Há cerca de seis anos, moradores do projeto habitacional Jardim Satélite, localizado às margens da RR 205, que liga Boa Vista ao município de Alto Alegre, assinaram um contrato junto à Agência de Desenvolvimento Econômico Sustentável Social Comunitário (Adessco) para realizar o sonho da casa própria. Segundo eles, a agência vendeu os lotes com a promessa de que a infraestrutura para o local seria instalada, entretanto, além desta garantia não ter sido cumprida, agora estão sendo cobrados para que a energia seja regularizada.
De acordo com Gilson Celino, representante da comissão formada por moradores, cerca de 50 famílias residem no local. “Temos água porque nós moradores concordamos em pagar a instalação. Cada lote pagou uns R$ 800 pra Adessco que contratou uma empresa pra fazer o serviço. Para a energia, eles cobraram uns R$ 7 mil. Está todo mundo praticamente no “gato”, tirando os que moram perto da Avenida Padre Anchieta”, explicou.
Ainda conforme Gilson, após dois anos da venda, a Adessco entrou com projeto na Câmara Municipal de Boa Vista (CMBV) para que a área passasse a ser de interesse social, porém não foi aprovado.
“Queriam tirar a responsabilidade deles de cumprir com o que prometeram e passar para os órgãos competentes. A Prefeitura não tem responsabilidade nenhuma com o projeto, porque é um loteamento privado. Ela não vai poder entrar com a infraestrutura porque não é uma área urbana” disse.
A Folha teve acesso a um dos contratos de aquisição de lote assinado em 2013. À época, os terrenos eram vendidos entre 12 a 16 mil reais. Segundo Gilson, hoje são vendidos por cerca de R$ 30 mil. Ainda, explicou que a área foi dividida em três fases. Porém, somente a primeira foi regularizada após interferência direta da comissão de moradores.
Um dos primeiros a construir uma casa, Eduardo Filipe, de 27 anos, relata que a falta de iluminação e a precariedade das ruas, são algumas das principais reclamações da vizinhança. “Minha mulher foi assaltada uma vez perto de casa devido à falta de segurança. O pessoal se esconde no mato e não tem como [a polícia] fazer ronda. Eu vejo que o bairro está crescendo somente em termos de casas, mas de segurança, que é o mais importante, não tem”, reclamou.
Na tentativa de solucionar o problema que se arrasta desde a construção das primeiras residências, a comissão de moradores organizou uma reunião com cerca de 60 pessoas e mais um representante da Polícia Militar que teria se comprometido a realizar patrulhamentos na região durante o dia e a noite, mas somente nas partes em que for possível a passagem da viatura.
Adessco diz que está cumprindo etapas do programa habitacional
Procurada pela reportagem da Folha, a Adessco informou que é uma entidade sem fins lucrativos que oferece moradia à população de baixa renda, por meio do programa de autogestão imobiliária, desde 2013.
Sobre o Jardim Satélite, segundo a agência, se trata de um projeto habitacional, e não de loteamento. Explicou também que esse formato de empreendimento habitacional comunitário é desenvolvido em três fases, sendo a territorial, loteamento e infraestrutura.
De acordo com a Adessco, na primeira fase é feita a seleção e cadastramento de famílias interessadas. Na segunda, após a aquisição do imóvel, é realizada a regularização dos lotes. Na terceira, busca-se parceiros para a construção de casas populares junto aos órgãos competentes.
Sobre a cobrança, a Adessco explicou que o rateio entre os sócios da infraestrutura é previsto e estabelecido em ata de Assembleia devidamente registrada em cartório de notas. Em relação ao fornecimento de energia, informou que está negociando com a concessionária para legalização. No que diz respeito à água, disse que foi protocolada na Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (CAER) a doação da Rede Hidráulica. O Termo de Aceite da Doação da Rede foi entregue e comunicado aos sócios em agosto do ano passado.
Ehmur diz que loteamento não podia ter construção até regularizar infraestrutura
A reportagem da Folha entrou em contato com a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) e esta confirmou que a primeira fase do Jardim Satélite foi aprovada. Diante disto, a Adessco, responsável pelo loteamento, tem até maio de 2020 para implementar toda a infraestrutura. Somente após o vencimento deste a Emhur poderia adotar as medidas cabíveis para compelir a Associação a cumprir a obrigação.
Ainda, reforçou que ficou claro na certidão de aprovação emitida pela empresa que nenhuma construção poderia ser realizada até que fosse implementada toda a infraestrutura.