Moradores do entorno da usina termelétrica de Jardim Floresta, no bairro do mesmo nome, procuraram a Folha para denunciar que não suportam mais o barulho e a poluição provocada pelos motores térmicos de geração de energia. Afirmaram que pessoas estão adoecendo e nas casas já aparecem rachaduras. Na tentativa de ver suas reivindicações atendidas, eles fizeram um abaixo-assinado e entregaram ao Ministério Público Estadual (MPE), além de denunciarem o caso na Superintendência de Proteção Ambiental da Prefeitura de Boa Vista e na Femarh (Fundação Estadual de meio Ambiente e Recursos Hídricos).
À Folha, a moradora Milca França disse que vem buscando seus direitos desde o ano de 2014, mas em vão.
“Estamos num mato sem cachorro. Desde 2014 que procuro o Ministério Público Estadual para fazerem alguma coisa, mas até agora não fizeram nada. Já protocolamos denúncia e entregamos um abaixo–assinado com mais de 50 assinaturas de moradores e a respostas que tivemos é de sabem que é algo sério, que iriam resolver, mas não tem data para isso, pois é algo será feito a médio e a longo prazo”, disse. “O promotor que me atendeu orientou que procurasse um advogado particular, mas não fiz isso. Procurei a Secretaria de Meio Ambiente, da Prefeitura, que também não fez nada”, afirmou
Entre os problemas citados, a moradora falou de estresse e que perdeu amigos que deixaram de lhes visitar. “Além dos amigos me abandonarem por conta do barulho, tem a fumaça com o cheiro. Quem quer visitar uma casa que não pode mais ficar a vontade. Tenho um pé de mangueira, mas não podemos mais ficar na sombra. Isso é muito ruim”, lamentou.
Já o morador Amarildo Brasil disse que a poluição sonora e de gases têm atrapalhado sua vida e dos vizinhos, e que, inclusive, já começou a aparecer pessoas se queixando de doenças respiratórias e de casas que apresentam rachaduras.
“Convivemos constantemente com o barulho dos motores ligados e com a emissão de gases diuturnamente sobre nossas casas. O barulho é tão grande que chega a trepidar o chão, as casas já estão com rachaduras e as telhas ficam afastando e temos que retelhar constantemente”, disse.
Ele disse que o prejuízo maior está relacionado à saúde de sua mãe, uma idosa de 79 anos que sofre com doenças respiratórias.
“Ela apresenta um pigarro constante e nunca fumou”, disse. “Temos uma lei municipal que nos assiste e entramos com documento junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente pedindo que faça a lei funcionar e eles responderam em documento que não poderiam medir a emissão de gases por falta de equipamento, e em relação ao barulho, nem sequer se pronunciaram”, afirmou mostrando o documento assinado por inspetores do meio ambiente. “Voltei à Secretaria Municipal e o superintendente solicitou que eu voltasse no próximo dia 25, pois eles teriam uma reunião com o Ministério Público. Me adiantei e disse que já tínhamos entrado com um abaixo-assinado junto ao MP e eles não se pronunciaram”, ressaltou.
Amarildo disse ainda que entrou com documento junto à Femarh (Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) no dia 7 deste mês e aguarda respostas.
“Não queremos que desliguem a energia e prejudiquem os demais moradores de Boa Vista, mas que troquem o local de funcionamento dos motores geradores, o que é bem fácil, pois o local onde os referidos motores estão agora não é bom para a comunidade”, disse.
MP – A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente informou que instaurou procedimento para investigar os fatos relatados pelos moradores. “Foram realizadas reuniões no sentido de buscar minimizar o problema e a Promotoria estuda alternativas para resolução do caso, uma vez que a Usina hoje abastece 25% do município de Boa Vista, que corresponde a cerca 30 mil consumidores da Capital, e por isso, no momento, não pode ser desligada”.
RORAIMA ENERGIA – Já a assessoria de comunicação da Roraima Energia informou que opera a UTE Floresta continuamente em decorrência da interrupção total do suprimento energético vindo da Venezuela desde março/19. “O desligamento da usina neste momento ocasionaria racionamento imediato e contínuo em Roraima, atingindo entre 20 a 30 mil Unidades Consumidoras. A previsão de redução ou até parada de funcionamento da usina está prevista para Julho/21, quando entrar em operação os produtores de energia vencedores do leilão 001/2019 realizado este ano pela Aneel”, concluiu a nota. (R.R)