ANA GABRIELA GOMES
Editoria de Cidade
Imagine se, todos os dias, você precisasse acordar durante a madrugada para conseguir juntar toda a água que será necessária para o dia. Pensou? Bom, esta é a realidade de centenas de moradores há meses e, em alguns casos, há anos. O problema de baixa pressão da água nas tubulações da capital tem prejudicado o sono e a vida de residentes de diversos bairros. Entre eles: São Bento, Liberdade, Paraviana, Raiar do Sol e Treze de setembro.
Há quase 40 anos no Treze de Setembro, a aposentada Paulina Vargas, de 77 anos, é uma das moradoras que é obrigada a acordar na madrugada para estocar água. Com a ajuda de familiares, ela mantém essa rotina há anos. Contudo, a situação piorou no último ano. A filha da aposentada, servidora pública Dirce Plácido, de 44 anos, mora no mesmo bairro e também sofre com o problema.
Na casa onde vive, há poucos metros da mãe, ela contou que tem duas caixas d’água para conseguir se manter e, ainda assim, falta. “É uma pra lavar roupa e outra pra tomar banho e outras necessidades, e falta mesmo assim. Já ligamos, minha mãe e eu, centenas de vezes para a Central da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer), mas eles só sabem dizer que é normal. Não sei como pode ser normal termos a quase 40 anos problemas de falta d’água aqui”, contou.
Dona Paulina, que também é dona de uma vila há quase 20 anos, tem sofrido com os problemas de abastecimento junto aos inquilinos. Mesmo com uma caixa d’água de mil litros no local, ela informou que já perdeu moradores. “O último saiu daqui há pouco tempo. Tinha um filho pequeno e ficou quatro dias sem água. Não tem condições, realmente. É uma falta de respeito com a população”, ressaltou.
Outra moradora do Treze de setembro, que preferiu não se identificar, vive há mais de 30 anos no bairro e afirmou sempre ter enfrentado problemas com a baixa pressão e a falta de água. Das duas caixas d’água que tem em sua residência, apenas a que fica no solo consegue ser enchida, com a ajuda de uma mangueira. Para tomar banho e cozinhar, ela também precisa encher galões de água durante a madrugada.
“Tomamos banho do lado de fora mesmo, porque no banheiro não tem água de jeito nenhum. É o dia inteiro sem água aqui. Dizem que é por conta dos abrigos agora, mas não sei”, indagou. Além de ficar sem água, a residente ainda destacou o valor das contas que chegam em casa. No último trimestre do ano passado, a exemplo, as contas superaram o valor de R$ 300. “Se eu ainda usasse, não reclamaria”, declarou.
Quem passa pelo mesmo problema é a moradora do Raiar do Sol, Janete Soares, de 57 anos. Há mais de 15 anos no bairro, ela disse que os problemas de abastecimento começaram há cerca de um ano. “Já precisei ter que guardar água durante a noite para usar de manhã. Ultimamente tem faltado muito no horário do almoço. Mas nunca dá pra saber. Esses dias também faltou água a tarde inteira, foi voltar quase de madrugada. Aí eu acordei pra estocar”, destacou.
No Liberdade, a moradora Luisa Santana contou que a baixa pressão da água ocorre principalmente durante os horários de pico. Em sua casa, entretanto, a família não chega a precisar guardar água. “É justamente na hora que a gente precisa se arrumar para sair que a água não chega direito. Sei que tem locais com uma situação pior, mas não deixa de ser um stress”, relatou.