Cotidiano

Moradores reclamam de aumento de furtos e temem novo protesto

Conforme a população, após um breve período de calmaria, o índice de violência na região voltou a crescer com muitos casos de assaltos e furtos a comerciantes

Moradores do município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, voltaram a reclamar do aumento da criminalidade na região. A população afirma que viveu um breve período de tranquilidade com a chegada da Força Nacional em agosto deste ano, mas percebe a retomada dos crimes de furto e tráfico de drogas.

Segundo a denúncia, a cidade viveu um tempo curto de calmaria, mas há cerca de um mês assaltos voltaram a acontecer em comércios, tanto do dinheiro arrecadado quanto de produtos. A prática é quase a mesma, com os assaltantes agindo na companhia de comparsas e entrando no local pelo telhado.

“Os furtos continuam sem trégua. Nada mudou, continua tudo igual”, explicou um morador. “Ademais, os venezuelanos estão vendendo drogas à luz do dia, no centro da cidade. A polícia passa e faz vista grossa. Nós não temos segurança nenhuma aqui, está a Deus dará”, reclamou outro morador.

A falta de fiscalização de trânsito também tem sido alvo de queixa da população, com muitos não obedecendo às regras brasileiras. “Não existe lei. Os venezuelanos colocam os carros no meio da rua, param o veículo em cima da calçada e ninguém faz nada”, relatou um denunciante.

Outro problema levantado pelos munícipes é a falta de iluminação na cidade. Eles afirmam que não há troca das lâmpadas queimadas, o que deixa as ruas escuras e impede o trânsito seguro dos pedestres. Além disso, as ruas mal iluminadas facilitam a ação de bandidos, já que no escuro é mais difícil de perceber a presença e aproximação de um criminoso.

A série de reclamações preocupa por conta da possibilidade de um novo protesto da população, considerando que o último registrado na região resultou em brigas entre brasileiros e venezuelanos, e na destruição e queima das propriedades de muitos imigrantes, sendo necessária a intervenção do Governo Federal para apaziguar os ânimos. “Está perto de acontecer de novo e nessa segunda vez, a tendência é ser pior”, completou um dos moradores.

PM afirma que irá reforçar policiamento na região

O comandante do Comando do Policiamento no Interior, coronel Lindolfo Bessa, informou que a equipe da Polícia Militar está acompanhando a situação na região e que no momento realiza um levantamento estatístico para identificar a possibilidade de aumento de crimes na região e especificar cada ocorrência, com o objetivo de melhor elaborar medidas de combate. “Nós queremos levantar quais os tipos de crime, que horários eles mais ocorrem e outras informações, para poder trabalhar da melhor forma, mais focado”, explicou.

O coronel esclareceu ainda que esteve recentemente em uma reunião com os moradores de Pacaraima e órgãos policiais em que foram discutidos os problemas da região e que até o final desta semana deverá retornar ao município para voltar a ouvir o depoimento da população.

A expectativa é que, após a nova reunião, uma nova equipe de policiamento do interior e de agentes de trânsito sejam encaminhados para Pacaraima, com o intuito de manejar ações educativas e de repressão, e também para fiscalizar as vias na madrugada. O comandante ressaltou, no entanto, que o trabalho da força policial não é de expulsar os venezuelanos do município nem de retirar aqueles que estão dormindo ao relento, em situação de rua.

“É preciso entender que, com a migração, a população aumentou. O número de veículos também. Deixou o trânsito muito complicado pelas ruas serem muito estreitas. Nós fizemos contato com o Cinetran, órgão do Detran Roraima nos municípios, para tentar fazer alterações e minimizar esses problemas que têm ocorrido”, frisou o coronel.

Sobre a ação da Força Nacional, o comandante reiterou que os policiais respondem às determinações do Governo Federal e foram encaminhados para Pacaraima com o intuito de promover o patrulhamento ostensivo e de fiscalização na fronteira. “A ação é bastante específica. Eles atuam em apoio à Polícia Federal e ao Governo Federal. Eles não estão lá para fazer o trabalho que é da PMRR. A população pode confundir, mas a ação deles deve vir de uma determinação de Brasília”, completou.

Força-Tarefa nega aumento de criminalidade

A Força-Tarefa Logística Humanitária, que atua na questão migratória em Roraima, negou o aumento da criminalidade na região nas últimas semanas e afirma que, do ponto de vista estatístico, o índice permanece inalterado. “Apesar de um caso de óbito no mês vigente, os órgãos de segurança pública não apontam um acréscimo no número de furtos e ou roubos, apenas brigas de rua rotineiras por embriaguez”, explicou. “Não temos índices que apontem um aumento considerável dos casos de violência, segundo o comandante da Companhia de Polícia Militar e a Delegacia de Polícia Civil”, acrescentou.

Quanto ao consumo e tráfico de drogas, os representantes da Força-Tarefa confirmam os ocorridos, mas ressaltam que as ações “são pontuais e em locais mais periféricos”, em particular nas proximidades da feira do peixe e da rodoviária de Pacaraima. “A população, em particular os comerciantes, são divididos quando se trata da violência, uns afirmam que houve uma melhora considerável com a chegada da Operação Acolhida, e outros afirmam, que a violência continua a mesma”, completou o Exército Brasileiro, um dos órgãos responsáveis pela ação no município.

A Força-Tarefa reitera que é uma ação de cunho logístico-humanitário para o acolhimento dos imigrantes em situação de vulnerabilidade oriundos da Venezuela. “As ações referentes à segurança pública do município são de responsabilidade dos órgãos de segurança pública e da Força Nacional”, completou.

A Folha também entrou em contato com a Prefeitura de Pacaraima e com a Força Nacional para obter informações complementares sobre a segurança na região, porém, não obteve retorno até o fechamento da matéria. (P.C.)