Cotidiano

Método para superação da perdas de entes queridos 

Perder entes queridos e pessoas próximas é sempre um trauma que pode durar a vida toda. Mas como lidar com a dor, com o luto e a lacuna que ficou depois da morte do cônjuge, dos pais, dos filhos ou de parentes e pessoas que tanto estimava? Para falar sobre isso e explicar o que significa a Tanatologia, a Folha conversou com a psicóloga Magaly Silva de Oliveira, tanatologista residente em Manaus. 

Ela começa explicando que a Tanatologia é o estudo científico da morte. “Investiga os mecanismos e aspectos forenses da morte, tais como mudanças corporais que acompanham o período após a morte, bem como os aspectos sociais e legais mais amplos. É, principalmente, um estudo interdisciplinar”, disse. 

A palavra Tanatologia vem de Thanatos= morte e Logos= estudo. Ou seja, o estudo da morte e do morrer, especialmente em seus aspectos psicológicos e sociais. 

“A Tanatologia é a ciência da vida e da morte que visa entender o processo do morrer e do luto. De humanizar o atendimento aos que estão sofrendo perdas graves, podendo contribuir dessa forma na melhor qualificação dos profissionais, em especial da área de saúde, que se interessam pelos cuidados paliativos, procedimentos que visam atenuar a dor e o sofrimento e aprimorar a qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares diante de um quadro ou doença terminal.”

Sobre o luto, pode-se definir como uma reação natural e saudável à perda. Na maioria dos casos, este é descomplicado, com sinais, manifestações ou expressões de luto saudáveis. Porém, quando este é extensamente prolongado por anos a fio, diz-se que seja um luto patológico, uma vez que a pessoa não se torna capaz de concluir este processo.

Entre as reações consideradas normais no luto, estão as sensações físicas, cognições ou padrões diferentes de pensamento, comportamentos associados e sentimentos. 

As sensações físicas são vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, extrema sensibilidade ao barulho, sentimento de irrealidade e despersonalização. 

Nas cognições ou padrões diferentes de pensamento, estão a descrença, confusão, preocupação, sensação de presença e alucinações, como ouvir a voz do falecido ou achar ter visto sua imagem.

No comportamento associado, estão distúrbios do sono, do apetite, comportamento aéreo, tendência a esquecer das coisas, isolamento social, sonhos com a pessoa que faleceu, evitar coisas que lembrem o morto, procurar e chamar pela pessoa, suspiros, hiperatividade, choro, além dos sentimentos de frustração, dor, sofrimento e revolta.

“Para encarar isso, temos que ter uma visão de finitude não como um castigo ou punição divina, mas sim como parte do processo vital, em que, independentemente de quem sou ou o que fiz ou faço, todos um dia enfrentaremos a morte. Alguns de forma rápida e inesperada, outros passarão pelo processo do morrer, ou seja, terão um tempo nesse percurso até chegar a finitude”, disse.

Fatores que dificultam a aceitação da morte são o desequilíbrio financeiro que o tratamento da doença ou a falta daquela pessoa podem acarretar à família, dificuldade da pessoa em aceitar cuidados, quando esta estiver acostumada com o cuidar, história e elaboração de perdas anteriores e crenças com relação à morte, momento em que a morte ocorre no ciclo da vida, quanto mais jovem for o paciente, mais difícil será a aceitação de sua morte, e morte súbita que impede os familiares de elaborarem gradativamente o luto, ao contrário da morte prolongada.

CURSO – Com o objetivo de difundir o conceito de Tanatologia, está sendo programado pela primeira vez no Estado um curso voltado para profissionais de saúde, mas também aberto a profissionais de outras áreas.

“O objetivo é proporcionar aos profissionais de saúde diálogos sobre um tema que traz consigo uma grande estigma que é a morte, o morrer e as perdas que muitas vezes torna a pessoa incapacitante diante da vida”, disse a psicóloga Magaly Silva de Oliveira, ministradora do curso que acontece nos dias 13 e 14 de abril. Os interessados podem se inscrever pelo e-mail [email protected]