FABRÍCIO ARAÚJO
COLABORADOR DA FOLHA
Que a imigração venezuelana transformou a rotina dos moradores de Boa Vista não é novidade. Um dos bairros que teve a rotina alterada foi o Caimbé, com o crescimento da prostituição, inclusive de mulheres de origem venezuelana. Diversas ações foram feitas, desde reclamações até a poda de árvores para evitar a presença das garotas de programa, mas nada surtiu efeito.
A oferta de sexo em troca de dinheiro ocorre em plena luz do dia no bairro. A Folha foi – mais uma vez – ao bairro e constatou a presença de garotas de programa nas esquinas do bairro.
Os moradores contaram à reportagem que já estão acostumados com a situação e alguns disseram que não veem problema na atividade. “Elas não roubam, então deixa elas aí, elas não mexem e não tem problema”, disse um senhor que mora no local há 12 anos, mas preferiu não ser identificado.
Delcin Tocrhno foi vencida pelo cansaço, mas disse que não acha normal a situação. A autônoma deu diversas entrevistas reclamando sobre a situação do bairro, mas não houve solução. Hoje prefere dialogar com as garotas que fazem programa na região para que haja respeito mútuo. O que causa maior incômodo é a presença das mulheres em frente a sua residência, então sempre que aparece uma na frente de sua casa, Delcin pede para que mude de local.
“Para nós, está muito feia a situação porque se torna uma falta de respeito com as nossas famílias, com nossos filhos, com nossos netos. Quando é dia de pagamento aumenta o movimento, elas são inteligentes, já estão sabendo de tudo. Os clientes são muitos e param em nossas portas”, declarou.
A moradora disse que costuma ver carros de luxo transitando pelas ruas. “Muitas vezes o ato é consumado no local mesmo, os carros permanecem cerca de 30 a 40 minutos em lugares com sombra. Eu tenho vontade de bater no vidro e perguntar: Agora é na rua é?”, comentou.
Garotas de programa lucram até R$ 1 mil por semana
Garotas de programa costumam fazer exame de sangue mensalmente (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)
As garotas de programa confirmam que não há mais conflitos com os moradores e que quem procura os programas são homens com grande poder de compra. Mesmo com valor mínimo, R$ 50,00 por programa, as imigrantes que atuam no local afirmaram que cada uma arrecada de acordo com a disponibilidade para trabalhar e os ganhos podem variar. Algumas disseram que os programas rendem até R$ 1 mil por semana, enquanto outras afirmaram que ganham R$ 3 mil por mês.
Elas também afirmaram que nos últimos meses a procura tem diminuído, mas que o problema não foi aumento de concorrência porque muitas garotas estão aproveitando o período para viajar e visitar suas famílias na Venezuela. Das mulheres entrevistadas, seis disseram que pretendem viajar em janeiro. Uma das garotas relatou que pretende retornar ao Brasil, mas para trabalhar em outro tipo de profissão, com carteira assinada.
Todas as mulheres disseram que costumam fazer exames de sangue mensalmente. Algumas preferem fazer em laboratórios privados porque na rede pública há exigência do cartão do SUS, que nem todas possuem. Mas há, quase diariamente, distribuição de camisinhas e conversas de equipes de saúde dando orientações de cuidados básicos.
A ação de prevenção realizada no bairro não é vista com bons olhos por todos. “Eu sempre vejo equipes de saúde entrevistando e entregando camisinhas de vez em quando. Eu acredito que deveriam ter uma ação para tirá-las daqui e não dar camisinha porque parece que estão incentivando”, criticou Delcin Tocrhno. (F.A)