Enquanto um caminhão pipa molhava fortemente o gramado e as plantas da praça do Pérola, a cem metros dali, cerca de 20 moradores do bairro protestavam… contra a falta de água ou o fraco abastecimento dela.
“Queremos água, queremos água”, gritavam os manifestantes, que levaram baldes e louças vazias para ironizar o problema.
Mesmo calado no protesto desta quinta-feira (20), seu Adval Arocha Pantoja, de 67 anos, marcava presença. Todos os dias, ele, que é cadeirante devido à perna direita amputada, precisa da ajuda da dona Maria do Socorro da Rocha, 67, para captar nos baldes a fraca água que cai de uma torneirinha em casa.
A idosa conta que, ultimamente, água forte mesmo só existe por volta das 5h. “É muito ruim pra ele, difícil pra mim também porque carrego água daqui da área no balde pro banheiro, pra dar banho nele”, disse.
“Às vezes saio pra fazer compras e volto pra casa cansada e já vou colocando água no banheiro pra tomar banho”, completou ela, criticando ter que pagar a conta de água, em meio ao problema no abastecimento.
Presidente da Associação Comunitária Amigos do Pérola, Ricardo Bolacha afirmou que esse problema existe desde a fundação do conjunto habitacional, onde vivem mais de sete mil famílias.
“A gente não tem água o dia todo para fazer os afazeres domésticos, como lavar a louça e a roupa. Só de madrugada. De dia, é muito difícil ter água na torneira”, relatou.
“Quem tem caixa d’água, tem saída, quem não tem, vai no igarapé próximo ao Água Boa pra lavar a roupa. Os moradores vão lá, aproveitam para tomar banho e vêm pra casa”, acrescentou ele, que disse ter reivindicado a resolução do problema junto à Caer (Companhia de Águas e Esgotos de Roraima) por todos os canais de comunicação disponíveis.
O vice-presidente da Associação do Bairro Dr. Airton Rocha e Conjunto Pérola, José Lima, disse ter reunido mais de cem assinaturas em um abaixo-assinado, que ele promete protocolá-lo no Ministério Público Estadual (MPE-RR), no Governo de Roraima e na Caer, para tentar resolver o problema.
“Tem casa aqui que nunca viu a água subir na caixa. É muito ruim você abrir sua torneira e nao ter água […]. Se nada for resolvido, vamos entregar esse abaixo-assinado”, declarou.
Durante o protesto, uma moradora denunciou à FolhaBV que nenhum dos quatro poços artesianos do conjunto funcionam. Dois deles, inclusive, foram abertos em 2021 e ainda não tiveram a energia elétrica ativada.
O que diz a Caer
Em nota, a Caer disse que adotou as providências para solucionar definitivamente os problemas de abastecimento de água no Pérola, como a perfuração de dois poços artesianos na região, ambos com produção de aproximadamente 120 mil litros de água por hora. Além disso, informou que a ligação à rede de energia elétrica dos poços já foi solicitada junto à Roraima Energia, mediante apresentação dos projetos dos sistemas elétricos das subestações.
“Porém, informações repassadas ao setor responsável da Caer, são de que aquela concessionária ainda estaria analisando os pedidos e documentação. Para dar celeridade ao processo, a Caer mais uma vez ingressou na Justiça, considerando que já existe decisão anterior para que a concessionária faça a ligação de todos o poços perfurados pela Caer, no prazo máximo de dez dias após a conclusão da perfuração”, disse.
A Caer disse reconhecer o problema dos moradores, que trabalha para resolvê-lo buscando inclusive a via judicial, e lamentou “a ocorrência de prazo tão longo para que a concessionária de energia elétrica analise a documentação. Entretanto, continuará buscando meios para que os poços artesianos sejam efetivamente ligados e a população atendida com água potável, que é um bem essencial, principalmente no período de pandemia”, informou na nota.
O que diz a Roraima Energia
Até a publicação da reportagem, a Roraima Energia não comentou o assunto.