Cotidiano

Metade dos crimes é relacionada a drogas

No primeiro trimestre deste ano, foram atendidas no HGR 217 vítimas de arma branca e 46 feridos com arma de fogo

A titular da Delegacia-Geral de Homicídios (DGH) da Polícia Civil de Roraima, Elisa Mendonça, ao falar sobre investigações referentes a homicídios no Estado, informou que pelo menos 50% dos homicídios estão ligados diretamente a drogas. Ela disse que as polícias fazem seu papel, mas faltam políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população e um projeto de ação em conjunto com vários órgãos do governo para enfrentar o problema.   

No ano passado, foram 74 casos de homicídios registrados em Roraima. “A metade dos homicídios está relacionada a drogas, quer seja por acerto de contas ou briga por ponto de drogas e cobrança. Por isso, temos que tratar de Segurança Pública como um todo. As polícias Civil e Militar têm feito seus trabalhos, mas o problema que visualizo é que falta uma atuação conjunta de vários órgãos do governo e a sociedade”, disse, se referindo a ações voltadas para políticas públicas através das secretarias de Segurança (Sesp), Educação e Desporto (Seed), Bem-Estar Social (Setrabes) e da Justiça (Sejuc).  

“Todos juntos para criar postos de trabalho, inserir mais a mulher no mercado de trabalho, ações mais firmes nas escolas para afastar crianças das drogas e uma política voltada para diminuir a quantidade de homicídios”, frisou a delegada.

Segundo ela, a Polícia Civil tem dado uma resposta rápida para a sociedade com a elucidação de crimes, o que tira o sentimento de impunidade e deixa de gerar mais violência. “Este ano, por exemplo, já ocorreram oito latrocínios [roubo seguido de morte] e elucidamos todos os crimes definindo a autoria dos casos e, na maioria deles, conseguimos prender ou fazer o pedido de prisão preventiva do acusado”, frisou.

VIOLÊNCIA – Dados fornecidos pelo Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico (Same) do Hospital Geral de Roraima (HGR) mostram que o número de atendimento no primeiro trimestre deste ano foi de 217 pessoas vítimas de arma branca (faca, terçados, facões etc.) e 46 de arma de fogo.

Roraima registra a menor taxa de homicídios da região Norte

O Estado de Roraima registrou 72 homicídios ocorridos no ano de 2014, o que corresponde a 14,5 mortes por cada 100 mil habitantes, segundo dados da pesquisa divulgada pelo Ministério da Justiça (MJ), no dia 15. Em relação aos outros estados da região Norte, Roraima foi o que apresentou a menor taxa percentual.

Os dados fazem parte do Diagnóstico dos Homicídios no Brasil, elaborado pelo Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), do Ministério da Justiça. Esta foi a primeira pesquisa elaborada em parceria com estados e municípios. O documento deve ser usado para elaborar políticas públicas de combate à violência.

Os números são iguais aos do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados no começo deste mês. Nesta pesquisa, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, responsável pelo levantamento, também contabilizou 72 homicídios dolosos – quando há a intenção de matar.

Segundo dados da pesquisa, na região Norte o Estado que apresentou a maior taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes foi o Pará, com 40 mortes. Na sequência aparecem os estados de Rondônia, com 30, Acre, com 24,3, Amazonas, com 23,5, e Amapá, com 15,3.   Os números de dados nacionais apontam que o estado da Bahia teve 5.450 mortes em 2014 e ocupa o primeiro lugar em números absolutos de homicídios no país. O Rio de Janeiro está em segundo lugar, com 4.610 casos; em seguida, está São Paulo (4.294 mortes), Ceará (4.144) e Minas Gerais, com 3.958 homicídios.

Proporcionalmente à população, o Estado com a maior taxa de assassinatos é o Ceará, com índice de 46,9 mortes por grupo de 100 mil habitantes. Sergipe vem a seguir, com 999 homicídios – taxa de 45. O Pará teve 3.232 homicídios e índice de 40. São Paulo tem um dos índices mais baixos, proporcionalmente: 9,8. O índice do Rio de Janeiro é 28.

GRUPOS – Dados do Censo de 2010 do IBGE apontam que a somatória de pretos e pardos representa 50,7% da população brasileira. Em 2013, esse grupo representou 72% das vítimas de homicídio no país. Entre brancos e amarelos, o índice foi de 26%.
O diagnóstico apresenta indicadores que buscam levantar quais os fatores de risco que levam ao cometimento de crimes, como a presença de gangues e drogas, violência patrimonial, violência interpessoal, violência doméstica, presença do Estado e conflitos da polícia com a população. (R.R)   

Sociólogo fala em crise de valores ao avaliar crimes registrados em RR

“A banalidade entre as relações humanas e a violência que tomou conta do nosso cotidiano mudaram a qualidade do respeito à vida. E a segurança humana é mínima nos dias atuais. Essa crise de valores acaba por levar ao homicídio”, analisou o sociólogo Linoberg Almeida, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), ao definir o número de casos de homicídios no Estado.

“A vida perdeu o significado do objetivo que tinha anos atrás na experiência humana. Tirar a vida de alguém por uma coisa torpe é mais rápido e fácil do que ela não dar mais valor às vidas das pessoas do mesmo jeito”, frisou. Segundo ele, para que as taxas de homicídios baixem no Estado, o sociólogo afirmou que deve ser feito um pacto pela vida e passar a tratar o trabalho das polícias com ações científicas.  

“É preciso que o Governo do Estado convoque a sociedade para que se possa repensar o que significa a vida das pessoas. Outro ponto é começar a tratar as polícias com trabalhos e ações científicas para aquilo que tem que ter respostas científicas. E para baixar os índices de criminalidade, tem que melhorar a qualidade da polícia e da Justiça no Estado. Para isso, precisamos de tratamento científico e planejamento objetivo. Ou se muda esse procedimento ou vamos continuar a ter números crescentes de atentados à vida da sociedade”, frisou.  

Quanto ao fato de a impunidade vir a ser um gerador de mais violência, o professor definiu essa posição pela lentidão da Justiça em resolver casos de homicídios e outros crimes do que mesmo como fato gerador. “A lógica da impunidade é muito mais presente pela vagareza que o sistema de Justiça tem para tratar com essa sociedade de poucos valores e moral. E não só aquele que está na marginalidade que tem problemas, a Justiça é problemática. O cidadão que se diz de bem também tem problemas e as possibilidades de um cidadão comum cair na corrupção também é gigante. Mesmo não parecendo que são coisas interligadas, mas fatos menores, como uma criança que tira a borracha do estojo de outra, tem o mesmo valor moral débil que tira a vida de uma pessoa. Isso porque foi tudo simplificado como se as coisas fossem indiferentes”, frisou. (R.R)