![As crianças receberam aulas de preservação ambiental na escola Vovó Tetinha, em Santa Maria do Boiaçu (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV) As crianças receberam aulas de preservação ambiental na escola Vovó Tetinha, em Santa Maria do Boiaçu (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)](https://uploads.folhabv.com.br/2025/02/aN5wAPKt-PQA-2025-Fotos-NILZETE-FRANCO-FOLHA-BV-470-1024x683.webp)
Anualmente milhares de filhotes de quelônios, como são chamados as tartarugas, tracajás e iaças, eclodem nas praias naturais que se formam entre os meses de janeiro e fevereiro no baixo Rio Branco. Na última quinta-feira, 6, o programa Quelônios da Amazônia (PQA), que é responsável pelo manejo dos ovos de tartaruga da amazônia, principal espécie da região, realizou a soltura de milhares de filhotes junto com 25 crianças da comunidade de Santa Maria do Boiaçu.
Esta é a primeira vez que a ação envolve as comunidades ribeirinhas da região, que tem os quelônios como parte de sua fonte de proteína, mas que deve ser controlada devido ao risco de extinção das espécies. A atividade envolveu a educação ambiental, orientação de manejo e a soltura das tartaruguinhas no tabuleiro de Santa Fé, como são chamadas as praias escolhidas para a desova.
O PQA está há 35 anos na região do baixo Rio Branco, atuando no manejo e na defesa da espécies de quelônios, principalmente a das tartarugas da amazônia, que são uma espécie vítima de tráfico ilegal de animais silvestres. O programa acompanha o período de desova e a eclosão em 19 tabuleiros na região, percebendo assim o desenvolvimento da espécie que saiu de instinção há dois anos.
“Existe uma competição natural dentro do rio, nisso a gente não pode intervir. Mas na praia nós podemos ajudar, alguns animais como urubus são quase que uma praga, pois não é natural que eles estejam nessa região e nos últimos anos aumentou o números deles aqui e nós evitamos a predação dos filhotes para que eles consigam chegar no rio em segurança”, explica Rui Bastos, coordenador do PQA.
Com o trabalho dos agentes, o programa conseguiu o feito de proteger mais de 100 mil filhotes somente neste periodo de eclosão. Anteriormente, o limite era de 80 a 90 mil.
Como a região do baixo Rio Branco é rodeada por comunidades ribeirinhas, que impulsionam o tráfico de animais para outros estados, o Ibama decidiu realizar a atividade de educação ambiental com a escola municipal Vovó Tetinha, de Santa Maria do Boiaçu. As crianças tiveram aulas sobre os quelônios e a preservaçãpreservaço ambiental, depois passaram por um concurso de desenhos em grupo que escolheria 25 crianças para realizar a soltura dos animais.
Ao chegarem no tabuleiro de Santa Fé, que fica há duas horas de barco da comunidade, as crianças se encantaram com os filhotes, pois algumas nunca tiveram o contato com os animais. Ao longo da manhã as crianças apresentaram os desenhos para os integrantes do programa e depois realizaram a soltura dos animais no rio.
O professor da turma do segundo ano, Júlio Aldo, explica que as crianças amaram a iniciativa e que foi enriquecedora também para ele, que sabia pouco sobre o projeto.
“As crianças ficaram felizes com essa descoberta, havia muitas coisas que elas nãno sabiam sobre as tartarugas. Para mim, é muito importante esse trabalho junto com as crianças, pois eles são o nosso futuro e levarão esse conhecimento adiante”, reforçou Júlio.
Combate ao tráfico de animais silvestres na região
O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Roraima, Diego Bueno, explica que a atividade é importante na região devido o alto índice de captura ilegal de tartarugas e filhotes durante o período de desova e eclosão. Os traficantes dos animais, conhecidos como tartarugueiros, sobem o rio Branco para realizar a captura dos animais, que ficam indefesos nesse período.
“No Brasil a caça é proibida, você não pode fazer a captura de um animal silvestre pois vai estar infringindo a lei. O Ibama faz esse trabalho de fiscalização para proteger principalmente as fêmeas das tartarugas da amazônia, que ficam vulneráveis após a postura dos ovos e é nesse momento que os traficantes fazem a captura desses animais para o comércio ilegal de animais silvestres”, explica Diego.
O baixo Rio Branco é uma área de diversos conflitos com traficantes de animais silvestres e de drogas, é o que explica o soldado Elton Souza, da Companhia Independente de Policiamento Ambiental (Cipa).
“O apoio que nós damos ao projeto é principalmente em relação aos tartarugueiros, que estão por aqui na época de desova. Vale ressaltar que a multa para quem captura tartaruga é de R$ 5 mil, por unidade, tanto as adultas, quanto os filhotes e os ovos”, explica o soldado.