reserva indígena Yanomami.
Com a estrada bloqueada, uma fila de carros e caminhões se formou ao longo da rodovia, próximo a região do Água Boa. Entre os motoristas estava a microempresária Jaimina Di Manso, de 40 anos, que foi atacada pelos manifestantes.
Ela estava no carro com sua mãe que é diabética e precisava tomar insulina. Ao tentar se aproximar do bloqueio com o veículo, teve o carro quebrado com paus e pedras.
“Eu precisava chegar em casa para aplicar a insulina na minha mãe e então decidi tentar pedir autorização para passar, mas eles não quiseram nem conversar e começaram a atacar meu carro como vândalos. Tacaram pedras que atingiram inclusive minha filha, uma criança de 6 anos. Minha mãe ficou machucada no braço e eu e minha filha também ficamos machucadas”, contou.
Ainda de acordo com a Jaimina, agentes da Polícia Rodoviária assistiram às agressões e não esboçaram reação.
“A Polícia ficou só assistindo, se a gente passa com o farol apagado a PRF pode até nos prender, mas essas pessoas tentando matar a mim e minha mãe eles não fizeram nada”, reclamou.
Uma das manifestantes, a garimpeira Laura Andrade, de 45 anos, admitiu as agressões feitas por partes dos garimpeiros.
“Nós estamos aqui e fechamos a BR, e todos os motoristas estão respeitando e aguardando na fila. Porém essa senhora que veio com a mãe dela e uma criança dentro do carro com os vidros fechados e reagiu contra os garimpeiros, arrastando a faixa da manifestação, levando uma criança e uma grávida pela frente. Nós pedimos pra ela parar, abrir o vidro e se identificar, e ela não fez. Por isso nós atacamos e quebramos o carro dela, e foi quando nós vimos que tinha uma criança e a gente parou. E a PRF foi lá e tomou conta do caso”, relatou.
Sobre os motivos da manifestação, Laura disse que foi feita por conta da falta de respostas por parte do Governo e Exército.
“Nós estamos aqui porque não houve resposta até agora, então decidimos fechar e trancar a BR-174 de uma vez por todas. Já não é mais uma manifestação pacífica. Estamos em busca dos nossos direitos, queremos uma solução, uma resposta. Que o Exército compareça e nos dê uma alternativa. Nós queremos trabalhar. Aqui é muito pai de família e mãe de família”, explicou.
De acordo com a mulher, garimpeiros que ainda estão nas áreas de garimpos estão morrendo por não poderem voltar para a cidade.
“Tem muita família passando necessidade; tem gente morrendo lá dentro. Ontem morreu dois garimpeiros doentes, com malária, sem comida. Pedimos auxílio do Exército e eles se negaram a ajudar. E até hoje tem um corpo lá na beira do rio. Nós estamos indignados, buscando alternativas. O que o Governo Federal pode fazer pela gente? Enquanto não houver resposta nós iremos ficar aqui, com a rodovia fechada por tempo indeterminado”, finalizou.
PRF diz que tentou ajudar família agredida
A reportagem da Folha procurou a Polícia Rodoviária Federal para saber sobre o fechamento da rodovia e o ataque à motorista. De acordo com as equipes, no ponto da manifestação havia duas viaturas, uma em cada lado da ponte sobre o Rio Água Boa, no km 485 da BR-174, no início do protesto. Em determinado momento, uma das equipes se deslocou até o posto da PRF para imprimir documentos a fim de subsidiar as argumentações nas negociações para desobstrução da rodovia. Nesse período, o veículo das vítimas da depredação tentou furar o bloqueio imposto pelos manifestantes no lado onde não havia uma viatura naquele instante. A outra equipe de agentes, juntamente com policiais militares e civis, ao visualizarem a ação criminosa deslocaram-se imediatamente com o objetivo de fazer cessar as agressões. No entanto, ao chegarem no local, as ações já haviam cessado e não foi possível identificar os agressores de imediato. A desordem no local foi controlada e a segurança mantida. Um boletim de ocorrência policial já foi produzido e entregue à polícia judiciária juntamente com as provas coletadas para que os culpados sejam identificados e investigados. Vale destacar que a equipe PRF se prontificou em encaminhar as vítimas até o hospital. No entanto, o auxílio foi negado e o SAMU foi acionado para o local. Foi solicitado um guincho para recolhimento do veículo danificado.