FABRÍCIO ARAÚJO
Colaborador da Folha
Diversos movimentos sociais se concentraram ontem, 17, na Praça do Centro Cívico para protestar contra medidas tomadas nos primeiros 17 dias de governo do novo presidente, Jair Bolsonaro (PSL). As manifestações ocorreram no fim da tarde em meio à visita de ministros que estavam reunidos no Palácio Senador Hélio Campos. O decreto que flexibiliza a posse de armas, a discussão sobre o assentamento em terras indígenas, a reforma da Previdência e a forma como a gestão vem tratando políticas para mulheres e comunidade LGBTQ foram os principais alvos dos protestos.
O ex-candidato ao governo do Estado Fabio Almeida (PSOL) foi um dos participantes e destacou que o protesto também se estende à política local. Segundo ele, o governador do Estado, Antonio Denarium (PSL), possui afinidade com a política do presidente por integrarem a mesma sigla política.
“Fizemos um movimento em torno de 17 dias de retrocessos que já temos. Temos ataques diretos às comunidades indígenas e à política LGBT, que ‘sumiu’ de dentro do Ministério dos Direitos Humanos. Temos um elenco de retrocessos. Também a manutenção da PEC do teto que é algo que impede o desenvolvimento da Educação, Saúde e das áreas sociais. E localmente vemos a continuação do mesmo processo”, declarou.
Almeida aproveitou ainda para dizer que não se faz discussão em torno da criação de empregos, seja local ou nacionalmente.
“Precisamos discutir a geração de empregos e o corte de privilégios, porque nada disso faz parte da atual pauta política. Por isso, dizemos não à política do PSL e aos retrocessos”, afirmou.
Edite Andrade, coordenadora da Organização de Professores Indígenas de Roraima (Opir), disse que a maior reivindicação no momento é o respeito pelo território indígena, mas que também estão na defesa da Saúde, Educação e projetos de desenvolvimento sustentável das comunidades.
“Precisamos fazer a defesa do nosso território. Onde moramos, vivemos e onde estão nossos filhos, mães. Sem isso, vamos fazer o quê? Morar na cidade, ter que ir para a grande capital? Não podemos dizer sim ao que este governo está fazendo”, declarou Edite.
A socióloga e representante do Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur) Andrea Vasconcelos disse que o Numur estava presente no ato porque, passados 17 dias do novo governo, não havia nada para comemorar, pois as medidas tomadas “atacam frontalmente” as mulheres em todo o Brasil. Para exemplificar, ela citou a política que flexibiliza a posse de armas.
“Temos observado que o número de feminicídios aumentou assustadoramente, isso porque desde o ano passado tem sido fortalecido um discurso de intolerância, um discurso em que a relação de poder e autoridade se sobrepõem ao respeito e afeto. Não queremos um país com mais armas, queremos um país com mais possibilidades de emprego e de justiça”, argumentou.
Em frente ao Palácio Senador Hélio Campos, outros dois grupos manifestavam por outros motivos. Um grupo era de funcionários terceirizados que cobravam o pagamento de salários e o outro fazia cobranças em relação ao Linhão de Tucuruí. Sobre o segundo grupo, a socióloga considerou a pauta frágil.
“É uma pauta que não mexe nas questões estruturais do nosso País. Precisamos falar de pobreza, dos problemas causados pelo desemprego, das desigualdades sociais. São essas pautas que o governo precisa olhar. Queremos um Estado em que as pessoas sejam respeitadas e isso não avança com esta pauta de olhar de forma fragmentada para ele”, explicou.
Também participaram do protesto contra as medidas adotadas pelo novo governo a CUT, CSP CONLUTAS, Sintracomo, Sindsep, Sinter, Pastorais Sociais (Indigenista, Universitária e da Juventude), Diocese, Numur, Sintraima e outros sindicatos.
Terceirizados cobram salários atrasados
Enquanto movimentos sociais ocupavam a parte do Centro Cívico em frente à Assembleia Legislativa, trabalhadores terceirizados batiam panelas, seguravam faixas e gritavam na frente do Palácio Senador Hélio Campos cobrando os salários atrasados.
Verdeana Araújo disse que só sairia do local com o dinheiro em sua conta. Isso porque já não aguenta mais esperar. A trabalhadora é mãe de uma criança com necessidades especiais.
“No meu caso, são cinco meses sem receber. Não recebi décimo terceiro e o salário de férias. Eu tenho uma criança deficiente em casa, não tenho como comprar remédios nem a alimentação porque ele tem restrição alimentar. Eu preciso do meu dinheiro, todos estão aqui porque precisam e não porque querem. Até agora, só nos enrolaram, disseram que iria sair o pagamento, veio o pessoal de Brasília e nunca saiu”, afirmou.
A Secretaria de Comunicação do Estado informou que a equipe de apoio da Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz) está auditando, com prioridade, todos os contratos com empresas terceirizadas, colocando na ordem cronológica regulamentar de credores para pagamento.
Informou ainda que o pagamento está atrelado à Receita do Estado (arrecadação própria), não havendo previsão de aporte financeiro do governo federal.
Energia de qualidade também foi reivindicada
Um terceiro grupo estava no local para prestar apoio aos servidores terceirizados e para pôr em pauta outros assuntos. O empresário Max Moraes liderava o grupo e entre suas pautas estavam a energia e o parcelamento da dívida do Estado, citando como exemplo o caso da dívida do Rio de Janeiro.
“Os ministros do governo não podem vir para Roraima só para ver a questão migratória. É preciso ver a população que está desassistida e passando por uma situação precária”, declarou.
Assim como os outros dois protestos, a data, horário e local foram pensados estrategicamente para chamar a atenção dos ministros. “Para que eles vejam que o Estado não está um mar de rosas”.