Cotidiano

Membro do Movimento Puraké diz que usina trará mais prejuízo que vantagem

Com a decisão do Ministério de Minas e Energia (MME), por meio da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), de dar seguimento ao processo de construção da Usina Hidrelétrica do Bem-Querer, a ser construída no Rio Branco, em Caracaraí, na região centro-sul do Estado, o defensor público e colaborador do Movimento Puraké, Jaime Brasil Filho, avaliou como arriscada a reabertura do processo de construção, tendo em vista o momento político em que quase todas as grandes empreiteiras do Brasil e alguns políticos de Roraima estão envolvidos em escândalos de corrupção.

“Como é que se diz que há de se economizar dinheiro público, mas se abre uma exceção para uma obra caríssima, com um custo benefício péssimo?”, questionou ao enfatizar que o lago de quase 560 Km quadrados que vai se formar com a barragem é maior do que o reservatório previsto para a Usina de Belo Monte, no Pará, que terá 519 quilômetros quadrados. No entanto, a usina paraense prevê uma capacidade instalada de cerca de 11.200 megawatts, contra os 708 megawatts da usina do Bem-Querer.

Para o defensor, diferente de outros estados, a única artéria hídrica de Roraima é o Vale do Rio Branco. Considerando que cerca de 90% da área territorial de Roraima fazem parte do Vale do Rio Branco, Jaime Brasil apontou que haverá prejuízo ambiental em relação à fauna dos organismos aquáticos e terrestres, além do prejuízo junto à cultura e sobrevivência dos ribeirinhos. Além disso, ele disse que o prejuízo para a qualidade dos serviços de água no lavrado e nas florestas seria incalculável.

De acordo com os dados já levantados pela EPE, a área a ser inundada é maior do que a de Belo Monte, enquanto a energia a ser gerada é apenas 6% da energia que deve ser gerada pela usina no Pará. “Ou seja, só tem custo. Não tem benefício nenhum. Porque esses 700 megawatts que estão previstos não serão suficientes para alimentar um possível crescimento do Estado nos próximos anos”, explicou.

ALTERNATIVAS – O defensor apontou a energia eólica como alternativa, ao citar o Linhão de Tucuruí, que pode chegar ao Estado e ser interligado inclusive com o sistema da Venezuela. Para Jaime Brasil, o momento político e econômico não é adequado para a construção.

De acordo com as informações da EPE feitas em 2013, a região é uma exceção à falta de ventos na Amazônia. À época, a empresa apontou que as montanhas da região são altas o suficiente para serem varridas por uma estreita faixa de ventos com velocidade média anual entre oito e 10 metros por segundo, que sopram da foz do Rio Amazonas para o interior do continente.

PURAKÉ – O Movimento Puraké foi criado em junho de 2012 com um objetivo de evitar que a Usina Hidrelétrica do Bem-Querer fosse construída. Tudo começou após a Emenda Constitucional 03, de 23 de outubro de 2012, aprovada pela Assembleia Legislativa, retirando o tombamento das corredeiras do Bem-Querer e da faixa de 500 metros das margens do Rio Branco, que eram protegidos pelo artigo 159 da Constituição do Estado de Roraima. (A.G.G)