Criadores de frangos e suínos, que têm no milho a principal fonte de alimento para os animais, sofrem nos custos com a alta no preço do cereal. O efeito não é limitado apenas para os produtores. Nas prateleiras de supermercados e feiras livres de Boa Vista, o consumidor também já sente a diferença nos preços. A cartela de ovos, por exemplo, subiu de R$ 12 para R$ 18.
O efeito dominó na cadeia produtiva ocorre porque o preço do milho é determinante para o setor. Ele responde por até 70% dos custos de criação de aves e suínos. Há 15 dias, a saca na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em Boa Vista, custava R$ 42 para o pequeno produtor, mas hoje é vendida a R$ 53,80. Em uma semana, o reajuste foi de 28,33% na Capital. Para o médio e grande produtor, o preço da saca varia, mas é encontrada até por R$ 75.
A superintendente da Conab em Roraima, Zélia Holanda, explicou que o preço do milho em Boa Vista é calculado em Brasília. Lá, após receberem o preço de pesquisa de mercado regional, os técnicos da Companhia estipulam o valor de acordo com o comércio atacadista mais próximo.
“No caso de Roraima, o milho vem de Mato Grosso. São três mil toneladas por ano. O cereal vem de fora porque a produção local não atende à demanda. A dificuldade aqui é a falta do comércio atacadista”, observou a superintendente.
A Conab atende hoje 1.100 pequenos produtores cadastrados. Até ontem à tarde, havia duas mil toneladas de milho em estoque. Já os médios e grandes produtores compram o cereal diretamente do produtor, em mato Grosso ou Goiás. (AJ)
Com falta de xerém produtores reclamam de concorrência externa
Conforme avança o preço da saca de milho, restam poucas alternativas aos produtores locais, que são obrigados a passar a conta para o vendedor, que também a repassa para o consumidor. Uma das alternativas para driblar o efeito dominó é substituir o milho pelo trigo ou farelo de arroz, mas isso também é um problema, pois falta xerém em Roraima.
A empresária Maria Lúcia Martins, dona de uma granja na região do Monte Cristo, zona Rural da Capital, disse que a produção de arroz no Estado caiu, e isso, segundo ela, acabou prejudicando a produção de galinhas e ovos. “A gente podia misturar o xerém para render o milho, mas o produto está em falta. E com a alta do milho, a situação ficou pior”.
Maria Lúcia lembrou que no ano passado, a saca de milho custava R$ 33. Hoje custa R$ 64,80. Por mês, a empresária utiliza 100 toneladas na produção de aves e ovos.
“São 900 milhões de ovos por mês que produzo. Apesar da alta no custo de produção, ainda tivemos que baixar o preço do ovo por causa da concorrência dos produtores de fora, clandestinos, que trabalham sem o SIF (Selo de Inspeção Federal)”, reclamou. (AJ)
Preço da carne de porco também sofreu impacto
Quem também não está feliz com a alta do milho é o criador de porcos. O cereal é a base da alimentação e acaba refletindo diretamente nos custos. O reflexo logo é sentido nas feiras livres e supermercados da Capital. Em um mês, o quilo do porco subiu de R$ 12,00 para R$ 15,00.
Mas apesar do aumento, comerciantes alegam que o movimento não caiu, permanecendo estável. “Agora o preço está fixo e acredito que vai continuar assim”, disse João Chagas, açougueiro da Feira do Produtor, no bairro São Vicente, zona Sul.
A professora Rosana Queiroz, de 46 anos, não deixa faltar em sua mesa a carne de porco, ela reclamou do aumento no preço. “É sempre assim. Sempre sobra para o consumidor final. Nós que pagamos a conta”.
Nos supermercados da cidade, o preço do frango regional e da cartela de ovos sofreu um pequeno reajuste de menos de 10%, comparado com o mês passado. “O frango e o ovo faz parte da nossa alimentação.
Aumentou um pouquinho, mas tenho que levar. Fazer o quê?”, indagou a professora. (AJ)