A maioria das motos roubadas ou furtadas em Boa Vista tem um destino quase certo: a cidade de Lethem, na República Cooperativista da Guiana, na fronteira com a cidade de Bonfim, a Leste do Estado. Depois que conseguem atravessar a fronteira, os ladrões trocam os veículos por drogas e armas.
Dados do Sistema de Gestão de Trânsito (Getran) do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) mostram que, nos primeiros cinco meses de 2016, em Roraima, o número de roubos e furtos de veículos cresceu 65,5%, se comparado ao mesmo período do ano passado. Foram 199 motocicletas, alvo preferido dos ladrões.
Boa parte das que são levadas para a Guiana se acumula no pátio da Receita Federal (GRA) e na Força de Polícia de Lethem. Para retirá-las o proprietário precisa se deslocar até o país vizinho e apresentar a documentação original do veículo.
Em junho, o Governo do Estado firmou um acordo com o Consulado-Geral da Guiana para coibir as ações criminosas na fronteira. Na teoria, a ideia seria viabilizar a devolução dos automóveis apreendidos aos seus proprietários. O acordo, porém, ainda não foi posto em prática, segundo o Consulado.
De acordo com a cônsul-geral da Guiana em Boa Vista, Shirley Melville, o protocolo está em processo de validade. “O governo da Guiana está completamente ciente da situação das motos roubadas e existem as motos que estão na força de polícia de Lethem e as outras ficam na receita da Guiana”, disse.
Conforme ela, as duas entidades mandam listas das motos apreendidas em Lethem para Georgetown, na Capital do país. “Sobre essas organizações que mandam a lista, eles estão dando atenção para esses casos.
Pessoas estão vindo ao Consulado individualmente. Trabalhamos verificando a autenticidade dos documentos, pois a pessoa tem que provar que a moto é dela, tem que trazer o boletim de ocorrência”, explicou.
Outra situação para facilitar a retirada das motos apreendidas na Guiana, conforme a cônsul, é que os veículos precisam estar legalizados. “Não podem constar processos judiciais no documento. Inclusive a razão de fazerem a lista dos veículos roubados é para verificar as que estão em situação legal e as que precisam ir para a Justiça. É analisado por casos diferentes. Tem casos em que brasileiros levam as motos para vender”, afirmou.
Apesar de não possuírem o quantitativo de motos apreendidas no país vizinho, ela informou que o número de veículos é considerável. “Na verdade, não temos autoridade para pedir o ressarcimento do veículo. O que fazemos é ajudar. A pessoa vem, traz os documentos originais e o boletim de ocorrência e os encaminhamos para as autoridades que têm o poder de devolver a moto. Esse assunto está sendo discutido e não é uma questão que está sendo ignorada pelas autoridades”, frisou.
PM afirma que tem intensificado ações de fiscalização em Bonfim
A Polícia Militar de Roraima informou, por meio de nota, que atua nas fronteiras de forma integrada com as demais instituições, tais como a Receita Federal, Polícia Federal e Consulado Brasileiro na Guiana, com troca de informações que possibilitam chegar aos criminosos, coibindo então os crimes nestas áreas.
Segundo o comandante de Policiamento do Interior, Waney Vieira, o papel da PM é prestar reforço na vigilância da fronteira, através do desencadeamento de operações preventivas ou repressivas. “Isso tem surtido bons resultados, ultimamente, pois foram recuperadas várias motocicletas provenientes de roubos e furtos no Estado, que seriam encaminhadas para o país vizinho, em troca de drogas, principalmente a maconha”.
Ele informou que existem nove câmeras de videomonitoramento no Bonfim na fronteira com a Guiana, além de patrulhas móveis diárias com viaturas e motocicletas que fiscalizam a área urbana de Bonfim. “A polícia tem intensificado as ações nos municípios de fronteiras e tem obtido bons resultados, visto que inúmeras motocicletas estão sendo recuperadas pela PM. O que dificulta a atuação da polícia, às vezes, é que a maioria das motocicletas que são levadas para Guiana como produto de roubo ou furto não passa pela rodovia, nem pela ponte que liga os dois países, e sim são transportadas por outras regiões, atravessando a fronteira por canoa ou balsas ao longo do rio Tacutu”, esclareceu.
Segundo ele, as pessoas que se depararem com algum problema relacionado à segurança, seja de urgência ou emergência, devem entrar em contato com o telefone 190 para que a polícia realize o atendimento conforme a ocorrência. (L.G.C)