Na manhã de ontem, 29, por volta das 8h, um tremor causou pânico em moradores da cidade de Caroebe, no Sul do Estado. Os relatos são de que o abalo foi seguido de um som semelhante ao de um trovão. A última experiência dos roraimenses com um caso semelhante aconteceu em agosto do ano passado, quando um movimento sísmico foi registrado e sentido por grande parte da população. O epicentro do sismo foi no estado de Sucre, região litoral da Venezuela, com magnitude de 7,3 graus na Escala Richter.
Quem mora no município compartilhou o momento com preocupação e dúvidas. A professora Márcia Marques da Silva disse que ouviu um barulho muito forte e esquisito. “Parecia uma explosão. Eu estava sentada no sofá, tomando café, quando tremeu forte e, em seguida, o barulho bem alto. Eu pensei que fossem os pedreiros que estão fazendo o muro da minha casa. Eu imaginei que tinham derrubado os tijolos. Eu fui até eles que acharam que eu tinha derrubado algo dentro de casa. Foi quando comecei a acreditar que tinha dado um terremoto”, destacou.
Para confirmar se mais alguém teria sentido o tremor, a professora foi à casa da vizinha que confirmou e ainda estaria com as pernas tremendo.
“Cheguei a pensar comigo mesma: será que é Deus me avisando de alguma coisa ou será que mais alguém sentiu? A vizinha estava apavorada, com medo da casa dela cair. Na loja do meu irmão, os remédios caíram da prateleira, aí eu concluí que foi ‘terremoto’ mesmo. Chegaram a pensar que foi bomba”, contou.
A estudante universitária Francini Souza, que mora em um bairro novo da sede de Caroebe, disse que às 8h ainda estava deitada, mexendo no celular, enquanto seu marido estava no quintal. “Eu senti aquele tremor, olhei para cima e as portas e as janelas começaram a sacudir. Eu me levantei e escutei o barulho das telhas e saí correndo para fora. Quando cheguei onde meu marido estava, a vizinha já estava na janela da casa dela perguntando se ele tinha sentido aquilo e escutado a explosão. Foi um barulho muito estranho”, detalhou.
O marido de Francini argumentou que poderia ser alguém fazendo derrubada de uma árvore muito grande nas proximidades. “Mas nos grupos de WhatsApp todo mundo começou a se perguntar sobre o que tinha acontecido. Como a gente mora num bairro um pouco mais afastado, no Nova Canaã, pensei que tinha sido só por aqui, mas foi na cidade toda. Algumas pessoas disseram que não sentiram, mas o barulho, todos ouviram”, ressaltou.
José da Rocha, funcionário de uma loja de móveis e eletrônicos, disse que o tremor não foi forte dentro do prédio, por isso não ocorreu nenhum dano à mercadoria, no entanto, na casa de um amigo dele, que trabalha numa empresa ao lado, o televisor caiu de cima da estante e teve a tela quebrada. Além disso, ele compartilhou que numa empresa de revenda de gás todas as botijas empilhadas tremeram.
“Foi tão rápido que nem deu tempo de eu sentir medo, mas o estouro, parecendo um trovão, foi o que mais assustou. Foram apenas uns três segundos. Em São João da Baliza não tremeu, nem em São Luiz. Em Entre Rios, também sentiram o tremor. Caroebe inteiro sentiu. No bairro novo, o terremoto foi forte. Não ficamos sabendo de feridos nem de casa destruída. O assunto do dia foi esse”, revelou.
O professor José Francisco Soares afirmou que aconteceu uma espécie de trovão e um tremor forte. “Foi um trovão como quando cai um raio. Deu uma certa vibração, mas muito rápido. Estávamos eu e mais uma pessoa aqui, ficamos assustados e nos perguntando sobre o que tinha acontecido. Depois, soubemos que se tratava de um abalo. Chegaram a dizer que foram bombas na região de garimpo, mas os garimpos estão tão distantes”, justificou.
A dona de casa Stéfany de Sousa Andrade foi surpreendida pelo tremor ao retornar do supermercado. “Quando eu cheguei a minha casa, ouvi um barulho parecido com trovão e um tremor um pouco forte. Meu armário ‘se balançou’ e as coisas de dentro pareciam que iam cair, mas logo passou”, acrescentou.
Não há nenhum registro de feridos ou danos materiais por conta do tremor de terra.
Corpo de Bombeiros ainda não foi acionado para ir à região
O Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR) informou que as equipes que atuam na 2ª Companhia do 2º Batalhão de Proteção Ambiental, sediada em Rorainópolis, também no Sul do Estado, não foram acionadas para atendimento da possível ocorrência de “abalo sísmico” no município que fica cerca de 120 quilômetros distante do posto mais próximo dos bombeiros.
Conforme o CBMRR, quando há o acionamento destinado para a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDC), todos os aportes são disponibilizados e os bombeiros militares vão até a região afetada pelo fenômeno para prestar o pronto atendimento, seja em caso de danos estruturais, materiais e/ou humanos.
Por ser caracterizado como desastre natural, não há um levantamento sobre a possibilidade de ocorrência do fenômeno, bem como não há sistema demonstrativo das localidades com incidência na região.
O CBMRR esclareceu ainda que, em caso de desastres naturais, a primeira resposta é de competência do município, e quando os eventos adversos superam a capacidade de resposta da localidade atingida, a Defesa Civil Estadual presta apoio ao município afetado.
ESPECIALISTA – A professora doutora Márcia Falcão, que tem experiência na área de Geografia com ênfase em educação ambiental, geomorfologia, biodiversidade e conservação, explicou que Roraima está, como o restante do País, na placa sul-americana, mas longe de zonas sísmicas.
“No entanto, podemos sofrer influência da interação do limite das placas caribenha e sul-americana, que podem afetar Roraima. A Venezuela está localizada no limite dessas placas, proporcionando tremores naquele país e, dependendo da magnitude, podem chegar até aqui. No Brasil, temos tremores referentes à acomodação de rochas”, exemplificou. (J.B)
REGISTRO – O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) e o Mapa de Monitoramento Global não registraram o tremor. (J.B)