Em Roraima, o mercado de prostituição sofreu grandes impactos com o aumento de casos de coronavírus. Nas ruas, sem cuidados além do alcool em gel, as prostitutas esperam por clientes que não têm medo de contaminação.
Com o intuito de ouvir as histórias dessas mulheres, a equipe de reportagem da FolhaBV foi até o bairro Caimbé, conhecido por ser um forte ponto de prostituição na Capital, principalmente após a crise na Venezuela, e conversou com outras que também atuam nas redes sociais.
Das ruas ao luxo, o preço varia de R$10 à R$150, elas dizem que tentam sobreviver, mas contam que muitos se enganam em pensar que é uma vida fácil.
Segundo elas, após a chegada do vírus, a demanda de clientes caiu para as prostitutas que esperam nas ruas, o que acarretou também na diminuição dos preços ofertados por programa. Enquanto antes cobravam de R$80 à R$100, agora varia entre R$10 à R$80.
As garotas de programa relatam que a maior preocupação ainda é com as doenças sexualmente transmissíveis e relatam que o uso de camisinha é indispensável.
“Mesmo se o cliente insistir, eu não aceito fazer sem proteção, pois R$50 não vale minha saúde”, contou uma delas.
Entretanto, nem todas se protegem contra o covid-19. Na faixa etária dos 20 anos, duas entrevistadas informaram que atendem mesmo se o homem estiver infectado com o vírus, porém cobram mais caro, pois precisam sobreviver.
Já outras afirmaram que o cliente deve tomar banho antes e depois do ato sexual, além de usarem máscara e álcool em gel. Além disso, outra regra é não beijá-lo, mas essa é uma exigência que vem antes da pandemia acontecer.
Entre as entrevistas, algumas delas relataram terem testado positivo para o coronavírus, mas se recuperaram sem sequelas.
Durante a conversa, elas relataram também as condições de higiene não é uma preocupação.
“Na pousada em que vamos fazer o programa é uma nojeira, chega a ser humilhante. Eles não trocam os lençóis e nem limpam nada. Já entrei em um quarto que tinha até fezes na cama e eles nem se deram o trabalho de limpar. É desumano. Não é porque sou prostituta que tenho que aceitar isso”, informou.
VIOLÊNCIA E FOME – A brasileira de 52 anos, que trabalha na área há mais de uma década, conta que começou a se prostituir por falta de oportunidade de emprego e apoio familiar, pois não têm condições financeiras.
Em um de seus programas, há cinco anos, foi agredida por um cliente bêbado, o que a deixou com sequelas graves, tanto no rosto quanto em seu psicológico.
“O soco que ele me deu quebrou meu maxilar. Por isso, fiquei internada no Coronel Mota por dois meses esperando fazerem minha cirurgia. Como eu tinha contas para pagar e estava totalmente sozinha, pedi para o médico me liberar. Então, até hoje tenho esse problema”, relatou.
Desde então, os problemas aumentaram, o que ficou ainda pior com a chegada do coronavírus.
“Cobro entre $10 e $15 pelo programa e mesmo assim tem dia que não consigo nada. Faz dois dias que eu não sei o que é comer, tanto por causa da dor quanto pela falta de dinheiro. Às vezes eu penso que se tivesse uma arma já teria ido embora, não aguento mais sofrer assim”, desabafou.
Os programas sexuais não são encontrados somente nas ruas (Foto: Diane Sampaio)
Em Roraima, um site viabiliza os programas com valores, preços e fotos das mulheres, que segundo uma das garotas de programa que se cadastrou, a procura vem aumentando.
“Acho que eles se sentem mais seguros em contratar os atendimentos por meio do site, do que procurar nas esquinas” contou. Larissa é amazonense e vem para Roraima passar temporadas em busca de trabalho. Aos 27 anos, ela conta que perdeu o emprego em Manaus e devido a dificuldade procurou pela atividade como uma forma de se sustentar. “Tive medo de receber os homens, mas a necessidade falou mais alto. Os cuidados são somente o alcool gel e fé, que tudo vai dar certo” disse.
Larissa também relatou que a falta de eventos na capital fez com que os homens procurassem pelo serviço. “Eu falo por mim, comecei a trabalhar no início da pandemia, e os clientes só foram aumentando, conversando com as outras meninas e esse cenário se repete. Com os lugares fechados e a falta de evento, os homens procuraram um meio de se divertir e extravasar de certa forma. Hoje, as coisas vão se normalizando, e no fim de semana, a procura acaba sendo menor” disse.
Ela conta que o coronavírus não é uma preocupação para os clientes.
“Entre os cuidados que adotei foi pedir que o cliente tomasse banho antes, pergunto se teve contato ou se já pegou, eles já não se importam, ou fazem qualquer pergunta relacionada ao covid. E a maioria já esteve infectado e perderam o medo, e não tem mais os cuidados, eles acreditam que não vão mais pegar o vírus, até hoje, eu só fiz um teste que deu negativo, hoje eu já não sei se já tive covid. A maioria também não usa máscara, entre todos os atendimentos, apenas uma pessoa utilizou a máscara. Então, medo eu tenho, por que tenho filhos e pai e mães idosos, mas a gente precisa trabalhar, e pessoas que tem outras profissões passam pela mesma situação que eu passo. Medo de sair de casa, mas vão todos os dias para o trabalho” relatou.