Uma das principais ocupações espontâneas em Boa Vista, Ka’Ubanoko, foi visitada pelo Ministério Público Federal (MPF-RR). O espaço que conta com mais de 800 migrantes deve ser esvaziado durante processo de realocação de venezuelanos para abrigos da Operação Acolhida.
A visita aconteceu na última quinta-feira, 30. Participaram da reunião o procurador da República, Alisson Marugal; o assessor jurídico do MPF, Salles Neto; o defensor Público da União (DPU), Rafael Martins Liberato de Oliveira; representantes da Diocese de Roraima, e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), além das lideranças indígenas das etnias Eñepá, Kariña e Warao e das famílias “criollas” (não indígenas).
Segundo o MPF-RR, o objetivo era ouvir as demandas da comunidade e preocupações sobre o plano de realocação da Operação Acolhida, coordenada pelo Exército. Após o pedido de devolução do espaço público abandonado pelo Governo do Estado, os migrantes teriam até o dia 30 de outubro para deixar o local e serem realocados para os abrigos da Operação Acolhida.
Conforme o MPF-RR, a principal reclamação dos migrantes é que uma mudança imediata para abrigos pode desestruturar o conceito de organização social que eles já construíram em Ka’Ubanoko.
“Nossas crianças passaram muito tempo com medo do pai não voltar. De contrair o coronavírus. Aqui dentro não tivemos casos da doença. Começamos uma rotina de ensino e aprendizado. Nossos filhos estão aprendendo um com o outro. Nós só queremos um protocolo de consulta própria. Nossa relação com a terra é diferente. Precisamos de um local que respeite nossa organização social e cultural”, explicou Leany Torre, uma das lideranças indígenas warao.
O procurador, titular do ofício de defesa dos direitos indígenas, informou que a instituição e a DPU vão buscar um diálogo com a Operação Acolhida e com o Governo do Estado para para encontrar uma solução equilibrada que atenda às demandas dos imigrantes e às necessidades dos entes públicos.
“Nós fomos pegos de surpresa com essa notícia de realocação dos venezuelanos para o Jardim Floresta. No trabalho conjunto que estávamos construindo, a ideia era realizar uma ampla reestruturação da ocupação, com divisão das populações indígenas e não indígenas, fornecimento de alimentação adequada, água potável, saneamento básico, segurança, etc. O que estava contemplado em recomendação do MPF de março de 2020”, disse Madrugal.
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