Mais de 100 mil filhotes de tartarugas são soltos no Rio Branco com a ajuda de crianças ribeirinhas

Esta é a primeira vez que a ação envolve as comunidades ribeirinhas da região, que tem os quelônios como parte de sua fonte de proteína, mas que deve ser controlada devido ao risco de extinção das espécies

As crianças receberam aulas de preservação ambiental na escola Vovó Tetinha, em Santa Maria do Boiaçu (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
As crianças receberam aulas de preservação ambiental na escola Vovó Tetinha, em Santa Maria do Boiaçu (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Anualmente milhares de filhotes de quelônios, como são chamados as tartarugas, tracajás e iaças, eclodem nas praias naturais que se formam entre os meses de janeiro e fevereiro no baixo Rio Branco. Na última quinta-feira, 6, o programa Quelônios da Amazônia (PQA), que é responsável pelo manejo dos ovos de tartaruga da amazônia, principal espécie da região, realizou a soltura de milhares de filhotes junto com 25 crianças da comunidade de Santa Maria do Boiaçu.

Esta é a primeira vez que a ação envolve as comunidades ribeirinhas da região, que tem os quelônios como parte de sua fonte de proteína, mas que deve ser controlada devido ao risco de extinção das espécies. A atividade envolveu a educação ambiental, orientação de manejo e a soltura das tartaruguinhas no tabuleiro de Santa Fé, como são chamadas as praias escolhidas para a desova.


O PQA está há 35 anos na região do baixo Rio Branco, atuando no manejo e na defesa da espécies de quelônios, principalmente a das tartarugas da amazônia, que são uma espécie vítima de tráfico ilegal de animais silvestres. O programa acompanha o período de desova e a eclosão em 19 tabuleiros na região, percebendo assim o desenvolvimento da espécie que saiu de instinção há dois anos.

Filhotes de tartarugas da Amazônia são soltos no Rio Branco (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

“Existe uma competição natural dentro do rio, nisso a gente não pode intervir. Mas na praia nós podemos ajudar, alguns animais como urubus são quase que uma praga, pois não é natural que eles estejam nessa região e nos últimos anos aumentou o números deles aqui e nós evitamos a predação dos filhotes para que eles consigam chegar no rio em segurança”, explica Rui Bastos, coordenador do PQA.

Com o trabalho dos agentes, o programa conseguiu o feito de proteger mais de 100 mil filhotes somente neste periodo de eclosão. Anteriormente, o limite era de 80 a 90 mil.

Programa realiza o manejo das espécies de tartaruga da Amazônia (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Como a região do baixo Rio Branco é rodeada por comunidades ribeirinhas, que impulsionam o tráfico de animais para outros estados, o Ibama decidiu realizar a atividade de educação ambiental com a escola municipal Vovó Tetinha, de Santa Maria do Boiaçu. As crianças tiveram aulas sobre os quelônios e a preservaçãpreservaço ambiental, depois passaram por um concurso de desenhos em grupo que escolheria 25 crianças para realizar a soltura dos animais.

Ao chegarem no tabuleiro de Santa Fé, que fica há duas horas de barco da comunidade, as crianças se encantaram com os filhotes, pois algumas nunca tiveram o contato com os animais. Ao longo da manhã as crianças apresentaram os desenhos para os integrantes do programa e depois realizaram a soltura dos animais no rio.

Crianças ficaram encantadas com os animais (Foto:Nilzete Franco/FolhaBV)

O professor da turma do segundo ano, Júlio Aldo, explica que as crianças amaram a iniciativa e que foi enriquecedora também para ele, que sabia pouco sobre o projeto.

“As crianças ficaram felizes com essa descoberta, havia muitas coisas que elas nãno sabiam sobre as tartarugas. Para mim, é muito importante esse trabalho junto com as crianças, pois eles são o nosso futuro e levarão esse conhecimento adiante”, reforçou Júlio.

Crianças apresentaram os desenhos escolhidos para participar da soltura (Foto: Leandro de Sousa /FolhaBV)

Combate ao tráfico de animais silvestres na região

O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Roraima, Diego Bueno, explica que a atividade é importante na região devido o alto índice de captura ilegal de tartarugas e filhotes durante o período de desova e eclosão. Os traficantes dos animais, conhecidos como tartarugueiros, sobem o rio Branco para realizar a captura dos animais, que ficam indefesos nesse período.

“No Brasil a caça é proibida, você não pode fazer a captura de um animal silvestre pois vai estar infringindo a lei. O Ibama faz esse trabalho de fiscalização para proteger principalmente as fêmeas das tartarugas da amazônia, que ficam vulneráveis após a postura dos ovos e é nesse momento que os traficantes fazem a captura desses animais para o comércio ilegal de animais silvestres”, explica Diego.

Ibama realiza o trabalho de fiscalização e preservação das espécies no baixo Rio Branco (Foto: Nilzete Franco/ FolhaBV)

O baixo Rio Branco é uma área de diversos conflitos com traficantes de animais silvestres e de drogas, é o que explica o soldado Elton Souza, da Companhia Independente de Policiamento Ambiental (Cipa).

“O apoio que nós damos ao projeto é principalmente em relação aos tartarugueiros, que estão por aqui na época de desova. Vale ressaltar que a multa para quem captura tartaruga é de R$ 5 mil, por unidade, tanto as adultas, quanto os filhotes e os ovos”, explica o soldado.

CIPA atua na fiscalização de tartarugueiros na região (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)