O grande número de pessoas em busca de atendimento nos hospitais de Roraima chamou a atenção do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), que abriu Procedimento Preparatório para apurar a superlotação nas unidades hospitalares. A Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde considera a quantidade de pacientes vindos da Venezuela, na fronteira Norte com o Estado, como a possível causa para o aumento da demanda nos hospitais.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que estão sendo apuradas as informações solicitadas pelo MPRR quanto ao atendimento de venezuelanos nas unidades de saúde do Estado para que sejam respondidas, e que vem arcando com todas as despesas referentes aos atendimentos de saúde aos estrangeiros, sem apoio de qualquer órgão federal. De acordo com a secretaria, a demanda vem crescendo ano a ano.
No Hospital Geral de Roraima (HGR) foram registrados 324 atendimentos, 72 internações e nove óbitos de pacientes vindos do país vizinho em 2014. Já no ano passado, 536 venezuelanos receberam atendimento e 105 passaram por internação, com 17 mortes. Os números dobraram este ano, com 1.240 atendimentos contabilizados e 176 internações. O Ministério Público considera a situação do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) como a mais notável.
Os números apresentados pela Sesau indicam ainda que, na maternidade, a situação não é diferente. De janeiro a setembro deste ano, foram atendidas 552 venezuelanas e, até agosto, 309 internações cirúrgicas, com custo individual de até R$ 1.690,04 para alguns casos. “Além disso, há relatos dos funcionários da maternidade de que mães estão vindo propositalmente ao Brasil dar à luz para que o filho tenha dupla nacionalidade, para assim facilitar futuramente a entrada neste país”, diz a Sesau, em nota.
Já no HGR, de acordo com as informações, uma internação por 10 dias para tratamento de pneumonia clínica pode custar R$ 582,38. Outra unidade de saúde afetada pelo grande número de pessoas que fogem da crise econômica e social na Venezuela, em busca de tratamento de saúde no Brasil, é o Hospital Délio de Oliveira Tupinambá, em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, Norte do Estado. Até setembro deste ano a unidade atendeu 3.179 pacientes daquele país.
Por mês, o número de atendimentos de pacientes venezuelanos no HGR passou de 27 para 96. As internações saltaram de 6 para 17. O HGR registrou também um aumento de cirurgias de origem clínica e de pacientes traumáticos, com problemas ortopédicos, neurológicos e de cirurgias em geral. Quanto às mortes no hospital, a secretaria informou que o corpo fica acondicionado no Instituto Médico Legal até a resolução das questões burocráticas referentes ao traslado para a Venezuela.
A Sesau alega que a situação diante do cenário financeiro do Estado implica na falta de medicação e material médico hospitalar e no desgaste da estrutura física e de mobiliário do hospital. Outros hospitais também têm registrado aumento na demanda, como a Clínica Especializada Coronel Mota, o Centro de Referência de Saúde da Mulher, o Núcleo Estadual de Reabilitação Física, os Centros de Atenção Psicossocial, e o Centro de Cardiologia e Diagnóstico por Imagem (CCDI). (A.D).