Cotidiano

Motoristas e cobradores pedem segurança

Funcionários da única empresa de ônibus paralisaram, na manhã de ontem, para cobrar ação do poder público contra atentados

A população boa-vistense foi pega de surpresa na manhã de ontem. Motoristas e cobradores da empresa Viação Cidade de Boa Vista decidiram paralisar as atividades em resposta aos atentados promovidos por criminosos que dizem pertencer à facção criminosa Comando Vermelho (CV) contra os ônibus urbanos da Capital.
Após reunião realizada a portas fechadas com a Polícia Militar e Prefeitura de Boa Vista, na sede do Comando de Policiamento da Capital (CPC), a empresa decidiu retomar as atividades no início da tarde. Segundo o gerente da empresa, Edilson Magno, a PM garantiu que reforçará a segurança nas rotas onde a empresa opera.
“Nós tivemos durante a manhã na sede do CPC e a PM nos garantiu que irá reforça a segurança da população e dos motoristas. Eles [funcionários] estavam bastantes apreensivos em relação a esses últimos ataques e decidiram paralisar. Nós explicamos a situação, a Prefeitura prontamente solicitou da PM que fosse feito algo e a PM disse que vai acompanhar as rotas dos ônibus a partir de agora”, disse.
Conforme Magno, os prejuízos com os veículos destruídos e a arrecadação perdida no período da manhã ultrapassam os R$500 mil. “Apesar desse prejuízo, acredito que os funcionários saem satisfeitos, porque a principal reivindicação deles, que era a segurança, foi atendida”, disse.
No início da noite de domingo, um ônibus da empresa foi incendiado por criminosos no Conjunto Pérola do Rio Branco, na zona Oeste da Capital, no bairro Nova Cidade. Foi o segundo caso em menos de três dias. Na madrugada do dia 25, outro ônibus foi destruído em ação parecida no bairro Cidade Satélite, também na zona Oeste.
Os integrantes da facção deixaram um bilhete prometendo continuar os ataques, caso o governo continue pressionando a quem chamam de “irmãos do sistema prisional”. Com medo, os motoristas da única empresa de transporte coletivo que serve Boa Vista temem que os ataques ocasionem vítimas. 
“Todos os trabalhadores estão apreensivos e a maioria está abalada com esses ataques. A princípio, esse grupo criminoso está apenas queimando os ônibus, mas o temor de todos é que eles comecem a fazer aqui o mesmo que fazem em outros estados. E isso pode não só trazer prejuízo financeiro para a empresa como também pôr em risco a vida dos trabalhadores e da população. No primeiro atentado, o motorista foi liberado do ônibus pegando fogo. Se isso acontecer com um cadeirante, eu temo que a vida dessas pessoas venha ser ceifada. Nós estamos pedindo não só o apoio das autoridades, como também da população para que entenda a nossa situação”, disse o motorista Tenison Barroso.
Segundo ele, ações de vandalismo não são novidades para a categoria. Segundo ele, várias são as ocorrências de depredações de veículos, em grande parte ocasionada por membros de galeras. “Na primeira vez que registramos o boletim de ocorrência, nós relatamos que os veículos estavam sendo alvo de vandalismo. Membros de galeras estão jogando pedra nos ônibus e isso amedronta a quem trabalha com transporte público. Já houve inclusive situações de passageiros feridos durante essas ações. A audácia é tanta que até um companheiro nosso foi agredido fisicamente por um desses meliantes”, frisou.
O motorista afirmou que se sente esquecido pelo poder público. “Essa situação de ônibus sendo incendiados só aumento o clima de insegurança. Nós retiramos o coletivo da zero hora após a primeira ocorrência e, no começo da noite desse domingo, eles incendiaram outro no Conjunto Pérola. Se ponham no lugar desse motorista para saber o trauma que isso ocasiona. A gente teme também pela vida do cidadão de bem. As casas do conjunto são todas próximas. Se um veículo desses explode, o risco de incêndio se propagar nas casas é altíssimo”, complementou.
PASSAGEIROS –  Para a diarista Luciana Oliveira, a categoria acertou na decisão de reivindicar segurança. “Apesar de afeitar a população, eu acho que eles fizeram o certo em paralisar. A bandidagem está solta e eles lidam com isso todos os dias”, disse.
Para a estudante universitária Luana Barros, o problema não se resolverá tão rapidamente. “Falta mais empenho da polícia em resolver essa situação. O ruim é que esse problema afeta todos que precisam do serviço. Se para uma pessoa comum é complicado, imagina para mim, que sou cadeirante. Eu acho que paralisando não vai resolver a situação, pelo menos de imediato”, ressaltou.