Os tempos mudaram e o foco na carreira, estabilidade financeira e realização de sonhos próprios passaram a ser prioridade na vida das mulheres da chamada geração X, as nascidas a partir dos anos 1960 até 1970. Com isso, muitas delas optaram pela maternidade tardia e contemplam melhor a maturidade da gravidez acima dos 40 anos.
Jaqueline Pauly tinha 42 quando descobriu que estava grávida e teve uma surpresa justamente porque tinha recebido o diagnóstico de menopausa precoce. Na época, havia parado com os anticoncepcionais e pensava que não “corria mais riscos”, mas a filha decidiu vir. Para ela, encarar a gravidez tardia não teve tantos pesos por conta da estabilidade que já tinha.
“Acredito que filhos devam vir de forma planejada. O grande alívio é que tenho um trabalho que posso continuar seguindo. Acho que a idade não seja empecilho para ter filhos e ser feliz, mas é importante uma vida estável. Financeiramente, um filho custa bastante e exige cuidados”, relatou.
Da mesma forma, o planejamento familiar, sustento próprio e a paciência para uma criança quando se tem um filho após os 40 anos, também foram determinantes para Wanda Cavalcante, que teve o terceiro filho quando completou 45.
“Tive os dois primeiros com 17 e 20. Durante 25 anos, nunca tomei anticoncepcional e não engravidava. Na menopausa, quase não menstruando mais, apareci grávida. Quando somos adolescentes, temos outras prioridades. A maturidade é diferente. Temos mais responsabilidade e somos mais esclarecidas. Educamos melhor e direcionamos melhor”, contou.
Jaqueline e Wanda não tiveram problemas de saúde na gravidez, com apenas uma relatando infecção urinária. A outra seguiu um histórico familiar de gravidez tardia, com mãe e irmãs tendo filhos acima dos 40, e sempre compreendeu melhor toda a questão da espera.
Acúmulo de funções resulta em escolhas tardias para mulheres, diz ginecologista
Conforme explicado pela ginecologista-obstetra Eugênia Moura, a idade materna elevada é motivo de preocupação, principalmente com a evolução da gestação. Em relação ao aspecto biológico, as mulheres acima de 35 anos apresentam maiores chances de serem acometidas por doenças durante o período gestacional, como hipertensão, diabetes e até anomalias fetais.
A médica aponta que no âmbito familiar, a mulher cuida da casa, do relacionamento conjugal e também da vida social, além de contribuir com o orçamento familiar, o que explica porque a maternidade e o casamento estão sendo mais tardios nos tempos atuais.
“Com as modificações, os relacionamentos também se alteram e a mulher não se vê mais obrigada a permanecer casada. Um novo casamento pode acontecer e o desejo de um filho com um novo parceiro, o que explica muitas procurarem clínicas especializadas em fertilidade”, destacou.
Médica orienta conversas com ginecologista para evitar gravidez indesejada
A ginecologista apontou que a gravidez tardia tem demonstrado ser um fenômeno mundial, e que somente em países como Estados Unidos houve um aumento de 84% na última década no número de mulheres que têm o primeiro filho acima dos 35 anos. Entretanto, ela enfatiza que há uma limitação nos estudos de casos brasileiros sobre a temática o que dificulta uma análise mais profunda desse cenário de mudança.
“É preciso ressaltar que a situação de saúde materna no Brasil é preocupante, pois mostra o grave quadro de fragilidade da assistência prestada à população. A atenção à mulher com gravidez tardia é mais uma condição a ser somada ao quadro existente”, prosseguiu.
Sobre a menopausa e a gravidez, Eugênia assegurou que não existe a possibilidade por conta da parada da capacidade reprodutiva.
“Porém no momento em que antecede a menopausa, chamado de climatério, pode ocorrer uma ovulação e gravidez, sem dúvidas, fazendo com que nesse período seja importante a utilização de métodos contraceptivos”, disse.
DICAS – A médica orienta que a mulher tem que manter a conversa em dia com o ginecologista sobre um método contraceptivo até o momento adequado. Caso haja gravidez, não negligenciar as visitas ao obstetra, considerando que se trata de uma gravidez de alto risco. (A.P.L)