42 ANOS DE HISTÓRIA

Mucajaí: a cidade que nasceu da colonização agrícola

Conhecida hoje pelo maior polo pecuário de Roraima, Mucajaí é uma das cidades também elevada a município com a Lei nº 7.009/1982

O território foi desmembrado de Boa Vista e recebeu o nome por ser atravessado pelo rio Mucajaí. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
O território foi desmembrado de Boa Vista e recebeu o nome por ser atravessado pelo rio Mucajaí. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Conhecida hoje pelo maior polo pecuário de Roraima, Mucajaí é uma das cidades também elevada a município com a Lei nº 7.009/1982. O território foi desmembrado de Boa Vista e recebeu o nome por ser atravessado pelo rio Mucajaí.

Há mais de 50 km da capital roraimense pela BR-174, Mucajaí nem sempre foi Mucajaí. A vila foi fundada em 1951 como parte de um projeto de colonização e incentivo à agricultura e recebeu o nome de Colônia Agrícola Fernando Costa, em homenagem ao ex-presidente do Brasil, que ajudou na promoção da agricultura no país.

Muitos nordestinos vieram para a Colônia a trabalho, trazendo consigo as memórias do Nordeste e a família. É o caso dos cearenses Francisco e Luiza Arraes, de 86 e 82 anos, que vieram ao Território do rio Branco por melhores condições de vida.

Luiza e Francisco Arraes, mais conhecidos como Luizinha e Chiquinho Arraes, são naturais do Ceará e escolheram Mucajaí como lar. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

“Um parente nosso falou e a gente tinha vontade de ir para um lugar que fosse melhor um pouco, pudesse trabalhar e os filhos ficassem por perto. […] Aqui [em Mucajaí] não funcionava nada, tinha uma feira e cada um era um colono, nos seus sítios. Não tinha movimento, nem para Boa Vista [porque], quando a gente chegou, não tinha estrada e a estrada de Manaus para cá era piçarra”, relembrou seu Francisco.

O casal veio para o território com sete filhos em uma viagem de ônibus, embarcação e dois dias de Manaus até Mucajaí. O oitavo filho nasceu na Colônia. Depois de se estabelecer, dona Luizinha Arraes, como é mais conhecida, foi ser professora.

“Eu tive a sorte de ganhar uma cadeira de professora para trabalhar lá na minha fazenda e eu ficava a vontade. Ensinava todos os meus vizinhos, criava meus filhos e aumentava as coisas na medida do possível. Era muito difícil a gente ir daqui até Boa Vista, mas a gente tinha um vizinho com carro que deixava ir fazer as compras e voltar”,

contou a professora.
Francisco começou plantando diversas agriculturas, depois passou para a criação de gado. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Luizinha ainda relembrou que, por conta do pequeno acesso a educação, decidiram montar um posto de saúde. No local, ela aprendeu a aplicar injeção e colher material, e seu esposo, Chiquinho, era seu secretário.

Com o passar do tempo, a tranquilidade ganhou o coração do casal, no caso de Francisco, fez casa e nunca mais o deixou com vontade de voltar para o Ceará: “quando os meus filhos já tinha as coisas deles e todos aqui, eu não senti mais vontade de ir”.

Da agricultura para a pecuária

A Colônia Fernando Costa tinha como objetivo principal a produção agrícola para abastecer Boa Vista. No entanto, diversos fatores contribuíram para a diversificação e posterior predominância da pecuária na economia local.

Um desses fatores é vasta áreas de cerrado e pastagens naturais ideais para a criação de gado, que fez o município ser, atualmente, o principal produtor pecuário de Roraima. Até o ano passado, Mucajaí registrava mais de 198 mil cabeças de gado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Espetáculo a céu aberto

Ator Eriberto Leão interpretou Jesus na 40ª edição do espetáculo A Paixão de Cristo em Mucajaí (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Falar de Mucajaí e não mencionar a Paixão de Cristo é deixar de lado um pedaço dessa história que iniciou dois anos depois da criação do município. Há 40 anos, a cidade realiza a encenação da Paixão de Cristo, que tem a maior cidade cenográfica da região Norte e é tradição nas famílias locais.

A encenação conta com mais de 200 atores, a maioria mucajaiense, e sempre realizado na Sexta-Feira Santa. Mais de 10 mil costumam assistir o espetáculo.