Cotidiano

Mercado informal se fortalece em meio a crise

Não é de hoje que a crise financeira e o número elevado de desempregados, que nesse primeiro trimestre de 2017 atingiu a marca de 14 bilhões de pessoas, têm contribuído cada vez mais para o fortalecimento do mercado informal no país.

Segundo o último levantamento realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), eles já representam mais de 10 milhões de trabalhadores em todo o país. Gente como Dalva Barros, de 37 anos, moradora de Rorainópolis, na região Sul do Estado.

Conforme ela, a decisão de trabalhar de forma independente surgiu da necessidade de complementar a renda de família. Com a venda de salgados, bolos, sucos naturais e sanduíches, que são oferecidos em cantinas escolares, ela consegue faturar cerca de R$ 2 mil por mês.

“Trabalho nesse ramo de alimentação há cerca de 20 anos e já tive a oportunidade até de ter o meu próprio restaurante. Quando meu marido foi transferido para Rorainópolis, tive que transferir essa atividade para lá, e também devido à falta de pessoal para ajudar no restaurante, acabei tendo que migrar para a área de trabalho por encomenda. Por incrível que pareça, é uma área bem mais lucrativa, tanto que faturo mais do que eu ganhava antes com o restaurante”, comentou.

Em Boa Vista, essa nova realidade é cada vez mais perceptível. Em qualquer lugar que vá, seja uma praça, ou simplesmente numa ida ao supermercado ou farmácia, lá está alguém oferecendo algum tipo de serviço, sendo o ramo de alimentos o mais comum.

“Esse é o tipo de serviço que é pouco afetado pela crise, até porque ninguém deixa de se alimentar, e se esse alimento agrada ao cliente, com toda certeza ele vai ter prazer em retornar”, destacou Paulo Cesar Ferreira, de 42 anos.

Dono de uma carrinho de salgados e sucos, o cearense contou à Folha que enveredou para esse ramo há cerca de 1 ano e seis meses, não tendo muito do que se queixar no que diz respeito a lucros com a venda de seus produtos.

“Antes de vir para Roraima, trabalhava fazendo serviços gerais em algumas fazendas no estado onde nasci. Como tenho família aqui, acabei me estabelecendo por aqui e não tenho muito do que me queixar”, disse o vendedor, ressaltando que costuma garantir uma renda mensal que varia entre R$ 700 a R$ 800.

Outro fato que também tem influenciado muitas pessoas a tentar a sorte no mercado informal é a possibilidade de obter a tão sonhada autonomia de vida. Esse é o caso do vendedor Jackson Pedro, de 33 anos.

Nascido no Estado, ele conta que passou cinco anos trabalhando como atendente de uma loja de materiais de construção, até decidir largar tudo para gerenciar seu próprio negócio. Com cerca de R$ 2.500 que ganha com a venda de salgados e sucos, ele consegue manter as despesas mensais de casa.

“Se tornou mais vantajoso eu abrir a minha barraca de venda de salgados, do que me submeter a ser empregado. Tenho uma boa lucratividade, consigo manter as contas em dia e ainda determino os meus dias de folga”, complementou.

DESVANTAGENS – Vale lembrar que, apesar de vantajoso, o trabalho informal, caracterizado pela não vinculação a qualquer tipo de relação empregatícia com empresas, também tem as suas desvantagens. Nessa condição, o trabalhador não goza de direitos trabalhistas assegurados pela lei, como férias, décimo terceiro salário, horas extras remuneradas, FGTS, licenças maternidade-paternidade, Seguro-Desemprego e, na sua grande maioria, acesso aos serviços de financiamento que demanda a formalização de emprego com carteira assinada.  (M.L)