Muita gente tem curiosidade em saber como é a vida em Boa Vista. Foi isso que motivou a vinda de Lucenilton Almeida Viana, de 40 anos, para a capital de Roraima. Em outubro, apesar de ter cinco propostas na capital de Rondônia, o paraense de São João do Araguaia decidiu embarcar de Porto Velho (RO) – onde mora -, na fé e na coragem, em uma aventura com seu Fiat Palio 2008.
Ele deixava a família lá para aceitar, 1,6 mil quilômetros depois, um emprego de uma empresa do ramo de terraplenagem, sua especialidade. Pela frente, um caminho totalmente desconhecido por ele: a intrafegável BR-319, que liga as capitais de Rondônia e Amazonas, e a esburacada BR-174, de Manaus a Boa Vista. Ainda não era época chuvosa.
Ele chegou ao destino e acumulou um prejuízo de cerca de R$ 4 mil. Mas não demorou para perceber que o emprego prometido não era o que imaginava. “Tinha uma proposta em Boa Vista, fui, não gostei do local que a empresa ofereceu pra trabalhar”, relatou.
“Fui pra Boa Vista, porque queria sair um pouco mesmo. Conhecer a cidade. Andar um pouco. Achei boa a cidade”, disse.
No último dia 6, uma segunda-feira, ele resolveu fazer o caminho de volta. As circunstâncias eram outras: a chuva, a lama e a formação de novos buracos. Pela BR-319, cansou de encontrar ônibus, caminhões e outros veículos atolados. Um deles foi o Fiat Mobi 2018, do servidor público Alex Dalazen, 35, de quem virou amigo no quilômetro 285.
Pouco depois do igarapé Roraima, eles voltariam a se encontrar. Por ali, um ônibus lutava para sair do atoleiro. Logo, o carro do Lucenilton fica preso na lama e o Alex tenta empurrá-lo. Só uma caminhonete tirou o Fiat Palio 2008 do local. Naquela altura, o carro do profissional de terraplenagem já estava com o radiador, o disco de embreagem, o parachoque e a caixa de marcha quebrados.
Carro de resgate também quebrou
Mesmo assim, Lucenilton conseguiu dirigir quilômetros à frente para deixar o veículo num canteiro de obras de uma empresa que realiza a manutenção periódica da rodovia federal.
No canteiro, Alex ofereceu carona para o motorista chegar a Porto Velho. Lá na frente, param no distrito de Realidade, no Amazonas, a 320 quilômetros da capital de Rondônia. Lucenilton ligou para o irmão trazer de lá uma caixa de marcha e um disco de embreagem.
O carro chegou, ajudou a levar Palio 2008, mas também quebrou no meio da rodovia. No entanto, os veículos, mesmo com reparos parciais e com a ajuda de uma caminhonete, chegaram a Porto Velho na noite do último sábado (11).
Para o Lucenilton, representou o fim de uma viagem que durou seis dias e um de mais de R$ 5 mil de prejuízo. “E ainda falta fazer alinhamento, balanceamento e trocar vela, cabo. Vai mais uns R$ 500 aí”, relatou.
Lucenilton era criança quando há mais de 30 anos a BR-319 já era assim. Agora, com as responsabilidades de um adulto, o profissional de terraplenagem soma um prejuízo de quase R$ 10 mil, perdidos em meio às péssimas condições da rodovia federal, importante para toda a região Norte.